segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Primeira fase do Mundial determina final entre hemisfério sul contra hemisfério norte

Depois de 40 jogos, a primeira fase da Copa do Mundo de Rugby na Nova Zelândia acabou. Foram mais de 3.200 horas de rugby de alto nível, com poucas surpresas, muitos jogos emocionantes, alguns deles épicos.

A classificação final para próxima fase colocou as seleções do Six Nations de um lado da tabela contra as seleções do futuro Four Nations (a Argentina será incluída em 2012) do outro. Isso quer dizer que equipes do hemisfério norte só enfrentaram seus adversários no hemisfério sul na grande final.

A anfitriã Nova Zelândia sobrou no Grupo A e conseguiu a incrível performance de quatro vitórias inapeláveis, conquistando a pontuação máxima em cada uma delas. Foram 36 tries, 240 pontos e uma revanche sobre o eterno pesadelo kiwi em Mundiais, a França.

A única má notícia para os neozelandeses foi o corte do abertura Daniel Carter. A notícia abalou o moral dos torcedores kiwis, que ainda lembram com temor a ausência de Carter na derrota para França e a eliminação precoce nas quartas de final no Mundial anterior.

Assim como nesse Mundial, em 2007 na França, os All Blacks também eram os favoritos para conquistar a taça Webb Ellis. A ausência de Carter naquela partida de quartas de final foi apontada pela imprensa local como um dos principais fatores para derrota e a desclassificação da equipe.

Inglaterra, Irlanda e África do Sul também estão invictas na competição e classificaram-se na primeira posição no Grupo B,C e D respectivamente. Mas os ingleses, diferente dos outros primeiros colocados, ainda estão lutando para encontrar a melhor forma. Para fúria do treinador Martin Jonhson, sua equipe está fazendo mais sucesso com escândalos nos tabloides do que dentro de campo.

Quem também anda tendo problemas extra campo é a França que classificou-se na bacia das almas com o segundo lugar no Grupo A. O grupo, entre jogadores e comissão técnica, está rachado e brigando com a imprensa. Os franceses perderam feio para os All Blacks por 37 a 17 e foram protagonistas da grande zebra dessa Copa do Mundo perdendo para Tonga por 19 a 14 na última rodada.

Aliás, Tonga e Samoa mostraram que as nações polinésias, assim como os africanos no futebol, estão chegando mais perto dos grandes medalhões. A cada Mundial a diferença técnica e tática diminui e fica mais difícil vencê-los.

Os polinésios arrancam vitórias dos grandes, porém ainda são inconstantes e perdem jogos fáceis. Samoa, por exemplo, fez uma grande partida contra África do Sul na última rodada e quase virou o jogo contra os atuais campeões do mundo, mas antes de entrar em campo já estava quase desclassificada porque acabou praticamente entregando a vitória de mão beijada para o País de Gales na segunda rodada. Da mesma forma, se Tonga tivesse um pouco mais de disciplina teria vencido o Canadá e os franceses estariam agora à bordo do avião voltando para Paris.

Além da França, os outros três classificados para as quartas de final são, Argentina, Austrália e País de Gales.

Os Pumas, como é conhecida a seleção argentina de rugby, conquistaram a segunda vaga do Grupo B de forma heroica. Depois da derrota, de certa forma injusta, para Inglaterra por 13 a 9 na estreia, passaram fácil pela Romênia e na terceira rodada enfrentaram a Escócia numa partida chave para as duas equipes.

Os argentinos ficaram atrás no placar o jogo inteiro, mas nunca entregaram os pontos e conseguiram uma virada histórica nos últimos minutos e venceram os escoceses por 13 a 12. Essa foi, com certeza, a partida mais emocionante da primeira fase.

O segundo lugar no Grupo C de certa forma não foi tão ruim para Austrália. Apesar da condição de favorita junto com os All Blacks, o técnico Robbie Deans teve que lidar com muitos jogadores lesionados.

Primeiro ficou sem o ponta Digby Ione, no mínimo, até uma possível semifinal e ainda viu o oitavo Wycliff Palu ser cortado e voltar mais cedo para Austrália.

Depois sentiu a falta tremenda que o asa David Pocock fez na derrota para Irlanda. E na última partida a falta de jogadores era tão grande que Deans chegou ao ponto improvisar o gigante Radike Samo que foi alinhado como back na partida final contra Rússia porque a Austrália tinha pelo menos cinco titulares sem condição de jogo.

A derrota para Irlanda por 15 a 6, não chega nem perto de ser uma zebra, mas além do capitão irlandês Brian O’Driscoll pouca gente apostava que a insegura Irlanda da fase de preparação para Copa do Mundo venceria essa partida.

Foi contra os australianos que o técnico da Irlanda, Declan Kidney, mostrou que sua equipe chegou no torneio com grande potência nas formações fixas, a Austrália que não pegou na bola no segundo tempo desse jogo entre as duas seleções. Na vitória de ontem contra os italianos, a Irlanda sacramentou o primeiro lugar da Irlanda a tabela do Grupo C e colocou-se na disputa direta do título do mundial.

Os irlandeses ainda mostraram uma carta na manga para vencer equipes que baseiam o jogo na velocidade das fases. Com um tackle alto, executado no limite da legalidade, os irlandeses seguram os jogadores em pé, impedindo que formem o ruck para criar uma nova fase e assim conseguem tempo de reagrupar sua defesa.

A técnica foi rapidamente incorporada por outras seleções, a África do Sul, atual campeã do mundo, abusou desse recurso para segurar Samoa na última rodada e garantir o primeiro lugar do Grupo D.

Os sul africanos cresceram durante os jogos da primeira fase. Tiveram uma partida difícil contra Gales na primeira rodada, a defesa funcionou, mas o ataque não. O placar foi apertado e a partida cheia de reviravoltas, mas souberam vencer no final, 17 a 16.

Contra Fiji (que desapontou nesse mundial) e Namíbia o time dos Springboks como são chamados pelos torcedores, acertou o tempo de ataque e consolidou ainda mais seu sistema defensivo.

Mas a África do Sul pode ter perdido uma importante arma para vencer partidas da fase eliminatória da Copa do Mundo, os chutes de Frans Stein que chegou a acertar cobranças de penalidade com mais de 60 metros de distância talvez não sejam mais vistos nesse Mundial. Com uma lesão no ombro ele é outro jogador que pode ser cortado da Copa do Mundo.

Outra equipe que conseguiu acertar um bom padrão durante o decorrer dos jogos foi Gales que ontem estraçalhou Fiji, vencendo por 66 a 0, garantindo a segunda vaga do Grupo D.

Da mesma forma que a Irlanda, os galeses chegaram para essa Copa do Mundo desacreditados depois uma temporada ruim nos jogos preparatórios, o que deixou os torcedores ainda mais receosos com a equipe que numa mesma partida alternava bons e maus momentos.

O começo da campanha de Gales também foi paradoxal. Na estreia, apesar da derrota, fizeram um bom jogo contra África do Sul e a vitória poderia ter sido de qualquer um. Na sequencia, sem muito mérito, venceram Samoa.

Na verdade, foi Samoa que perdeu esse jogo cometendo vários erros com a bola na mão e cedendo pontos para um claudicante ataque que não conseguia explorar a posse de bola.

Na terceira partida, contra a fraca Namíbia, os galeses acertaram o time e encontraram um bom ritmo de jogo. Ontem contra Fiji mostraram grandes avanços defensivos e o ataque funcionou com Rhys Priestland, Jonathan Davies e Leigh Halfpenny em grande fase. Em duas partidas Gales fez 21 trys e levou somente 1.

A Copa do Mundo chega agora na sua fase mais emocionante com as oito melhores equipes separadas entre hemisfério sul e norte, isso quer dizer que a grande final será uma espécie de tira teima entre o melhor do norte contra o melhor do sul.

Os jogos de quartas de final, no fim de semana que vem, terão todos transmissão ao vivo dos canais ESPN:

8 de outubro, 2h, em Wellington:
Irlanda x País de Gales

8 de outubro, 4h30, em Auckland:
Inglaterra x França

9 de outubro, 2h, em Wellington:
África do Sul x Austrália

9 de outubro, 4h30, em Auckland:
Nova Zelândia x Argentina