sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Uma tosca tentativa de justificar a pior contratação da história

Incríveis € 15 milhões, R$ 40 milhões à época, hoje mais de R$ 67 milhões. Uma fortuna para contar com Alexandre Pato, tendo direito a apenas 60% do valor eventualmente pago por outro clube em hipotética negociação futura. Foi esse o negócio "da China" que dirigentes do Corinthians fizeram no início de 2013.
Para que se tenha uma noção das dimensões de tais cifras, em 14 jogos disputados no estádio do clube, em Itaquera, no Campeonato Brasileiro, que lidera, a arrecadação bruta foi de R$ 25.040.409. Isso dá menos de dois terços do valor pago ao Milan pelo atacante. Uma ação megalômana pós-conquista do Mundial da Fifa.
REPRODUÇÃO
Arte apresentada pelo Corinthians quando do anúncio da contratação de Alexandre Pato
Arte apresentada pelo Corinthians quando do anúncio da contratação de Alexandre Pato
Pato sempre foi instável, com histórico de lesões, caríssimo e de perfil distante, frio até. Muito longe do estilo aguerrido que historicamente empolga os corintianos. Aguardar qualquer comportamento diferente desse não é o que se esperaria de gente em tese especializada, que foi buscá-lo em solo italiano.
A negociação fechada nos primeiros dias de 2013 vinha sendo costurada desde o ano anterior. Na época, o Diário Lance! relatou que em maio de 2012 o Corinthians já tentava contratá-lo. Era o final da temporada na qual Pato fez um só gol em 11 partidas pela Série A do Calcio. Na Champions League, cinco jogos e dois tentos.
As poucas aparições contrastavam com o melhor momento do atacante pelo Milan. Entre 2008 e 2009 foram 42 jogos e 18 gols entre Campeonato Italiano e Liga dos Campeões da Europa. Nas duas temporadas seguintes Pato fez 30 pelejas pelos dois certames em cada, praticamente o dobro de sua última época antes de se transferir.
O jogador estava em baixa quando contratado - este blog analisou este e outros negócios para alertar quanto ao risco. Mesmo assim o Milan, que em 2007 desembolsou o equivalente a € 22 milhões para tirá-lo do Internacional, conseguiu despachar Pato para o Corinthians recuperando 68% do valor investido. E ainda contou com bons momentos em seus cinco anos de Europa.
Não foi, claro, o melhor negócio já feito pelos rossoneros, mas evidentemente os italianos esfregaram as mãos de felicidade ao se depararem com a disposição dos brasileiros em ter o atacante. Tanto que nenhum clube da Europa, onde obviamente o poderio econômico é bem superior, oferecera algo próximo por Pato.
O resto da história é conhecidíssimo. O atleta se recuperou fisicamente no Corinthians, que por sinal faz excelente trabalho nesse aspecto, como evidencia a forma de Renato Augusto - conseguiu jogar apenas 11 vezes em sua última temporada pelo Bayer Leverkusen e hoje raramente desfalca o elenco do técnico Tite.
Mas os gols de Pato rareavam em atuações muito aquém do que se espera de um jogador de € 15 milhões. O cenário piorou a ponto de ser emprestado ao São Paulo. A bizarra situação apresenta o homem mais caro já contratado por um clube brasileiro no exterior defendendo um rival. E o Corinthians paga 50% dos salários.
Algum cartola terá que caprichar para fazer negócio pior. Não por acaso o presidente do Corinthians (vídeo abaixo) disse no Bate-Bola da ESPN Brasil, em junho, que reza todas as noites para encontrar quem queira comprar o atacante. Roberto de Andrade é um dos responsáveis pelo fiasco. Mas sejamos justos, não o único.
 
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Roberto de Andrade: 'Corinthians reza dia e noite para vender o Alexandre Pato'
A mesma reportagem do Lance! de 3 de janeiro de 2013 detalha: "Desde o final de 2012, os clubes retomaram as conversas. Sem motivação na Itália, o atacante decidiu-se em voltar ao Brasil e o Timão foi o local escolhido. Após uma série de reuniões entre Roberto de Andrade, Duílio (Monteiro Alves, então diretor-adjunto), Edu Gaspar e (Adriano) Galliani (dirigente do Milan) as tratativas avançaram".
Se as conversas se estenderam por tanto tempo é porque havia convicção neste grupo de dirigentes de que pagar o Pato, mesmo caro, seria bom para o Corinthians. Um cristalino erro de avaliação que custou cifras imorais aos cofres alvinegros, tempos depois incapazes de manter os salários em dia. O presidente Roberto de Andrade também falou sobre isso no Bate-Bola (abaixo), Tal fato torna o feito do elenco, ao liderar o Brasileirão, ainda mais digno. Ali ninguém "finge que joga".
 
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Roberto de Andrade: 'Qual é a diferença de dever para padaria e dever para o jogador?'
Até hoje gerente de futebol do Corinthians, Edu Gaspar, citado pelo Lance! como um dos que participaram da contratação de Pato, esteve no Bola da Vez da ESPN Brasil. Perguntado sobre as razões pelas quais o atacante fracassou no clube, o dirigente alegou que ele "não veio com aquele 'perfil corintiano'" (vídeo abaixo).
 
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Edu Gaspar diz que Pato chegou sem perfil corintiano e torce por venda do atacante
O torcedor não é obrigado a saber em qual estágio está o jogador que seu time contrata. Portanto, o alvinegro que se iludiu com a chegada do ex-milanista não tem responsabilidade alguma. Mas os dirigentes que fizeram o negócio sim. Pois cometeram um erro que custa caro à agremiação. Pior: para que ele defenda um rival!
 
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Mauro não aceita resposta de Edu sobre Pato: 'Seria mais correto admitir o péssimo negócio'
Alegar que Alexandre Pato não tinha a "perfil" de Corinthians para justificar erro de tamanha magnitude é argumento frágil e pueril. Hoje o presidente reza para aparecer quem o leve. Sonha minimizar o prejuízo. E o gerente também torce por isso. Por essas e outras deveria haver algo como uma lei de responsabilidade fiscal em todos os clubes. Como não há, eles erram e depois fazem suas orações. Amém!