segunda-feira, 23 de março de 2015

Lutadores salvam possível noite morna e Maracanãzinho recebe bons combates no UFC Rio 6

O UFC Rio deste sábado foi um dos menos aguardados da história do evento no Brasil. Isso porque, além de já não contar com nomes de peso como em outras passagens do show por aqui, as baixas de Raphael Assunção vs Urijah Faber, além de Ben Saunders e Josh Thomson, presenças que saíram por lesões, esfriaram de vez o ânimo dos fãs.
Mas o evento foi bem melhor do que se esperava. Boas lutas, nocautes, finalizações, viradas. São ingredientes básicos e necessários em um show sem estrelas, mas que pode levantar o público.
Coube a Demian Maia e Erick Silva encabeçarem o card.
GETTY
Demian se 'explicou' por seca de quase três anos sem finalizações
Demian venceu LaFlare na luta principal da noite
Demian passou por maus bocados em 2014. Sofreu de uma infecção perigosa no ombro, lidou com medicamentos pesados e, em certa ocasião, temeu até por uma doença mais grave. Neste sábado, teve em Ryan LaFlare um bom adversário para seu retorno.
Nos quatro primeiros rounds, Demian mostrou seu já elogiado jogo de quedas e um chão refinado. A finalização não veio, fato que credito a falta de agressividade no chão do faixa-preta, que buscava mais a troca de posições para chegar a uma finalização do que agredir o oponente e miná-lo. Demian é um Às do Jiu-Jitsu e é considerado por muitos o melhor representante da Arte Suave no MMA. Esta busca de finalizações, no entanto, acabou lhe prejudicando. Uma maior agressividade poderia facilitar todo o processo, seja pra acabar em um nocaute técnico ou abrindo caminho para uma finalização. Tive a impressão, inclusive, de uma certa falta de confiança de Demian em um determinado momento, quando aplicou um kata-gatame. Ele manteve-se montado ao invés de passar para a lateral de seu adversário, posição comum para quem aplica aquela técnica. Não sei exatamente se foi este o caso, o de temer perder a montada, ou se dali mesmo ele se sente confiante para finalizar. O último round, de fato, apresentou o brasileiro mais cansado e sem o mesmo ímpeto, deixando a torcida apreensiva naqueles cinco minutos finais. LaFlare tentou se aproveitar disso, mas não obteve êxito.
A vitória, merecida, coroou o retorno de Demian. Dali, devem ser observadas as virtudes de sua atuação e corrigidas as deficiências. Se o brasileiro tem ou não condições de ter uma nova chance pelo título no futuro, só o tempo vai dizer, mas certamente ele voltou pro jogo.
REPRODUÇÃO/TWITTER
Erick Silva atropelou Josh Koscheck em mais uma finalização brasileira no UFC Rio
Erick Silva atropelou Josh Koscheck no UFC Rio
Quem também pode alçar voos maiores depois da noite de ontem é Erick Silva. O lutador capixaba teria um duríssimo Ben Saunders pela frente, mas seu adversário acabou se machucando e foi trocado pelo experiente Josh Koscheck. Veterano do TUF 1, o americano vinha em péssima fase com quatro derrotas seguidas. Todas elas diante de tops da categoria, sendo que uma foi bem questionada (contra Johny Hendricks). KOS aceitou a luta com Erick em cima da hora com a clara intenção de se recuperar contra o talentoso lutador brasileiro. Isto ficou ainda mais claro nos minutos iniciais da luta, quando Josh partiu pra trocação franca. Com o ritmo forte e os bons golpes de Erick, Koscheck acabou sentindo a pressão e passou a tentar seu tradicional jogo de quedas. O brasileiro lidou bem com a situação e acabou finalizando com uma guilhotina.
Ainda que Josh Koscheck esteja longe de seus melhores dias, como quando desafiou Georges St Pierre pelo cinturão, a vitória de Erick foi muito boa. Pela primeira vez, conseguiu dois triunfos consecutivos na organização. Isso deve lhe render mais tranquilidade e confiança, e adversários mais duros no futuro. Aí sim, veremos até onde pode chegar na organização.
Como já ressaltei, o evento contou com boas lutas e surpreendeu a todos que esperavam uma noite morna. Destaque ainda para a boa atuação do estreante Alex Cowboy, que entrou de última hora no duelo contra Gilbert Durinho e complicou a vida do parceiro de Vitor Belfort. O Jiu-Jitsu salvou e foi a arma utilizada para Durinho sair vencedor. Cowboy foi injustiçado ao fim do show por não receber o prêmio de luta da noite, que certamente coroaria sua estreia no evento. Bola fora de Dana White e cia, que não reconheceram a dureza pela qual ele passou até chegar ali e proporcionar uma grande luta.
A quantidade excessiva de eventos do UFC em todo o mundo, inclusive no Brasil, causa até uma indiferença dos fãs em algumas ocasiões, mesmo quando a organização desembarca em cidades como o Rio de Janeiro, um verdadeiro berço do esporte. A temida saturação de shows de vez em quando provoca isso. Vale sempre ficar de olho neste caso e não trocar qualidade por quantidade.
A sorte é que, ontem, os lutadores fizeram sua parte, e duvido que alguém no Maracanãzinho tenha saído com qualquer arrependimento de ter ido até lá.
Mas é bom o UFC pensar nesse assunto.