sábado, 10 de janeiro de 2015

A incrível história de Serge Ibaka: da Guerra Civil do Congo à NBA

GETTY IMAGES
Serge Ibaka faz ótima temporada pelo Oklahoma City Thunder
Serge Ibaka faz ótima temporada pelo Oklahoma City Thunder
Existem muitos casos na sociedade de pessoas que saem da pobreza para a riqueza e esquecem as próprias origens. Por isso a história de Serge Ibaka, pivô do Oklahoma City Thunder, narrada em ótimo perfil escrito por Adan Fingman e publicado na revista Slam deste mês, merece ser contada e valorizada.
Aos 25 anos, o jogador é um dos melhores defensores da liga e apresenta nesta temporada, sua sexta nos Estados Unidos, números muito sólidos: 14.3 pontos, 7.3 rebotes, 2.4 tocos e 47.1% de aproveitamento nos arremessos. Na prática, apesar da campanha ainda oscilante do Thunder por conta dos problemas de Russel Westbrook e Kevin Durant, é o melhor momento de Ibaka na NBA.
Quem vê hoje em dia o atleta de 25 anos e 2m08 em quadra, nem imagina tudo que ele sofreu em seu país natal. Nascido em Brazzaville, capital da República do Congo, Ibaka é mais um entre tantos milhões de filhos de guerras espalhados pelo planeta.
Quando tinha sete anos, enquanto as crianças nos Estados Unidos assistiam Michael Jordan marcar 38 pontos, pegar 13 rebotes e dar nove assistências no Jogo 2 das finais da NBA, no dia seguinte Serge Ibaka acompanhava o início da Guerra Civil do Congo, em 5 de junho de 1997, que provocou a morte de quase 40 mil pessoas.
A mãe de Ibaka faleceu pouco depois do início dos conflitos e ele e seus 17 irmãos e irmãs, junto com o pai Desire, se mudaram para a pequena cidade de Ouésso, no interior do Congo, para fugir da guerra. Nesse período, o agora jogador do Oklahoma City Thunder sofreu com a falta de água na região e comida extremamente escassa.
Em 2002 a família Ibaka retornou a Brazzaville. Desire recuperou o trabalho que tinha no porto localizado no Rio Congo, mas acabou preso pela polícia. Serge voltou a ver o pai apenas seis meses depois, e nunca soube se ele estava vivo na prisão.
A importância do pai de Serge Ibaka em sua carreira como jogador de basquete é enorme. Atleta amador quando jovem, Desire levou o filho a uma quadra pela primeira vez e o ensinou a jogar. Para homenageá-lo, Serge decidiu usar o mesmo número do pai às costas, o 9, quando começou a atuar pelo Avenir du Rail, na capital, aos 16 anos.
O talento e o dom para jogar foram rapidamente notados. No ano seguinte já estava na França e alguns meses depois jogando profissionalmente na Espanha. A partir daí a evolução foi questão de tempo, passando por L'Hospitalet e Ricoh Manresa, antes de desembarcar na NBA em 2009, após ser selecionado como 24a escolha do Draft de 2008.
Toda essa história já merece atenção especial, mas não para por aí. No verão norte-americano, o pivô sempre retorna ao Congo. Não apenas para rever os familiares e amigos, e sim por um motivo muito especial.
Serge Ibaka trabalha com a Unicef e diversas entidades não-governamentais para ajudar as crianças congolesas. Na última vez que esteve no Congo, de acordo com a matéria da Slam, que ouviu diversas pessoas em Brazzaville, ele foi até um campo de refugiados. Ao chegar no local, constatou que não havia comida para todas as pessoas e muito menos água potável. A quantia não foi revelada, mas Ibaka bancou a compra de tudo que faltava.
Entre as entidades com as quais colabora, o jogador do Oklahoma atua com a Starkey Hearing Foundation para levar aparelhos auditivos a crianças que perderam parte da audição por conta de minas terrestres e granadas. Realidade dura e real no continente africano.
Recentemente ele constituiu sua própria entidade, a Serge Ibaka Foundation, para coordenar melhor sua ajuda. Uma de suas últimas ações foi reformar a quadra de basquete onde começou. Onde está sua origem.