sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Semelhanças e diferenças entre o Corinthians de Tite e o de Mano Menezes

Antes de qualquer análise sobre times brasileiros em janeiro, é preciso relativizar lembrando que estes deveriam estar em pré-temporada e fazendo amistosos. Sem pressão por resultados nos estaduais que cada vez parecem mais desnecessários no esdrúxulo calendário nacional.
Gazeta Press
Mano Menezes durante jogo do Corinthians contra o Paulista de Jundiaí
Mano Menezes durante jogo do Corinthians contra o Paulista de Jundiaí
Com isso, o cuidado para avaliar qualquer equipe coletivamente deve ser ainda maior. Dentre as grandes, a que já permite algumas observações táticas é o Corinthians de Mano Menezes.
Após os 2 a 1 na estreia contra a Portuguesa, o treinador corrigiu uma pergunta na coletiva afirmando que seu time atuara no 4-4-2, com Romarinho mais próximo de Guerrero. De fato, o camisa 31 apareceu constantemente na área adversária e marcou o primeiro gol do Corinthians na temporada 2014. A dinâmica, porém, é de meia central em um 4-2-3-1. Até pela troca de posições com Danilo e, principalmente, Rodriguinho.

No triunfo sobre o Paulista de Jundiaí em Americana isto ficou ainda mais claro. Talvez por conta do 4-3-1-2 do time do técnico Giba, com Dinélson como meia de ligação. Para evitar a inferioridade numérica no meio-campo, Romarinho participou mais na recomposição e também na articulação. Muitas vezes aprofundando pelo flanco e deixando a criação no centro para Rodriguinho.
Reprodução TV Band
Flagrante do Corinthians no contragolpe com Romarinho alinhado a Rodriguinho e Danilo, atrás de Guerrero. Na prática, o Corinthians joga no 4-2-3-1.
Flagrante do Corinthians no contragolpe com Romarinho alinhado a Rodriguinho e Danilo, atrás de Guerrero. Na prática, o Corinthians joga no 4-2-3-1.
O desenho tático, ao menos na prática, é semelhante ao de Tite. E, ao contrário do time de Mano em 2009, não tem a figura do meia criativo que distribui e facilita o jogo. Quase cinco anos mais velho, Douglas ficou no banco e lá permaneceu.
Enquanto Renato Augusto não retorna, o time segue mais "duro", sem tanta fluência nem o passe "de morte" de um típico camisa dez. Cria mais pelos lados, com o apoio de Diego Macedo e Uendel. Não por acaso marcou três gols em jogadas aéreas até aqui. O último de Guerrero que garantiu o início no Paulista com duas vitórias. Avante peruano que fica mais fixo entre os zagueiros como referência, pronto para concluir ou preparar para quem chega de trás.
A equipe de Mano retoma a pressão no campo adversário, mas alterna com o combate na própria intermediária. Até pela impossibilidade física de manter o "abafa" com o calor do verão e os dias a menos de preparação. Também compacta as linhas, aproxima os setores.
Porém arrisca um pouco mais. Com Tite, o Corinthians avançava se precavendo do contragolpe rival, guardando o posicionamento defensivo. O time atual se mostra mais destemido na ocupação do campo de ataque. Em Americana, teve 59% de posse de bola e finalizou 17 vezes - sete na direção da meta. Na estreia foram 20 conclusões. Bem superior à média de 11 por jogo no último Brasileiro.
Guilherme é peça fundamental nesta proposta, qualificando a saída de bola com bons passes e lançamentos, e ainda se juntando ao quarteto ofensivo. Ralf segue na proteção da defesa que tem Gil soberano na cobertura e protegendo um Paulo André ainda hesitante. Necessário pelo ímpeto ofensivo dos laterais que deve aumentar com a chegada de Fágner, ex-Vasco.
Assim como Tite, Mano não é adepto da cada vez mais comum saída de três: dois zagueiros abrem e um volante recua para comandar o toque desde a defesa, projetando os laterais. O time faz a transição ofensiva em bloco, sem a preocupação de espaçar a marcação do rival.
Olho Tático
Sem meia central criativo, Corinthians ataca pelos flancos com apoio dos laterais. Romarinho precisou voltar mais no meio contra o 4-3-1-2 do Paulista
Sem meia central criativo, Corinthians ataca pelos flancos com apoio dos laterais. Romarinho precisou voltar mais no meio contra o 4-3-1-2 do Paulista
E Pato? Entrou mais uma vez, assim como Emerson e Felipe - este na vaga do lesionado Uendel. E novamente pouco apareceu. Sheik foi mais participativo e fez o cruzamento para o gol de Guerrero. O camisa sete começou mais centralizado, mas com a vantagem no placar passou a ocupar o lado direito, voltando com o lateral.
Comportamento que Mano não espera dele. Pensa em utilizá-lo mais centralizado, na função de Romarinho. No entanto, pelo menos neste início de temporada, Pato segue o mesmo de 2013: disperso, acomodado, sem "fome". Se com o passional e "italiano" Tite ele já teve poucas chances, o futuro com Mano, mais "alemão" e duro nas cobranças, parece ser mesmo a reserva.
Ainda assim, as perspectivas são boas. O elenco está mais homogêneo com os reforços e ainda há a possibilidade de usar alguns garotos do time finalista da Copa SP, como Malcolm e Zé Paulo. Sem contar a volta de Cássio à meta. Mano Menezes terá o Paulista para testar alternativas e aprimorar o conjunto. Os três gols em dois jogos não são números notáveis, mas animam se comparados com a indigência do ataque em 2013. Mesmo considerando as fragilidades dos adversários até aqui.
Olho Tático
Uma formação possível, com a entrada de Fágner e o retorno de Cássio e Renato Augusto: mesma estrutura, mais qualidade.
Uma formação possível, com a entrada de Fágner e o retorno de Cássio e Renato Augusto: mesma estrutura, mais qualidade.
A manutenção da base e de alguns princípios de jogo de Tite podem contribuir com o entrosamento. Mas o Corinthians precisa fazer diferente no ano que começa promissor.