sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O 1º na artilharia, nos comentários e na imagem: há dez anos morria Leônidas, o craque-pioneiro do futebol brasileiro

Getty
Leônidas da Silva (à esq) em ação na Copa do Mundo de 1938 contra a Suécia: pioneiro
Leônidas da Silva (à esq) em ação na Copa do Mundo de 1938 contra a Suécia: pioneiro
Único brasileiro a marcar gol na Copa do Mundo de 1934. Primeiro brasileiro a ser artilheiro de um Mundial, em 1938. Primeiro atleta nacional a receber dinheiro por marketing. Provavelmente o primeiro ex-jogador a se tornar um comentarista de sucesso. O responsável por popularizar a bicicleta no Brasil. O primeiro craque brasileiro antes de Pelé. Enfim, o primeiro em tudo.
Há exatos dez anos, no dia 24 de janeiro de 2004, Leônidas da Silva morria em uma clínica para idosos na Granja Vianna, em Cotia (SP). Tinha 90 anos e lutava contra pneumonia, diabetes, câncer de próstata e mal de Alzheimer. Como legado, deixou o pioneirismo em várias frentes no nosso futebol.
O pontapé para tudo isso foi em um palco que o Brasil viu vários craques brilharem: uma Copa do Mundo. Em 1938, Leônidas marcou oito gols no Mundial, segundo os franceses: quatro contra a Polônia, dois contra a Suécia e mais quatro contra a Tchecoslováquia - a Fifa, mais tarde, contabilizaria três tentos contra os tchecos.
O sucesso foi imediato. O Brasil, que terminou em terceiro naquele Mundial vencido pela Itália, entrou no rol das seleções que os europeus passaram a olhar com carinho. Culpa de Leônidas. Com facilidade para saltar e alcançar a bola, foi apelidado de Homem-Borracha.
Ninguém na época viu os gols do jogador. Mas a fama atravessou o Atlântico. Todos queriam ver Leônidas. E até se aproveitar de sua fama. A Lacta fez uma proposta: 2 contos de réis para utilizar o apelido do jogador, Diamante Negro, para batizar um chocolate. Pedido aceito. Mais tarde, o craque ainda virou nome de relógio e de marca de cigarro.
Seria ainda o primeiro jogador brasileiro a ter um gestor de imagem, conforme afirmou André Ribeiro, seu biógrafo, em entrevista à Folha de S. Paulo no último ano.
Leônidas ainda seria protagonista da maior transferência entre clubes brasileiros na época. Em 1942, após brigar com o Flamengo, ele foi vendido por 200 contos de réis ao São Paulo (cerca de R$ 200 mil). No time paulista, além de fazer sucesso e se tornar um dos grandes jogadores da história do clube, foi treinador. Não foi tão bem.
Abandonou a carreira de técnico e foi convidado por Paulo Machado de Carvalho, uma pessoa importante e influente em sua carreira, para atuar como comentarista de rádio. Aceitou e aprendeu bem o novo ofício. Mais tarde, ganharia sete troféus Roquette Pinto - um dos grandes prêmios do jornalismo esportivo - pela função. Na década de 70, diagnosticado com Alzheimer, abandonou a profissão.
Número um no marketing, na artilharia em Copas e como ex-jogador-comentarista. A dúvida que restou na sua carreira foi a comparação com Pelé: quem era melhor? O próprio Diamante Negro respondeu. "A diferença entre eu e o Pelé? Eu fui craque. E ele é gênio."
Seria Leônidas o pioneiro em humildade entre os craques brasileiros também?