quinta-feira, 23 de maio de 2013

O mago de Údine

Começo de temporada na Udinese é sempre igual. O técnico Francesco Guidolin cola no vestiário um cartaz com o número 40. A quantidade de pontos considerada segura para o time escapar do rebaixamento. "Ele estará sempre ali. Quem chega deve saber disso. Não somos um time grande", avisa o treinador em entrevista à Gazzetta dello Sport.

Nas últimas três temporadas (de 2010/11 a 2012/13), a Udinese de Guidolin conseguiu 66, 64 e 66 pontos. Quarta, terceira e quinta colocada. Sempre classificada para as competições europeias. Pequenos milagres do técnico de 57 anos, à frente de um elenco em constante transformação. A Udinese se mantém competitiva graças à capacidade de descobrir talentos e colocá-los no mercado.

A Udinese pagou pouco e conseguiu vendas por bons valores nas negociações de jogadores como Zapata, Alexis Sánchez, Handanovic, Inler, Isla e Asamoah nas últimas temporadas. Poderia ceder à tentação de competir por jogadores de nome, mas não o fez. Segue em sua tática de garimpar. América do Sul e o leste europeu são ótimas fontes de reforços para o clube. O meia polonês Piotr Zielinski, 19 anos, é a próxima joia pronta a explodir.

Evidentemente, nem todas as apostas funcionam, mas o aproveitamento tem sido acima da média. Basta ver os jogadores brasileiros contratados nos últimos anos. Danilo, ex-Palmeiras, é peça fundamental da defesa que sofreu apenas 19 gols no segundo turno. Outro ex-alviverde, o ala Gabriel Silva, ganhou espaço após a saída de Armero e fechou a campanha como titular.

O volante Allan, ex-Vasco, chegou discretamente e se tornou titular absoluto, terminando a temporada como o jogador da Udinese com mais minutos em campo na Serie A. Willians decepcionou e foi liberado em janeiro, voltando ao Brasil para jogar no Internacional, enquanto Maicosuel, marcado pela cavadinha no pênalti perdido pelo play-off da Champions contra o Braga, alternou-se entre banco e campo sem brilho.

A derrota que impediu, pelo segundo ano consecutivo, que a Udinese disputasse a fase nobre do principal torneio europeu chegou a causar dúvidas em Guidolin, que pensou em abandonar o barco. "Estive muito próximo de pedir demissão. Mas resisti e em dois dias passou tudo", conta.

Talvez por se lembrar que o clube esteve ao seu lado quando seria fácil demiti-lo. Em 2010/11, com apenas um ponto nas primeiras cinco rodadas, o treinador ganhou um voto de confiança e iniciou a campanha de recuperação que levou ao quarto lugar, quando a posição ainda servia na Itália para levar à Champions.

Naturalmente, é impossível falar do que a Udinese alcançou nos últimos anos sem uma menção especial a Antonio Di Natale. O homem que disse "não, obrigado" à Juventus em 2010 sem se arrepender. Nas últimas quatro temporadas, sempre passou a barreira dos 20 gols na Serie A, algo que somente seis jogadores haviam conseguido na história - Batistuta o mais recente, de 1997/98 a 2000/01.

Di Natale conseguiu o feito de fazer Údine sonhar como ninguém fazia desde Zico. Aos 35 anos, e no clube desde 2004, provavelmente disputará em bianconero suas últimas temporadas como profissional.

Guidolin também pensa em ficar. Tem planos ambiciosos, como desafiar a cultura do futebol italiano para se transformar em um "Ferguson" da Udinese. "Difícil, mas em Údine é possível. Espero que a Udinese seja o primeiro caso", conta. Mas admite que uma nova experiência fora da Itália, depois de ter dirigido o Monaco, pode seduzi-lo: "Na Itália só trabalharei aqui. Deixo uma portinha aberta para o exterior".

Enquanto isso, o clube cresce sob a direção da família Pozzo, que alarga seus tentáculos pela Europa. Os outros clubes de propriedade dos Pozzo vão bem. O Granada se mantém na primeira divisão espanhola e o Watford disputará a final do acesso à Premier League. Ambos com jogadores cedidos pela Udinese, que usa seus "satélites" para amadurecê-los.

Tudo desenhado para Guidolin seguir em seu ótimo trabalho e ainda ajudar seus empregadores a lucrar. Sem deixar de pensar nos 40 pontos