segunda-feira, 28 de maio de 2012

LONDRES 2012: Aventuras olímpicas de um lobo solitário

Após uma semana em Londres farejando aqui e ali, vamos, de agora em diante, fungar no cangote dos preparativos do maior espetáculo do esporte. Faltam apenas dois meses para o pontapé inicial no estádio olímpico. Então, dê licença porque o lobo tem muita fome! E tem a língua afiada para contar historias.

Vamos andar pelos parques – o que não falta aqui é parque, verdinho, com muita árvore e sombra à vontade, mas com pouca água fresca --; assistir aos festivais de música (em maio, junho e julho é show para todo lado, inclusive com uma brasileirada boa de serviço como Marcelo D2, Crioulo, Emicida, Gil, Melodia, Martnália); tomar umas e outras nos pubs; acompanhar a Eurocopa e Roland Garros pela tevê; curtir a nova culinária do pedaço (como eles melhoraram!); aprender inglês lendo o The Guardian e assistindo ao noticiário e documentários da BBC. E sair por aí, noite e dia afora, uivando de alegria por estar aqui junto aos filhos e as netas. Para quem nasceu no Méier, como o Millor, e para quem não estudou, como diria Ricardo Kotscho, está de bom tamanho, não é mesmo?

É importante dizer que a Londres que recebeu o lobo solitário aparentemente de braços abertos não é a capital inglesa em que os londrinos vivem durante grande parte do ano. Isso porque faz sol todos os dias, não chove – há, inclusive, racionamento de água – e todo mundo anda mais feliz com a vida. Não de caniço e samburá, mas de calção, tênis, camiseta e filtro solar. Os parques estão sempre lotados de gente até às oito e meia, quando a noite dá boa noite. O que passa uma sensação de que todos ( homens, mulheres, crianças, velhos, bêbados, mendigos, turistas, com bicicletas e cães ou não) abandonaram suas casas para aproveitar o dia nos parques. E que só sairão dali a força ou quando a noite chegar. O que não é tão verdade assim...

Porque há, sim, muita gente pegando no batente, em muitas obras nas ruas, calçadas, e em estações de metrô. Camden Town, bairro predileto e onde moro, vive um caos, principalmente nos acessos próximos ao metrô. A inglesada corre para que tudo fique pronto a tempo. Faltam dois meses e eles querem deixar tudo nos trinques. Mas, pelo que você ouve aqui e ali, os organizadores terão problemas com os transportes.

Se os mais de meio milhão de turistas, que virão para cá durante os 17 dias de competição, decidirem ir ao mesmo tempo ao Parque Olímpico, em Stratford, leste da cidade, vai ser um arranca-rabo. Por mais que milhares de viagens extras de metrô, ônibus e trem estejam sendo planejadas, por mais que muitas empresas tenham antecipado as férias de verão, por mais que campanhas de esclarecimento sejam exibidas, principalmente nas principais linhas de metrô da cidade, como Central Line e Jubilee, o vai-e-vem para Stratford não será fácil. É esperar para ver.

Vamos virar a página porque o borogodó da semana é outro e erá assim até a quarta-feira da próxima. Pela primeira e última vez, desde que a capital londrina foi escolhida sede pela terceira vez na história, em 2005, um assunto maior se “alevanta” e põe as Olimpíadas no chinelo.

É que a rainha Elisabeth II comemora jubileu de diamante – 60 anos de reinado – e o alvoroço é geral. É assunto em todos os jornais, sites e emissoras de televisão. As lojas expõem lápis, canetas, brincos, brinquedos, toalhas, camisetas, bolas, livros, revistas, tudo o que é possível faturar com a data. A partir de sábado, haverá extensa, caríssima e sofisticada programação, e o ponto alto é no domingo, quando milhares de embarcações de todos os tamanhos e cores seguirão o barco real pelo rio Tâmisa ao som de orquestras, sinfônicas, filarmônicas, grupos de rock e de dança, cantores de ópera, tudo evidentemente ao vivo e com o povão assistindo as margens do extenso rio que cruza a cidade ou pela televisão.

Mas, ao contrário do que se imagina no Brasil, nem todo mundo, aqui, acha a rainha e a gente do palácio de Buckinghan uma gracinha. Há os republicanos. Sim, há ingleses republicanos e segundo pesquisa recente já são 22 por cento da população inglesa. Eles também preparam-se para a festança. Como fizeram em 1977, quando a rainha comemorou o jubileu de prata, e juntos com o pessoal do grupo Sex Pistols fizeram uma versão irreverente e para lá de sacana sobre a rainha, sairão às ruas com cartazes sobre a gastança e com slogans como “poder para o povo” e “ 9560 enfermeiras ou 1 rainha?”

A semana promete. Sábado, a seleção inglesa de Roy Rodgson, que se prepara para a Eurocopa e que venceu na estreia do treinador a Noruega por 1 a 0, enfrenta a Bélgica em Wembley, partida experimental para a Fifa testar equipamentos eletrônicos chamados aqui de “ olhos de águia” para saber se a bola entrou ou não. A dupla de ataque Ashley Young e Carroll agradou, mas é só Rooney acabar a suspensão de três jogos, que a brincadeira dos dois termina.

Antes de o velho lobo sair por aí farejando mais historias, uma penultima uivada: nas lojas de apostas paga-se o óbvio. Espanha, favorita, 5 para 2, depois vêm Alemanha, Holanda e França. Inglaterra e Itália estão mais por baixo do que a rainha do jubileu na boca dos republicanos, pagam 12 por 1. No tênis, Nadal paga 7 por 1, seguido por Djokovic e Federer. Nada de anormal.

Só mais uma ou duas: quem quiser noticias do campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil , da Libertadores ou mesmo da seleção brasileira nos jornais ou sites ingleses vai ficar chupando dedo. Em compensação, o confronto de críquete entre Inglaterra e Indias Ocidentais tem serviço para lá de completo. Desconfio que os ingleses ganharam de 428 a 370.

Ah! a tocha olímpica entrou no seu 10º dia de peregrinação pelo Reino Unido. Atravessa agora o País de Gales debaixo de uma série de críticas. É só pagar para segurar a tocha e sair por aí. É a tocha da mãe Joana. Até a próxima.