terça-feira, 29 de maio de 2012

Euro 2012: Inglaterra cheira a fracasso, mas desta vez sabe disso

Entre as seleções europeias que já conquistaram a Copa do Mundo, a Inglaterra é a única a não ter um título de Eurocopa no currículo. Depois do vexame de não se classificar para a edição de 2008, pelo menos a equipe conquistou a vaga desta vez. Mas, a julgar pelos rumos da preparação, as esperanças de um título inédito são diminutas. E os torcedores, que normalmente exageram nas expectativas, desta vez não se iludem sobre as chances.

Em 2010, os ingleses caíram nas oitavas-de-final da Copa do Mundo com uma goleada de 4 a 1 para a Alemanha, após uma série de más atuações. Mesmo assim, Fabio Capello ficou em seu lucrativo cargo e conquistou a vaga na Euro 2012 com certa tranquilidade, até a crise em torno de John Terry levar à sua saída em fevereiro deste ano.

Capello não gostou da interferência da federação inglesa, que retirou Terry do posto de capitão por causa do julgamento a que será submetido após a Eurocopa por uma acusação de racismo contra Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers.

Quando todos imaginavam que o escolhido seria Harry Redknapp, do Tottenham, a opção da FA foi o rodado Roy Hodgson, técnico do West Bromwich. Ele foi nomeado para o cargo no início de maio, pouco mais de um mês antes da estreia da Eurocopa, mas com um contrato de quatro anos.

Hodgson terá a missão de montar um time sem o principal jogador, Wayne Rooney, suspenso por duas partidas após chutar por trás um jogador de Montenegro nas eliminatórias. Na convocação, ele deixou Rio Ferdinand de fora, justificando "razões técnicas", mas claramente evitando a parceria do zagueiro do Manchester United com o jogador acusado de uma ofensa racial contra seu irmão.

Sem Rooney, o treinador terá de escolher sua referência ofensiva entre Defoe, Welbeck e Carroll, sendo que os dois últimos têm pouca experiência na seleção. No meio-campo, apesar dos nomes de sempre, como Lampard e Gerrard, duas ausências serão sentidas: Jack Wilshere, que perdeu praticamente toda a temporada por lesão, e Gareth Barry, contundido no amistoso com a Noruega.

Depois de enfrentar França e Suécia nas duas primeiras rodadas, pode ser tarde demais para que Rooney ajude o time a se classificar contra a Ucrânia, na última rodada. Se passar da fase de grupos, o que vier é lucro. Chegar às semifinais já igualaria as melhores campanhas inglesas na história, em 1968, quando apenas quatro seleções jogavam a fase final, e 1996, quando foram anfitriões.

Fique de olho - Em uma seleção repleta de dúvidas, uma das raras certezas, por incrível que pareça, está no gol. Joe Hart chegou para ser o primeiro camisa 1 indiscutível do English Team em algum tempo. Aos 25 anos, Hart vem de uma temporada como protagonista, ajudando o Manchester City a conquistar o campeonato depois de 44 temporadas.

Revelado pelo Shrewsbury, Hart disputava a quarta divisão inglesa e defendia a seleção inglesa sub-19 quando chamou a atenção do City, transferindo-se para lá em 2006. Nos primeiros anos, foi emprestado a times menores para ganhar experiência. Chegou a ser titular durante a temporada 2008/09 com Sven-Goran Eriksson, mas a chegada do irlandês Shay Given tirou seu espaço.

Emprestado ao Birmingham para 2009/10, fez uma temporada espetacular, entrando na seleção do ano da Premier League e sendo indicado a melhor jogador jovem. De volta ao City, foi nomeado titular por Roberto Mancini, à frente de Given, e nunca mais perdeu a posição.

Pré-convocado por Capello para o Mundial da África do Sul, acabou preterido na lista definitiva, e viu de longe enquanto Green, hoje seu reserva na seleção, engolir um frango histórico contra os Estados Unidos. No pós-Copa, assumiu a titularidade da seleção e tem mantido o posto com ótimas atuações.

O comandante - A escolha de Roy Hodgson para a seleção inglesa foi recebida com desconfiança e até alguma contestação da imprensa inglesa. O técnico de 64 anos sabe, porém, que o mesmo aconteceria com qualquer treinador diferente de Harry Redknapp, que era considerado por muitos candidato único ao cargo.

As experiências em ambientes de forte exigência dão alguma razão para o descrédito. Uma passagem pela Internazionale nos anos 90 e outra mais recente pelo Liverpool não foram exatamente um sucesso. Em contrapartida, ele levou o Fulham à final da Liga Europa em 2010 e estabeleceu o normalmente rebaixável West Brom no meio da tabela da Premier League.

Mediano em seu tempo de jogador, Hodgson é um cigano do futebol. Trabalhou como técnico em oito países, incluindo três seleções: Suíça, Finlândia e Emirados Árabes. Com os suíços, chegou às oitavas-de-final da Copa do Mundo de 1994, e com os finlandeses passou perto de uma histórica classificação para a Euro 2008.

Considerando que a Inglaterra, na realidade atual do futebol de seleções, não representa algo muito maior que o Fulham para a Premier League, pode até dar certo.

Os convocados:

Goleiros: Joe Hart (Manchester City), Robert Green (West Ham), Jack Butland (Birmingham);

Defensores: Ashley Cole (Chelsea), John Terry (Chelsea), Phil Jagielka (Everton), Glen Johnson (Liverpool), Phil Jones (Manchester United), Leighton Baines (Everton), Joleon Lescott (Manchester City), Gary Cahill (Chelsea);

Meio-campistas: Steven Gerrard (Liverpool), Frank Lampard (Chelsea), Scott Parker (Tottenham), James Milner (Manchester City), Stewart Downing (Liverpool), Theo Walcott (Arsenal), Alex Oxlade-Chamberlain (Arsenal), Ashley Young (Manchester United);

Atacantes: Wayne Rooney (Manchester United), Danny Welbeck (Manchester United), Andy Carroll (Liverpool), Jermain Defoe (Tottenham).

Ouça as partidas da Eurocopa a partir do dia 8 de junho pela Rádio Estadão/ESPN, e acompanhe diariamente o Fora de Jogo especial na ESPN e ESPN HD.