terça-feira, 17 de abril de 2012

Merecer ou não merecer, não é bem a questão

Como estamos cansados de saber, o Flamengo é o único time brasileiro já eliminado da Libertadores. Pior para o Flamengo? Não, pior para todos nós, que gostamos de futebol. A presença do Flamengo na fase de mata-mata daria mais vida, mais força, à briga pelo título, inclusive nos confrontos entre times brasileiros. Não que o Flamengo merecesse ir tão longe. Sequer mereceu chegar às oitavas de final. O que o Flamengo não merecia eram aqueles cinco minutos em que foi escrito o derradeiro capítulo de sua história na tristemente (para sua torcida) inesquecível participação na Libertadores deste ano.

É verdade que merecimento pouco conta em futebol. A vitória é de quem faz mais gol e não de quem joga melhor. Injusto que possa ser - e realmente é em várias ocasiões - o futebol é assim. Está nisso um de seus fascínios: para vencer, não basta jogar bem, nem ter mais raça, nem contar com a maior torcida, muito menos merecer. O que, é preciso deixar claro, não foi o caso do Flamengo. Seu time não jogou bem, teve pouca raça, foi vaiado pela torcida e, no balanço dos seis jogos da chamada fase de grupos, não mereceu.

Tudo isso, ou melhor, esse olhar para trás é apenas um motivo para olhar para frente. É passar os olhos pelas campanhas dos demais times brasileiros nesta Libertadores e arriscar palpites para o que está por vir. Baseados em quê? No merecimento. Certo, é contraditório, mas, às vezes, a contradição ajuda à argumentação. E o merecimento é o único dado disponível para avaliar o que Corinthians, Fluminense, Internacional, Santos e Vasco, aqui citados em ordem alfabética, ainda podem fazer daqui para frente. É evidente que qualquer dos cinco tem todo o direito de sonhar com o título de campeão, especialmente se levarmos em conta que nenhum dos adversários estrangeiros tem bola o suficiente para assustá-los. Nosso direito ao óbvio termina aqui.

Sim, porque se a ordem fosse outra, a do merecimento, Fluminense e Vasco bem poderiam vir no fim da lista. E antes que os respectivos torcedores protestem, lembremos que, embora tenham se classificado com certa folga, inclusive com chances de serem os primeiros dos respectivo grupos, tricolores e vascaínos terão que melhorar muito se quiserem merecer mais. Em cinco partidas, o Fluminense só jogou bem numa, contra o Boca Juniors, na Bombonera. O Vasco, em duas, ambas depois da lastimável estréia contra o Nacional de Montevidéu, em São Januário. O Fluminense vem tendo mais sorte, pois venceu por 1 a 0 jogos que mal merecia empatar. O Vasco, com sua desassossegada equipe, dando a impressão de viver permanentemente em crise, joga bem hoje e mal amanhã. O Fluminense tem melhor elenco, mas ainda é um time taticamente indefinido, sem padrão, sem cara, sem confiança em sua superioridade sobre oponentes claramente mais fracos. O Vasco, além de ser um com Dedé e outro sem Dedé, continua dependendo muito dos veteranos Juninho e Felipe para poder alimentar o sonho.

Em resumo: até aqui, Vasco e Fluminense continuam devendo. Mas quem disse que futebol é questão de merecimento?