terça-feira, 17 de abril de 2012

De Barcelusa a Vexamelusa em 4 meses. Só que a elite que importa é a nacional

Conhecem aquela piada do português? Parece que o Manuel falou para o Joaquim: "Ó pá! Gostei dessa coisa de ser campeão. Como está muito difícil ganhar o Campeonato Paulista, vamos cair para a segunda divisão! Assim seremos campeões ano que vem..."
Se bobear, a história é verídica. A Lusa traçou seu plano para o próximo título! Cai esse ano, leva a Série A-2 com louvor em 2013.

É curioso, o tal futebol. Quatro meses atrás, eu estava chorando no Canindé, emocionado em todos os momentos, em todos os minutos da linda campanha da Série B. E agora a Portuguesa consegue algo quase impossível: cai pra segundona no Paulistão.

Primeiro, preciso dizer que, pessoalmente, a tristeza de uma queda para mim é muito menor do que a alegria de uma vitória, de um título, de um momento. Eu não encaro o futebol desse jeito. Já foi assim, claro, e talvez isso seja sinal do meu amadurecimento como torcedor apaixonado.

Quando eu era moleque, sentia muito mais as derrotas do que me deliciava com as vitórias - e as vitórias vinham em mais quantidade do que vêm hoje. Hoje, sinceramente, o rebaixamento passou batido. Não tem comparação o sentimento de tristeza em relação à alegria do ano passado.

Essa autoanálise sentimental me faz pensar em algumas coisas. Primeiro, é incrível como uma boa parte da "torcida" das pessoas por seus times tem mais a ver com o sarro do dia seguinte do que outra coisa. Em outros tempos, eu estaria pensando: "nossa, vai me encher o saco amanhã no trabalho". Hoje, estou cag... e andando para isso. Estou muito bem resolvido com o meu clube. Tanto na vitória quanto na derrota, o que importa é minha relação com ele - e não o que as pessoas pensam, dizem, acham.

O torcedor de futebol se preocupa demais com isso. Não deveria.

Outra coisa que avalio. É incrível como a distância do estádio faz o torcedor reagir de forma diferente aos fatos. Neste semestre, não consegui ir a jogos. Basicamente devido ao trabalho e porque não queria me estressar com torcedores chatos xingando técnico, jogadores, todo mundo. Então vi o Paulistão como se fosse algo muito distante... Realmente, torcer é estar no estádio. Nada substitui essa relação com o time.

Vamos, agora, tentar racionalizar a queda da Portuguesa. A pergunta "o que acontece com a Lusa?" foi, disparado, a que eu mais escutei nos últimos quatro meses.

Primeiro, vou voltar cinco meses e meio no tempo, ao dia 1/11/2011. Eu e meu irmão estávamos chegando ao estádio em Criciúma para o jogo que poderia ter sido o do título da Série B. Ao passar pela entrada do time visitante, havia um portão entreaberto e vimos o Jorginho, que também nos viu. Entramos, batemos um belo papo, tiramos fotos. Inesquecível.

A primeira coisa que Jorginho fez ao nos ver ali, camiseta no peito, bandeira enrolada no corpo, foi gargalhar e perguntar: "Que diabos vocês estão fazendo aqui?? Vocês são loucos!". E durante a conversa deu a dica. O clube está quebrado. Nem conto para vocês as coisas que acontecem lá dentro, é melhor aproveitar esse momento (mágico da Série B) e não se preocupar. E foi mais ou menos assim que eu e meu irmão encaramos a coisa.

Não somos bobos. Somos pessoas esclarecidas, bem informadas e, digamos, do mundo do futebol. É óbvio que a Portuguesa não tinha se organizado da noite para o dia e que aquele conto de fadas acabaria. Por isso, talvez, tratamos de aproveitar tanto quanto aproveitamos.

O conto de fadas acabou. E foi rápido. O clube segue endividado até o pescoço - enquanto outros, populares, contam com o olhar brando da Justiça, a Portuguesa não tem a mesma sorte. O clube segue sendo controlado por pessoas antigas, despreparadas, burras, que usam a Portuguesa para outros interesses e têm pouca - ou nenhuma - noção de gestão empresarial de uma entidade esportiva. A torcida é pequena, a TV paga pouco, a receita gerada é baixa... enfim. É lógico que as perspectivas não tinham virado as melhores do mundo por causa de uma campanha dos sonhos na Série B.

Vem o Paulista e a primeira notícia é de que a Portuguesa receberia o mesmo valor de cotas de TV dos clubes pequenos do interior. Nada intermediário, entre os quatro grandes e o resto. Recusou-se a participar da reunião técnica do campeonato na Federação Paulista. E foi operada nas rodadas iniciais. Isso eu não falo como torcedor. Quem tiver interesse e paciência, pegue os vídeos, assista aos jogos e vai entender.

Teve bola que entrou contra o Bragantino, gol anulado por impedimento absurdo contra o Guarani, gol impedido do Corinthians no Pacaembu. Foram faltas invertidas, laterais invertidos, cartões pra lá e para cá. As primeiras seis, sete rodadas foram nefastas. Isso não justifica a queda para a segunda divisão paulista. Mas ajuda a contextualizar.

Tem mais respostas para "o que aconteceu". O time entrou no campeonato como candidato ao título!!! Torcedor achar isso? Tudo bem. Imprensa? Vá lá. Mas os jogadores e pessoas do clube nunca podiam ter achado que eram tudo isso... pelo jeito, acharam. Houve um componente "cair na real" nestes últimos meses.

Futebolisticamente, o time perdeu dois de seus mais importantes jogadores. Marco Antônio, armador e marcador, o pensador do time, peça rara no futebol de hoje em dia. E Edno, que era o desafogo lá na frente. Mas não foram só eles.

Luis Ricardo, o atacante que virou lateral direito improvisado no ano passado, caiu muito de produção. E nunca teve um reserva. Um dos zagueiros titulares saiu, assim como o volante titular na Série B (Mateus e Ferdinando). Marcelo Cordeiro, o lateral esquerdo titular, quase não jogou no campeonato. Guilherme, a maior esperança do time, demorou para estar bem fisicamente. Ananias, peça fundamental na frente, foi embora pro Bahia, voltou, machucou, demorou. Até o Ivo, que era um reserva que entrava em todos os jogos, saiu.

Então, caros amigos, da Barcelusa'2011 para a Vexamelusa'2012 havia pouca coisa parecida. Não foram só dois jogadores, foi muito mais do que isso.

Isso falando esportivamente. O que eu não sei, e nem quero saber (vou seguir o conselho do Jorginho), é sobre o que rola dentro do clube. A diretoria contrata cinco, seis reforços (??) no começo do ano, a maioria dos caras fora de forma ou machucados. No meio do campeonato, manda todos eles embora. A culpa é dos jogadores? Ou de quem contratou?? Tem coisa esquisitaça por aí.

Agora, mesmo com arbitragens nefastas, jogadores que se foram e problemas internos desconhecidos por mim, é óbvio que esse time não deveria ter caído para a segunda divisão. Foi uma fatalidade.

No meio de tudo isso e desse rebaixamento deprimente, há de se contextualizar o seguinte.

O Campeonato Paulista está em processo terminal irreversível, assim como todos os regionais. Eu sou um defensor dos campeonatos estaduais, acho que eles devem continuar existindo (menores e com regulamentos mais dinâmicos). Mas o fato é que o futebol brasileiro, que nasce baseado nas regionalidades, hoje é nacional. Para a Portuguesa, não importa estar na terceira, quarta ou quinta divisão do Paulista. Desde que siga na elite do Brasileiro. Aqui sim, é o que importa.

De repente, a Lusa poderia inovar. Abandona de vez o Paulistão. Manda uma banana para a Federação Paulista, não joga mais essa porcaria de campeonato e concentra forças somente para estar sempre na elite nacional.

O torcedor precisa ter paciência. E os "brilhantes" diretores, idem. O time está na Série A do Brasileiro e precisa manter o técnico de todas as maneiras. Precisa se estruturar melhor, precisa pagar suas dívidas, precisa tirar a base das mãos de empresários, trabalhar melhor o celeiro de jogadores que ainda existe. Cuidar do seu produto. É vital se manter na Série A por três, quatro, cinco anos.

E quando eu digo "vital" é porque realmente a vida, a própria existência da Portuguesa, depende disso.

Como torcedor que não quer se envolver com as imundices do futebol, eu só tenho a desejar boa sorte para as pessoas que comandam a Portuguesa. Que acertem a mão na estruturação do clube. Isso nunca aconteceu na história da Lusa. Nunca. Mas vai saber... sempre é tempo.

Minha bandeira segue aberta no terraço da minha casa. Na alegria e na tristeza. Até que a morte nos separe.