segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Falta de juízo

O s dias que se seguiram às acusações do árbitro Gutemberg da Fonseca ao diretor de arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, levam a crer que ficará a palavra de um contra a do outro. Não parece provável o péssimo árbitro carioca oferecer as provas de que diz dispor. Mas a falta de evidências não tirará a sombra do departamento de árbitros.

Nos últimos quinze anos, a arbitragem brasileira sofreu com três enormes crises de credibilidade.
Em 1997, o escândalo do 1-0-0 derrubou o diretor de árbitros Ivens Mendes, sobre quem havia, mais do que suspeitas, certeza de culpa - Sérgio Corrêa era um dos seus acusadores.
Em 2001, Alfredo dos Santos Loebling encerrou a carreira de árbitro depois de acusar o diretor da CBF, Armando Marques, de pressioná-lo a mentir na súmula de Caxias x Figueirense.
O terceiro e mais grave foi o caso Edílson Pereira de Carvalho, réu confesso do processo de manipulação de resultados montado por sites de apostas do interior paulista, em 2005. Edílson segue em liberdade.
Não tem nada a ver com futebol - mas tem - a prisão do ex-árbitro Djalma Beltrami, por envolvimento com o tráfico de drogas do Rio de Janeiro. Edílson Pereira de Carvalho usava diploma falso, Djalma Beltrami recebia propina de traficantes. Pede-se acreditar na honestidade de todos os árbitros.
Falta transparência. Há problemas na formação e no controle dos árbitros. E há mais. Gutemberg é famoso por inventar pênaltis. No caso Sérgio Corrêa, pode estar inventando também. Mas sua queixa de perder o escudo da Fifa por política escancara um dos erros da comissão de arbitragem: falta de transparência.
Há anos, cobram-se entrevistas coletivas semanais que esclareçam os lances das rodadas anteriores. Não se trata de expor os árbitros ao ridículo, mas de dizer quem está apitando bem ou mal.
As tais entrevistas não teriam apenas caráter didático. Se Gutemberg Fonseca fosse bem avaliado semana após semana, ninguém teria dúvida de que é um equívoco tirar-lhe o escudo da Fifa. Mas se suas atuações fossem mal avaliadas - provavelmente seriam - suas acusações perderiam força, claro que estaria a necessidade de tirá-lo da Fifa.
A prática da CBF é outra. O diretor de árbitros só pode dar entrevistas com autorização da presidência. Na prática, é fantoche, não diretor. Por não dar declarações periódicas sobre erros e acertos dos juízes, Sérgio Corrêa viverá com uma faca no pescoço. Armando Marques disse recentemente que a arbitragem hoje é melhor do que em seu tempo de apito: "Hoje os árbitros são ruins, mas são honestos" é sua definição. Numa arbitragem de tantos problemas, quem vai acreditar?
A terceira liga. A Federação Internacional de História e Estatística divulgou o ranking dos melhores campeonatos do mundo, com o Brasileirão em terceiro lugar, só atrás de Espanha e Inglaterra. O ranking não é para ser levado como a tábua da lei. Mas...
Aqui já se escreveu que o nível dos jogos do Brasileirão estão no nível dos da Europa, exceto quando se compara os clássicos. Não há no Brasil um Real Madrid x Barcelona ou Milan x Inter.
Mas é incrível: entre mortos e feridos, o futebol sobrevive.