segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cobrança fora de hora

Não me parece certo a Ferrari deduzir que Felipe Massa funciona melhor sob pressão e, por isso, ficar repetindo a todo momento que este é o ano crucial para ele. Até então isso parecia ser coisa típica do presidente Luca di Montezemolo, que gosta de criar factoides em suas conversas com jornalistas italianos, mas agora vejo até o comedido Stefano Domenicalli já iniciar o ano com esse mesmo discurso. Em muitos casos a gente responde bem quando pressionado. Mas a pressão que funciona é aquela que o próprio profissional cria pra cima de si mesmo em busca de uma performance melhor. É assim que se ganha alguns centésimos de segundo nas modalidades esportivas em que se corre contra o tempo, ou como se executa um golpe preciso, por exemplo, no tênis.

Confiança é tudo. E quando se ouve dos comandantes que esta é a última chance, a possibilidade de dar errado é maior. A mente humana faz com que seja assim com o jogador de futebol, de vôlei, o tenista, o nadador. Pode dar certo, mas o risco é grande. Isso deveria ser muito bem conversado internamente e pronto. Parece até que os dirigentes da Ferrari não conhecem a cobrança da mídia. Justo eles que vivem cercados daqueles que fazem da imprensa italiana a mais sensacionalista do mundo.
Trabalhar sob pressão já funcionou bem comigo e outros companheiros de televisão algumas vezes. Escrever finais de reportagens ou comentários em blocos de papel em cima do joelho já com o rico tempo de satélite correndo é dos piores momentos que a gente passa durante uma cobertura. Assim é a vida de um repórter de televisão. Mais do que os de rádio e jornal, o profissional de TV vive sob pressão por causa do horário de satélite, que é aquele predeterminado e pronto. Se perder, perdeu. Naqueles poucos minutos de satélite a reportagem é gerada para o Brasil. Se perder, perdeu.
Se você tomar um rumo errado no momento em que está montando uma história, corre o risco de não ter volta. O enfoque vem na sua cabeça, você elabora, sai entrevistando personagens em cima do tema e, depois, imagina a história toda da forma como deve ser contada para o público. Às vezes, durante as entrevistas, a história toma um rumo diferente. É preciso perceber o momento de dar a virada no roteiro enquanto é tempo. Tudo isso acontece sem ter a quem perguntar, com quem discutir. Pura tensão o tempo todo.
O piloto de equipe grande é um sujeito que ganha muito dinheiro e fama. Mas paga um preço alto por isso. A diferença de desempenho entre Alonso e Massa no último campeonato, de fato, foi enorme. Alonso ganhou um GP e fez 10 pódios. Massa não conseguiu um único pódio, viu o companheiro largar na frente 15 vezes em 19 GPs e marcou 118 pontos contra 257 de Alonso.
Só que o Felipe sabe disso melhor do que ninguém. Se acham que Massa precisa dessa pressão para acreditar que pode bater Alonso, não poderia ter acontecido aquele episódio do GP da Alemanha de 2010, quando Massa estava, de fato, andando na frente de Alonso e a equipe mandou que ele o deixasse passar. Como assim, isso não conta? E quem garante que, se os dois voltarem a disputar posição, a Ferrari não tenha a mesma atitude?