segunda-feira, 28 de novembro de 2011

VÍDEO: Gol de Adriano pelo Corinthians e a lembrança do "Não basta ser pai..."

O blog abre espaço para o texto abaixo, do companheiro Maurício Rossi, "O Mito", editor dos canais ESPN, plantão esportivo da rádio Estadão/ESPN e que, é bom deixar claro, não torce pelo Corinthians


Assim que terminou o jogo entre Corinthians e Atlético Mineiro, domingo, no Pacaembu, um filme, literalmente, passou pela minha cabeça. A cena de um jogador que sai do banco de reservas para levar ao delírio uma arquibancada angustiada já havia sido veiculada pelas telas de TV um dia.

O ano era 1983, quando a propaganda da tal pomada conhecida pelo slogan “Não basta ser pai, tem que participar”, mexeu com sentimentos, principalmente de pessoas ligadas ao futebol. Tanto que a revista Placar, na época, fez uma matéria sobre o filme, dirigido pelo famoso publicitário Duda Mendonça. Jogadores foram entrevistados para repercutirem a emocionante propaganda.

O filho acordava o pai para ir vê-lo jogar. O menino, aflito, insistia ao pai, sonolento, para acordar rápido, afinal, ele tinha certeza de que seria um dia especial. Associei, então, a figura de Adriano aquele menino. O imperador ao acordar deve ter conversado com alguém, ou com ele mesmo, pois mais um jogo decisivo estava por vir e algo de bom o aguardava.

O garoto na propaganda entra em campo, saúda a torcida, reforçada pela presença do pai e da irmãzinha. Adriano, quando subiu ao gramado do Pacaembu, era ovacionado por parte da massa alvinegra. Ele seguiu direto para o banco, claro, a ordem já vinha do vestiário. Mas com certeza, um sentimento de frustração tomava conta do atacante. Já o personagem foi sacado por um colega de equipe, que acumulava a função de treinador, quando a bola ia começar a rolar.





Enquanto o menino seguia para o banco, pai e irmã exibiam uma enorme tristeza misturada com revolta no rosto. Talvez, no Pacaembu, entre as quase 40 mil pessoas, muitas sentiam o mesmo com relação ao imperador.

O jogo seguiu. Fora de campo, o menino, na propaganda, e Adriano, no Pacaembu. Mas ambos tinham a esperança de que poderiam ajudar seus times e de que poderiam sair consagrados por uma vitória graças a um gol marcado por eles.

Em certo momento da partida, o menino pensa que o jogador-treinador o chama para entrar. Ele levanta-se do banco, aponta para o próprio peito com o dedo indicador, mas decepciona-se, pois o escolhido para entrar não é ele.

No Pacaembu, Tite escolhe Alex para substituir Danilo. Imaginei o que passou na cabeça de Adriano. Devia estar como a do garoto da ficção. A partida prosseguia e ganhava um ar de dramaticidade. Tanto na vida real quanto na fictícia.

De repente, o jogo está difícil, apertado e, finalmente, o técnico-jogador escolhe o menino que, na vida real, aos 10 anos, torcia para o Flamengo. Sem dúvida, é mais um ingrediente para misturar as histórias.

Logo que entra em campo, o garoto pega a bola e é derrubado na área adversária. Pênalti. O pai sai da arquibancada e corre em direção ao filho para massageá-lo com a pomadinha “milagrosa”. O filho cobra a penalidade, faz o gol e leva ao delírio uma improvisada arquibancadinha de madeira. Carregado nos ombros pelos companheiros, o menino vive um dia de herói.

Assim como viveu Adriano, que nem precisou cair para massagear a mente de milhares de corintianos. O toque com estilo, após receber um passe na medida de Emerson, foi indefensável para o goleiro. Um momento indescritível para o imperador, que tirou a camisa e foi em direção uma torcida que, para o corintiano, não basta torcer, tem que participar.

E, domingo, mais uma vez, essa participação foi fundamental.