quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

'O Flamengo está muito perto de ganhar', diz Rodrigo Caetano

  • O diretor Rodrigo Caetano posa na Gávea durante entrevista exclusiva ao UOL Esporte
    O diretor Rodrigo Caetano posa na Gávea durante entrevista exclusiva ao UOL Esporte
Ele será o comandante do departamento de futebol do Flamengo por mais três anos. De contrato renovado pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello, Rodrigo Caetano quer conquistar títulos e participar da evolução estrutural no triênio 2016-17-18. O diretor executivo tem a confiança da administração e a responsabilidade de responder aos anseios de milhões de torcedores apaixonados e impacientes.
Em entrevista ao UOL Esporte, o diretor falou sobre o novo contrato, a prioridade em torno da conclusão do CT Ninho do Urubu, além da preocupação com o fato de o time estar órfão de uma casa em 2016. A certeza de que o trabalho será consumado dentro das quatro linhas ganha cada vez mais espaço. Resta saber o que o futuro reserva para Rodrigo Caetano e Flamengo.
Confira a íntegra da entrevista:
UOL Esporte: Você renovou contrato com o Flamengo por três anos. Teve dúvida em continuar? Como acha que foi avaliado pela torcida?
Rodrigo Caetano: O que talvez tenha me deixado em dúvida foi o entendimento da função. Falo em relação ao conjunto. Tenho a certeza absoluta de que o presidente e os seus pares sabem exatamente a importância do trabalho. Apesar de os resultados não terem acontecido, eles quiserem permanecer comigo por um bom tempo. Fizemos muitas coisas, mas esse desconhecimento de grande parte das pessoas promove avaliações precipitadas sobre o trabalho do executivo. O fato é que diminuímos custos, emprestamos jogadores, encolhemos o elenco e formamos um grupo de boa qualidade. No entanto, tivemos os nossos erros e não me isento disso. O que me motivou a continuar foi o fato de acreditar que o Flamengo está muito perto de ganhar. É um processo de evolução em todos os sentidos. Todos entendem que precisamos de um investimento cada vez maior em infraestrutura. Acredito muito que isso vai nos aproximar dos resultados. Se não modificarmos esse cenário estrutural, apenas mudaremos os personagens. O Flamengo vai investir no centro de treinamento para ter a performance que traga resultados. Será um futuro promissor.
UOL Esporte: Quais são os principais desafios do Flamengo nos próximos três anos? Acredita que só será bem avaliado pela torcida com conquistas?
Rodrigo Caetano: Não gostaria que fosse assim. Nos clubes em que passei, talvez tenha sido bem avaliado justamente pelas conquistas. Mas é muito mais um legado que será deixado. Atuamos muito na questão de não onerar o clube e ter a responsabilidade orçamentária. O Flamengo não tem um orçamento infinito como muitos pensam. Não dá para contratar de qualquer jeito. Qualquer passo errado traz consequências. Vamos trabalhar para facilitar a chegada das vitórias esperadas.
UOL Esporte: Em que o Flamengo não pode errar na próxima temporada? Como traçar um ano completamente diferente de 2015?
Rodrigo Caetano: Precisamos fazer com que as vitórias não sejam esporádicas. Acho que podemos garantir isso direcionando todos os esforços para o nosso local de trabalho. O Flamengo tem uma grande vantagem no Rio de Janeiro. Possuímos um centro de treinamento e precisamos transformá-lo em algo realmente funcional. Queremos tecnologia avançada. Só assim daremos aos nossos atletas um nível elevado de performance. Tenho a certeza de que competiremos em tudo deste jeito. Se somarmos torcida, orçamento e investimento com a infraestrutura fecharemos todas as pontas. Vou lutar muito para que possamos evoluir no CT. Precisamos nos aproximar de conquistas desta forma. Já diagnosticamos que alguns jogadores não conseguem elevar a performance no Flamengo por conta disso. O filme apenas se repete. Queremos que os atletas saiam melhores do clube.
UOL Esporte: O Muricy se acostumou a trabalhar com estrutura. O Flamengo está pronto para receber um profissional deste nível?
Rodrigo Caetano: Ele foi ao CT e entendeu perfeitamente a situação. O Muricy está totalmente disposto a participar deste processo evolutivo do Flamengo e completamente motivado. Posso garantir isso. É um grande cara para trabalhar em equipe. Essas foram as primeiras impressões.
UOL Esporte: É possível ser forte administrativamente e vencedor no futebol?
Rodrigo Caetano: Perfeitamente. Muito se fala que alguns clubes chegaram em cima e são devedores. Acredito muito na estratégia do Flamengo. Estamos sofrendo e a torcida paga um preço. Mas tudo é pela organização do clube. Não existe dúvida sobre isso. É preciso crescer de forma sustentável para jamais haver retrocesso. As contas do Flamengo estão muito bem organizadas e temos condições de olhar para frente.
UOL Esporte: Você falou muito do CT Ninho do Urubu, mas um grande problema que o Flamengo enfrentará em 2016 está em não possuir estádio para jogar (Maracanã e Engenhão passarão boa parte do ano fechados por conta dos Jogos Olímpicos). É possível conquistar títulos sem casa?
Rodrigo Caetano: Isso é muito ruim. É mais um problema. Torna difícil a missão sem uma interação com a torcida. Não existe fidelidade ao local. O Atlético-MG, com o Independência, é um exemplo perfeito. O clube escolheu ganhar menos e jogar onde se sentia melhor. A diretoria está buscando uma solução, mas é um complicador gigantesco no trabalho. O ideal é que tenhamos um estádio no Rio de Janeiro capaz de comportar os jogos das equipes que ficarão sem casa. O Maracanã já tem uma simbologia com o Flamengo. O problema será agora.
UOL Esporte: O Flamengo busca um zagueiro e um meia-atacante incontestáveis no mercado. Como este tipo de reforço é avaliado?
Rodrigo Caetano: Normalmente você contrata um jogador que não tenha contestação conforme o histórico. Não existe outra forma de avaliar. Mas depois que veste a camisa é outra avaliação. Temos a validação do Muricy e a ideia de buscar ainda mais duas ou três peças para a titularidade. Se conseguiremos, não sei, mas tentamos dia e noite. Vejo como incontestável um jogador que chega com histórico vencedor e passagens por grandes equipes. Sabemos que a cobrança no Flamengo é exacerbada. Temos diversos exemplos de jogadores que chegam sob desconfiança. O Ederson foi assim. Veio da Lazio-ITA e abriu mão de um contrato depois de dez anos na Europa. Lamentavelmente, teve uma lesão diferente das do passado e foi rotulado como um jogador que chegou para se recuperar no Flamengo. O grau de tolerância é outro. O futebol não é uma ciência exata e trabalhamos frequentemente para minimizar os erros.
Vinicius Castro/ UOL
Rodrigo Caetano fala sobre o planejamento do Flamengo para a temporada 2016
UOL Esporte: O Ederson ainda pode ser o jogador que se espera em 2016?
Rodrigo Caetano: Eu não tenho motivos para pensar diferente. É um jogador com bagagem de Europa. Conquistou títulos por onde passou. Chegou ao Flamengo e fez logo três gols. Infelizmente, a lesão o impossibilitou de ter uma sequência. Tomara Deus que a situação seja diferente. Acreditamos muito nele, que já provou a sua qualidade.
UOL Esporte: O Flamengo trabalha com algum limite de tempo para concretizar as principais negociações?
Rodrigo Caetano: O mercado possui inúmeras dificuldades. Montamos o elenco dentro do orçamento e as oportunidades surgem. O Flamengo já identificou o que precisa e as coisas podem acontecer a qualquer momento. Não existe elenco fechado. O grande mérito será mexer as peças da melhor forma possível no decorrer do ano.
UOL Esporte: Existe a possibilidade de repatriar jogadores ou atuar no mercado Sul-Americano?
Rodrigo Caetano: Repatriar é uma possibilidade, claro. No mercado Sul-Americano aumentamos o nível de estudo e pesquisa. Já vimos atletas que vieram bem recomendados e acabaram sem conseguir jogar. Tiveram muitas dificuldades. É um mercado difícil, nem sempre os caras se adaptam aqui. Existem grandes jogadores, mas os melhores argentinos que se saíram bem aqui não integraram a seleção. Já vimos muitas vezes selecionáveis que também não conseguiram jogar. São investimentos caros e precisamos de cuidado.
UOL Esporte: Faltou tato da diretoria na saída do Oswaldo? Considera que o clube demorou a demitir o técnico Cristóvão Borges?
Rodrigo Caetano: Não vou julgar as pessoas. Estou incluído em todas as decisões. Quase todos os técnicos tiveram o mesmo aproveitamento. Sempre tentaremos manter o treinador, independente de nome. Precisamos escolher aquele que julgamos ideal. Isso é o princípio de acreditar no trabalho mesmo nos momentos difíceis. Defendo a continuidade enquanto gestor. A questão do Oswaldo foi outra. Procuramos ser o mais correto possível. Fomos até a casa dele comunicá-lo de que não continuaria em 2016. A coisa tomou uma proporção enorme e ficou inviável a permanência nos dois últimos jogos.
UOL Esporte: O que o Flamengo espera de Paolo Guerrero em 2016? É possível ter outros ídolos deste quilate?
Rodrigo Caetano: Espero muito dele. Mas não sei se é possível ter outros jogadores com esse peso. Muito se fala no investimento elevado. Ele era o atleta mais disputado do mercado. Você pensa que o Corinthians não fez os esforços para que ficasse lá? Óbvio que fez. É titular da sua seleção e capitão. Quero que esteja aqui feliz e se sinta parte de um elenco importante e capacitado para vencer. É fundamental que ele observe no Flamengo as mudanças que viabilizarão a sua melhor performance. Se ele estiver bem e feliz, não tenho dúvida de que vai corresponder. Sinto que ficou chateado com a reta final.
UOL Esporte: A defesa foi o setor mais crítico do time em 2015. Tivemos inúmeras falhas que deixaram a torcida enfurecida. O que o Flamengo fará para resolver isso? A contratação do Juan já faz parte deste processo?
Rodrigo Caetano: Será o setor que sofrerá mais modificações por términos de contrato, vendas e chegadas. Buscaremos qualificá-lo e o treinador vai corrigir o que precisa. Por uma série de motivos é a área com mais atenção no Flamengo. Todo o jogador que vier será parte da solução em algum momento. Ninguém vai tentar trocar para pior. O Juan tem uma história muito bonita com o Flamengo e trata-se de uma referência positiva. Acreditamos que ajudará bastante e buscamos mais um atleta de nome para o setor.