quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Devolução do Maracanã é mais complexa do que parece. Flamengo segue de olho

A entrega do Maracanã ao governo do Estado do Rio de Janeiro pelo consórcio encabeçado pela Odebretch é irreversível. Mas não tão simples como alguns podem imaginar. É esperada uma sucessão de embates entre as duas partes no período até os Jogos Olímpicos, que começam em 5 de agosto de 2016. Superada esta fase, ou seja, quando o palco da final da Copa do Mundo retornar ao controle estatal, o Flamengo tentará assumir sua administração. Outra batalha à vista.

No momento a questão já é jurídica e muito complexa, pois não há a possibilidade de a concessão ser pura e simplesmente abandonada. Por isso, começa uma renegociação que envolve alterações feitas pelo ex-governador Sérgio Cabral. Áreas que seriam exploradas, como a do semi-demolido estádio de atletismo Célio de Barros, não foram entregues ao consórcio após muitos protestos pela manutenção dos equipamentos esportivos do complexo e da escola ali situada
O Comitê Olímpico bancará as adaptações a serem realizadas. Para isso, terá o Maracanã sob seu controle meses antes dos jogos, provavelmente em abril. Mas há quem acredite na possibilidade de antecipação devido à intenção dos atuais administradores de devolvê-lo. Há o risco de o governo ter que bancar as despesas no período anterior às competições, em meio a jogos deficitários do Campeonato Carioca, caso a Odebrecht consiga sair rapidamente.
GAZETA PRESS
Flamengo e Internacional no Maracanã: taxas de aluguel do estádio são elevadas, mas há jogos que são deficitários
Flamengo e Internacional no Maracanã: taxas de aluguel elevadas, mas há jogos deficitários
Já existe uma intensa disputa política de bastidores, mas ainda não de mercado, com a procura por um novo parceiro e a consequente transição para os futuros administradores. Ao mesmo tempo o governo do Rio de Janeiro não pode simplesmente tomar a concessão, pois haveria risco de penalidades contratuais, com pagamento de eventuais compensações financeiras ao consórcio, por exemplo. Está em andamento um verdadeiro jogo político.
Quanto ao futuro do Maracanã, há diferentes caminhos possíveis. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), por exemplo, defende que seja transformado num estádio público e popular. Algo improvável ante os combalidos cofres do governo fluminense, que teria de subsidiar a cara manutenção "padrão Fifa". Há ainda a parceria entre a empresa BWA (detentora da administração do Estádio Independência, em Belo Horizonte) com os franceses da Lagardère Sports and Entertainment.
A estratégia do Flamengo, como o blog de Gabriela Moreira informou em 1º de dezembro — clique aqui para ler — teria uma parceria com a Golden Goal, que faz a gestão do programa Sócio Torcedor do clube. Em 2011 ela foi adquirida pela Chime Communications, que posteriormente lançou uma agência específica para atuar no mercado esportivo brasileiro, a Chime Sports Marketing, a CSM, sigla que deverá acompanhar os rubro-negros nesta ação.
Se os planos do clube forem adiante, para o Fluminense seriam mantidas as condições atuais do acordo entre os tricolores e o consórcio Maracanã. Além da Odebrecht Participações e Investimentos, com 90%, é formado por IMX Venues e Arena S.A (empresas do empresário Eike Batista, 5%) e AEG, administradora de estádios (5%).
Pertencente ao grupo Anschutz Company e gestora de 120 "arenas" pelo mundo, a AEG, sócia minoritária, também poderia brigar pela concessão do Maracanã, provavelmente com parceiros. No Brasil ela é responsavel pelas Arenas Pernambuco, da Baixada, em Curitiba; e do Allianz Parque, em São Paulo. E já tem sociedade com o grupo BlueBox nas duas últimas.
Fonte ouvida pelo blog acredita que, por bom trânsito junto ao governo, a BWA seja, no momento, a favorita a vencer uma futura nova concorrência. Consequentemente ela seria o maior obstáculo entre o Flamengo e seu objetivo de administrar o Maracanã. Há até quem defenda a improvável volta da Suderj, braço estatal que administrou o Maracanã por décadas. Obviamente ela geraria mais custos.
Hoje, com outras fontes além dos jogos, o estádio arrecada cerca de R$ 30 milhões brutos por ano. O consórcio estima a manutenção em cerca de R$ 4 milhões mensais. Nos cálculos flamenguistas é possível reduzir em aproximadamente 25% esse custo com a troca de alguns fornecedores que a ESPN mostrou em 2014 — clique aqui para ler e veja a reportagem  no vídeo abaixo. Os R$ 3 milhões/mês seriam em parte cobertos pela extinção das pesadas taxas cobradas das rendas dos jogos até aqui.
 
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'Maracanã da Copa': apadrinhados políticos e sócios de dirigente da Ferj
Dos R$ 2,450 milhões deixados pela torcida no jogo com o Santos, em agosto, o clube levou R$ 986 mil e mais de R$ 750 mil foram descontados por aluguel e custo operacional do estádio, além das grades. Contudo, há jogos deficitários, como Flamengo x Bangu, no Estadual, com renda de R$ 164 mil. Na ocasião, as despesas pelo uso do Maracanã foram perto de R$ 60 mil e o clube teve quota de R$ 1.389,00.
Mesmo que vença a batalha contra outros interessados no estádio, o clube de maior torcida no país terá que saber utilizar sua popularidade para elevar a média de público e consequentemente sua arrecadação média. Só assim assumir a responsabilidade de administrar o Maracanã poderá ser um bom negócio.