Eram 17h da quinta-feira e eu já havia feito o teste com umas cinco pessoas. A reação foi a mesma: "Putz, tinha me esquecido completamente!". O Brasil enfrentaria o Chile dali a pouco na estreia das Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia-2018, no Estádio Nacional, em Santiago. O prognóstico mais otimista é que seria um jogo parelho contra os atuais campeões da América. Fiquei abismado com o desdém daqueles caras, todos apreciadores do futebol. Não era, absolutamente, algo relevante para eles.
A derrota para o Chile por 2 x 0 foi um resultado justo, que reflete o grau de superioridade individual e coletiva do time treinado pelo excelente Jorge Sampaoli sobre a seleção de Dunga. Mas o placar é o que menos importa na partida de Santiago. Assim como o justificável receio de, pela primeira vez na história, corrermos o risco de ficar fora de uma Copa - não acho que será a moleza que muitos dizem. Tudo isso está em segundo plano. O grave, o que deve ocupar nossas reflexões, é a perda da conexão da seleção com os milhões de brasileiros apaixonados pelo futebol. Aquela camisa canarinho já não é o símbolo de outrora. Pior: o jogo está perigosamente se invertendo.
Observei reações de muita gente depois da derrota. Não eram poucos os que vibravam com o fracasso brasileiro. Por tudo o que tem acontecido dentro e fora do campo, esse pedaço de pano amarelo, sudário maior do futebol mundial, está sendo profanado. A seleção brasileira é um patrimônio de nossa cultura, uma ferramenta de felicidade coletiva. Danem-se os resultados. Seleção não é clube, a relação é completamente outra. Se são os melhores juntos, têm que buscar a todo custo jogar o melhor futebol, mesmo que percam. Aliás, com cinco títulos mundiais, podemos ficar sem ganhar nada por 15, 20 anos.
O que temos que recuperar é o vínculo de outros tempos. Para isso, tanto quem comanda quanto quem joga precisa entender que está ali, fundamentalmente, para disseminar alegria. Qualquer outro pensamento, para a seleção brasileira, é não compreender sua essência.