terça-feira, 31 de março de 2015

Inexplicável

Thomaz Bellucci deu um passo para trás em sua recuperação. Quase não dá para entender como um set totalmente dominado, em que o forte adversário está nas cordas, jogando mal e irritado, pode escapar das mãos quando se chega a 5/4, 40-0, saque a favor. Tudo bem, uma dupla falta faz parte, mas também dois erros não forçados, um pouco de precipitação, mais dois golpes falhos. Daí vem uma sucessão de infortúnios e eis que Alexandr Dolgopolov readquire a confiança que não havia mostrado e a tarefa fica difícil de vez.
Longe de mim querer adivinhar o que se passa na cabeça de um tenista profissional de ponta, mas eu diria que Bellucci pensou demais na hora de fechar e não conseguiu superar a frustração. O pior de tudo é que Dog vinha jogando muito abaixo de sua qualidade, cheio de escolhas mal feitas. Aquela coisa que acomete todo tenista de muitos recursos, a falta de disciplina tática. Mas até isso ele corrigiu quando Bellucci lhe abriu a porta. Passou a jogar de forma mais pragmática e impôs seu talento de ex-13º do ranking.
O ponto positivo é que Bellucci voltou a mostrar que tem golpes e físico suficientes para jogar em alto nível, entrar nos torneios grandes com chance de avançar rodadas diante de qualquer top 30. Vai agora para o saibro, que é o seu piso predileto, precisando contar com um pouco mais de sorte nas formações das chaves para ganhar pontos nos ATP 250 e 500 que constam do seu calendário. Infelizmente, Masters 1000 ficam para o segundo semestre, a menos que ele arrisque qualis em Monte Carlo, Madri ou Roma.
Quase inexplicável
Rafa Nadal por seu lado me deixa intrigado. Nunca vi uma série tão grande de atuações frágeis, de erros tão bobos, de falhas claramente emocionais. Ele próprio admitiu enfim que seu maior problema não é físico, nem técnico mas mental.
Claro que uma coisa reflete na outra. Ainda que ele não tenha desaprendido a bater na bola, a falta de confiança faz com que jogue bola para cima sem cerimônia, não tenha convicção na hora de acelerar, faça aquele estilo irritantemente defensivo e cauteloso, que não combina com seu histórico e ranking.
Não dá para ver Nadal perder de Berrer, sofrer contra Smyczek ou Cuevas, contar com a sorte diante de Berlocq. Havia sinal de que ele havia reencontrado o equilíbrio em Indian Wells, com vitórias firmes ainda que não brilhantes, mas talvez a derrota para Milos Raonic tenha jogado por terra seu esforço. Ele pagou o preço por não ter uma variação tática além do bom primeiro saque, correria e fuga para bater forehand. Jamais imaginei que veria Raonic ganhar rali de Nadal.
Vamos agora para o saibro europeu, o habitat natural do canhoto espanhol. Lá sim Rafa pode ser mais paciente, porém preocupa ainda mais o fato de ele não estar seguro de seu próprio físico. Vale lembrar que a campanha em 2014 foi esquisita, tendo perdido nas quartas de Monte Carlo e Barcelona, ganhado sem merecer em Madri e levar virada na final de Roma. Claro que o nono troféu de Roland Garros apagou tudo. Como o décimo também o faria.
De concreto, Nadal já perdeu novamente o quarto lugar do ranking para Andy Murray e, caso Kei Nishikori ganhe mais um jogo, descerá para quinto. E terá de torcer para Raonic não ir à semi – está no difícil setor de Dimitrov e Nishikori – para não cair ao sexto lugar, posição que ocupou pela última vez a quase dez anos, em maio de 2005. Ah, e David Ferrer também pode passá-lo, mas para isso terá de ganhar o torneio, o que provavelmente significa derrotar Novak Djokovic na semi.
Totalmente explicável
Enquanto isso, Novak Djokovic anotou o sexto 6/0 da temporada, o segundo seguido em Miami. Caminha assim rapidamente para igualar os nove ‘pneus’ que aplicou no ano passado e tentar superar seu recorde pessoal de 12, obtidos no mágico ao de 2011.