terça-feira, 22 de julho de 2014

Se for o Dunga de sempre, o que mais nos restará dizer além de... pobre futebol brasileiro?

Ele está de volta. Dunga é, de novo, o técnico da seleção brasileira. E reaparece apenas dois dias antes de completar oito anos da primeira vez que a CBF o anunciou para o cargo. Foi em 24 de Julho de 2006. Luiz Felipe Scolari era o nome ideal para Ricardo Teixeira, mas o campeão de 2002 havia renovado seu compromisso com a seleção portuguesa. Assim, o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol resolveu sacar da cartola o capitão da conquista de 1994 como treinador, algo que jamais havia sido. Como satisfação à opinião pública fazia sentido.
O time eliminado pela França na Copa de 2006 caiu com fama de preguiçoso. E para recuperar o "amor pela camisa amarela", Dunga parecia perfeito. E daí que não tinha currículo na função? Poucos se lembram, mas nos 1.441 dias em que esteve técnico da seleção, o ex-volante balançou, e muito, na corda bamba.
MOWA PRESS
CBF escalada com Dunga, Marin, Marco Polo Del Nero, Gilmar Rinaldi e Alexandre Gallo: e aí, curtiu?
CBF escalada com Gilmar Rinaldi, Dunga, Marin, Del Nero e Alexandre Gallo: e aí, curtiu?
Antes da Copa América de 2007 eram grandes os rumores sobre sua demissão se o Brasil não ganhasse o título. O time perdeu na estréia, jogou mal, aos trancos e barrancos foi à final e surpreendeu a Argentina na decisão. Ganhou sobrevida no cargo, mas em 2008 não se livrou das vaias no Mineirão após um 0 a 0 contra os rivais argentinos, que tirariam do Brasil o sonho da medalha de ouro nos Jogos de Pequim.
Antes do jogo contra o Chile, em setembro de 2008, Dunga esteve ameaçado como nunca após a medalha olímpica de bronze e a quinta colocação nas eliminatórias. Os 3 a 0 sobre os fregueses chilenos lhe deram novo fôlego. Robinho fez um gol, é claro. Três dias depois, um pífio empate sem gols com a Bolívia, no Engenhão. E foi chamado de burro.
Após 35 dias, a volta ao Rio de Janeiro, em alta graças a um 4 a 0 na Venezuela. E novo 0 a 0, desta vez com a Colômbia. Ali, o time de Dunga completava incríveis 312 minutos sem fazer gol em casa. Vaias no Maracanã. Já em 2009, Júlio César salvou o Brasil de uma derrota em Quito e o empate por 1 a 1 com o Equador gerou mais críticas a Dunga.
A partir daí o time engrenou. Sofreu, mas ganhou a Copa das Confederações e nas eliminatórias vieram cinco vitórias seguidas, sobre Peru, Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile. Com elas, a classificação antecipada para a Copa. Dunga virara o jogo. Triunfos em amistosos reforçaram a idéia de que seu time era mesmo competitivo.
Mas além de pragmático não tinha grande repertório. Assim, foi para o Mundial agarrado aos seus conceitos. Lacrado com as mesmas idéias e refratário a qualquer outra que não fosse a de um grupo fechado, pautado na lealdade extrema e sem espaço para quem saísse daquele padrão de comportamento. Um quase exército a caminho da guerra que perderia ante a força aérea holandesa.
E quando olhou para o banco, viu "armas" como Kléberson, Grafite e Júlio Baptista. Todos dedicados ao líder, mas obviamente incapazes de mudar o cenário daquela partida. No Brasil ficaram, por exemplo, os destaques do primeiro semestre de 2010, Neymar e Paulo Henrique Ganso, além de Adriano, que um semestre antes havia sido artilheiro do Campeonato Brasileiro, conduzindo o Flamengo ao improvável título nacional.
GETTY
Dunga, na derrota do Brasil para a Holanda, nas quartas de final da Copa de 2010
Dunga, na derrota do Brasil para a Holanda, nas quartas de final da Copa de 2010
A derrota para o Holanda por 2 a 1 fez a cartolagem descartar Dunga rapidamente. Dois dias depois ele seria demitido por telefone pelo então presidente da CBF. Foi em 4 de julho de 2010, quando, em seguida, uma nota oficial tornaria público o adeus do treinador que o próprio Ricardo Teixeira inventou:
"Encerrado o ciclo de trabalho que teve início em agosto de 2006, e que culminou com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo da África do Sul, a CBF comunica que está dispensada a comissão técnica da Seleção Brasileira".
Desde então Dunga treinou apenas o Internacional, em 2013. Ganhou o campeonato gaúcho, é verdade, mas após quatro derrotas consecutivas (Bahia 2 a 0 Portuguesa 1 a 0, Cruzeiro 2 a 1 e Vasco 3 a 1, sendo que lusos e cruzeirenses venceram no Rio Grande do Sul) foi demitido na 25ª rodada do Brasileiro. Deixou o time em 10º lugar com 8 vitórias, 10 empates e 7 derrotas, 37 gols sofridos e saldo zero.
Agora ele está de volta. Que Dunga será esse? Não deve ser muito diferente daquele da primeira passagem pela seleção. Então recorramos às palavras do Mestre Tostão, que em texto de julho de 2007 resumiu assim o perfil do treinador:
"O pragmático Dunga gosta de dizer que time bom é só o que vence. O técnico parece gostar somente de vitória, não de futebol. Para Dunga e as pessoas ortodoxas, pouco flexíveis, é isso ou aquilo, ganhar ou perder, time bom ou ruim, jogar bonito ou feio e outras dualidades. Não percebem que a maior parte da vida se passa nas entrelinhas, na subjetividade, no que não está claro, no que pode ter sido e não foi".
É, se for esse Dunga de sempre, com a mesma visão sobre tudo, o que mais nos restará dizer além de... pobre futebol brasileiro?
Mauro compara Dunga a Batman e vê retorno como deboche: 'Vai servir de para-raios'


Mauro lembra coluna escrita em 2007 por Tostão sobre Dunga