Manchete da Folha de S. Paulo: "Custo da Copa equivale a um mês de gastos com educação". O jornal mostra que os R$ 25,8 bilhões investidos no Mundial de futebol equivalem a 9% das despesas públicas anuais em educação, que giram em torno de R$ 280 bilhões. "Em outras palavras, é o suficiente para custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área". Parece pouco lendo assim, de primeira, não? Vamos mergulhar um pouco na questão.
Em 2009 já se sabia que o Brasil investe 5,55% do seu PIB em educação, valor abaixo da média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 6,23%. Mas o salto ainda assim foi considerável, com os investimentos brasileiros passando de 10,5% em 2000 para 16,8% do orçamento federal em 2009.
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Primeira página da Folha de S. Paulo do dia 23 de maio de 2014: dinheiro da Copa e da educação
Primeira página da "Folha de S. Paulo" do dia 23 de maio de 2014: o dinheiro da Copa e o da educação
Mesmo assim, no relatório mais recente, de 2012, estávamos apenas em 53º lugar entre 65 nações de acordo com o Programme for International Student Assessment (PISA), que avalia a qualidade da educação da própria OCDE. Ou seja, mesmo quando se ampliam os investimentos, falta qualidade ao ensino público. A Polônia, por exemplo, aparece em 15º, e Portugal em 27º. No nível do Brasil estão, entre outros, Albânia, Jordânia, Argentina e Tunísia. A performance brasileira perde para latino-americanos como Chile, México, Uruguai e Costa Rica.
No país a verba pública se concentra no ensino infantil, fundamental e médio. Já no nível superior o Brasil é 23º entre 29 países, segundo ranking que mede os investimentos com alunos universitários, cujo gasto por estudante caiu em 2% de acordo com os números mais recentes. Dos 5,55% do PIB que o país coloca na educação, escassos 0,8% são a eles voltados.
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Por essas e outras nosso país apresenta a maior diferença salarial entre quem tem e quem não tem diploma universitário, de acordo com outro estudo da OCDE. A desproporção entre os que cursaram faculdade e os que jamais tiveram tal oportunidade é tamanha que a distância na remuneração chega ao triplo da média registrada nos demais países que integram a Organização.
Isso, claro, amplia o abismo existente na nação das diferenças sociais, cujo mapa, publicado recentemente pelo jornal Washington Post, você pode observar abaixo. E se quiser, fique envergonhado (eu fico sempre que olho isso). Diante de tal cenário, nota-se que, apesar da reportagem da Folha, a educação brasileira sofre muito. E qualquer "milhãozinho" gasto com a Copa do Mundo obviamente ajudaria a melhorá-la, pelo menos um pouco.
Torrar o equivalente a um mês de investimentos feitos na educação pública em estádios e no atendimentos aos caprichos da Fifa só se justificaria se o ensino público brasileiro fosse tão bom, mas tão bom, que tal quantia nem faria falta. Obviamente faz. E nem vamos falar de saúde e segurança neste post. Não é necessário. Essa Copa já foi perdida pelo Brasil.
Uma missão do blogueiro é acompanhar a seleção inglesa até o final da Copa 2014. Acesse conteúdo sobre o time conhecido como "Three Lions" aqui no blog ou no Canal Inglaterra do site clicando aqui
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Mapa das diferenças sociais publicado pelo jornal Washington Post: quanto mais vermelho, maior o abismo
Mapa das diferenças sociais publicado pelo jornal americano "Washington Post": quanto mais vermelho, maior o abismo