Como nasceu o tapetão no futebol? Sabemos que foi no campeonato carioca de 1969. O companheiro Paulo Vinicius Coelho, inclusive, abordou o tema em recente coluna na Folha de S. Paulo — clique aqui e leia. E Paulo Sérgio de Souza mergulhou nos acervos digitais de O Globo e Jornal do Brasil para recuperar a história registrada pelas duas importantes publicações naquela temporada. Foi há 44 anos que surgiu, pra valer, o tapetão no futebol brasileiro.
Naquele campeonato carioca o atacante Flavio foi expulso num jogo contra o Vasco, e estaria automaticamente suspenso por uma partida. Os dirigentes tricolores disseram à imprensa durante toda a semana seguinte que não recorreriam da suspensão. Mas entregaram ao árbitro Amilcar Ferreira, momentos antes de enfrentar o América, uma liminar obtida na Justiça comum autorizando o atacante a atuar.
Era a terceira rodada do returno da competição, Flavio, o goleador do campeonato, marcou um gol aos 40 minutos do segundo tempo dando a vitória ao seu time por 2 a 1. No turno o América havia vencido por 2 a 0. A partir desse fato, o noticiário nos dias seguintes ficou dividido entre as opiniões dos especialistas em direito esportivo, cartolas e o amistoso do Brasil contra a Inglaterra, então a campeã mundial. O jogo seria realizado no Maracanã alguns dias depois.
Foi nesse ambiente que uma pesquisa do JB (*) apontou que no Campeonato Carioca de 1951, o Botafogo perdeu um jogo para o Madureira por 2 a 1, com os dois gols da equipe suburbana marcados pelo atacante Genuíno. O clube alvinegro entrou com recurso no TJD da Federação Metropolina pedindo a anulação da partida alegando que o goleador da partida havia disputado o campeonato da Liga de Sete Lagoas (MG), pelo Bela Vista. Assim não teria condições legais para atuar em outra competição profissional naquele ano.
Quem defendeu o Madureira no julgamento foi o advogado do Fluminense, Gastão Soares de Moura Filho. Não sem motivo, já que o Botafogo disputava com o tricolor e com o Bangu a liderança do campeonato, ponto a ponto. O Botafogo perdeu no TJD por 4 a 3 e no STJD da CBD (antecessora da CBF) por 7 a 0. O processo se arrastou por meses e acumulou quase trezentas páginas.
Ao final da última rodada, Fluminense e Bangu terminaram com 31 pontos ganhos e o Botafogo com 30. Tricolores e banguenses disputaram uma melhor de três pontos em duas partidas, ambas ganhas pelo tricolor, que ficou com o troféu.
(*) O texto do JB que trata desse caso (veja a reprodução abaixo) contém erros de datas pois fala que Botafogo x Madureira aconteceu em 18 agosto 1951 e o resultado do recurso no TJD foi conhecido no dia 30 do mesmo mês. Pesquisa no arquivo digital de O Globo mostra que nesta data o Botafogo jogou com o São Cristóvão e no dia 31 não há qualquer menção ao julgamento do caso.
O CAMPEONATO CARIOCA DE 1969Disputado por pontos corridos, 12 clubes no turno, os 8 primeiros continuando no returno.
Na segunda rodada do returno, Fluminense e Vasco empatam sem gols. Foi um jogo tumultuado. Arnaldo Cesar Coelho expulsou Flavio e Orlando no primeiro tempo. No segundo, Eberval e Oliveira também foram mandados para o chuveiro.
Na segunda rodada do returno, Fluminense e Vasco empatam sem gols. Foi um jogo tumultuado. Arnaldo Cesar Coelho expulsou Flavio e Orlando no primeiro tempo. No segundo, Eberval e Oliveira também foram mandados para o chuveiro.
Na rodada seguinte aconteceram dois clássicos. Fluminense x América no sábado 31 de maio e Flamengo x Botafogo no domingo 1º de junho. Durante toda a semana o noticiário tricolor apontava para a preocupação do técnico Telê Santana em fazer o ataque funcionar sem o artilheiro da equipe e do campeonato. Dirigentes negavam que iriam recorrer da suspensão automática do jogador, imposta pelas regras do CND.
A semana marcada pelo amistoso da quarta-feira (Brasil 2 x 1 Inglaterra) teve divididas as atenções com o Fla-Flu de domingo, uma final antecipada. Os fatos novos: uma tentativa do presidente do CND de revogação da liminar na justiça comum que dava condições de jogo a Flavio. A ameaça do Botafogo (que tinha chances remotas de disputar o título) de não enfrentar o Fluminense na última rodada se o caso de Flavio não tivesse uma soluçã. E a lesão muscular do principal atacante do Flamengo, Doval.
Mais de 171 mil pessoas estiveram no Maracanã. O Fluminense abriu o placar, o Flamengo buscou o empate, o tricolor desempatou num gol muito contestado. Muitos viram impedimento de Claudio no lance. O goleiro argentino Dominguez reclamou com muita veemência do árbitro Armando Marques, que o expulsou de campo. No segundo tempo o Flamengo encontrou forças para empatar a partida, mas a 15 minutos do fim o maior personagem da competição, o artilheiro Flavio, fez o gol do título.
Viaje no tempo com as reproduções de O Globo e do Jornal do Brasil, abaixo. E o tapetão, que o Botafogo tentou emplacar em 1951, enfim foi bem sucedido 18 anos depois a partir de um recurso do Fluminense. Clube que 42 anos antes devolvera uma taça devido à escalação irregular de um atleta, como mostra matéria do site Globo Esporte — clique aqui e leia. Essa é a história.
Reprodução
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