segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Lições do Mundial

Nos últimos quatro anos, o futebol brasileiro viveu quatro situações distintas no Mundial de Clubes. O Corinthians venceu o Chelsea, o Inter e o Atlético-MG passaram vexame contra os africanos do Mazembe e do Raja, e decretou-se o fim dos tempos quando o Santos levou 4 x 0 do Barcelona.
Apesar do susto, o massacre do Barça foi mais normal do que os 3 x 1 do Raja.
Nos duelos de clubes, os sul-americanos são táticos e retrancados contra os europeus, donos da técnica e da habilidade. Antigamente, era o contrário.
O abismo econômico é a causa dessa mudança. O Bayern contrata e pode escalar 11 jogadores de sete seleções nacionais diferentes. O Atlético levou ao Marrocos sete jogadores com passagens pela seleção brasileira, mas nenhum titular. Jô, Réver e Victor disputam vagas entre os reservas.
Anormal não é sofrer contra os europeus. É virar freguês dos africanos.
Desde a criação do Mundial, times do Brasil e da África enfrentaram-se cinco vezes. Os brasileiros perderam duas e ganharam apertado três vezes. O Corinthians ganhou do Raja em 2000. O Al Ahly do Egito perdeu do Corinthians em 2012 e do Inter em 2006.
Assim que o Raja marcou o terceiro gol contra o Atlético, o técnico de um grande clube me telefonou. "O Brasil está jogando futebol de rua e por isso perde dos africanos!" Há um exagero. Se os clubes do Brasil jogam futebol de rua, o que dizer dos argentinos, que não vencem a Libertadores há quatro anos? Desde que o Estudiantes ganhou do Cruzeiro em 20009, o Boca Juniors foi o único argentino finalista da Libertadores –perdeu do Corinthians em 2012.
No passado, os clubes brasileiros sofriam na Libertadores e venciam europeus e africanos em excursões internacionais. Nos últimos 20 anos, o intercâmbio se dá apenas contra os sul-americanos. Criou-se o chavão: "Libertadores é diferente, amigo..."
Vale catimba, chutão, gol de canela para ganhar de argentinos, uruguaios, equatorianos... A malícia boa, com a bola no pé, é a única arma para abrir espaço nas defesas fechadas da África e jogar de igual para igual contra times da Europa.
Como lembrar disso, se só há partidas uma vez por ano contra europeus –e só se passar pelo africano? "Não dá mais para jogar estaduais", decretou o treinador da Série A.
Perder meio ano contra rivais semi-amadores atrasa mesmo. Bom senso é ter espaço para o Brasileirão com tempo para treinar, datas para disputar a Libertadores e também para excursões internacionais.


O futebol brasileiro não morreu nos 4 x 0 do Barcelona sobre o Santos, nem voltou à vida quando o Corinthians venceu o Chelsea ou quando a seleção ganhou da Espanha. O diagnóstico exagerado mata o doente. O remédio tardio também está matando.