terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Futebol não pára na Inglaterra. Falta bom senso? Nada disso, times brasileiros atuam muito mais

O futebol não pára na Inglaterra. Ainda há quem estranhe e de fato não deixa de ser curioso ver a bola rolando no Reino Unido enquanto em praticamente todo o mundo ela dá um tempo. Arsène Wenger reclamou da seqüência de jogos, embora esteja mais do que habituado à maratona de dezembro, que realmente desgasta os jogadores e exige elenco. O lado positivo disso? A liga mais rica do mundo segue na vitrine e atrai os olhos do planeta inteiro enquanto os demais campeonatos dão descanso aos times.
Por mais bizarro que possa parecer, uma equipe como o Manchester City completará 10 pelejas disputadas entre 1º de dezembro e 1º de janeiro. Puxado, um tanto quanto absurdo, mas lucrativo com a maior exposição dos times, jogadores, estádios sempre lotados. E não apenas na Premier League. Domingo, o Nottingham Forest (5º colocado) recebeu o Leeds United (7º) pela Championship, a segunda divisão. Foram ao City Ground, que comporta pouco mais de 30 mil pessoas; exatos 26.854 torcedores. Os dois lutam pelo acesso à elite, mas hoje não estariam classificados para jogar entre os maiorais em 2014/2015.
Football Awaydays
Nottinghan Forest x Leeds United: grande público em jogo da segundona no fim do ano
Nottinghan Forest x Leeds United: grande público em jogo da segundona no fim do ano

Quer mais? No mesmo dia, pela terceira divisão, a League One, o Wolverhampton (3º) levou 28.598 ao Molineux no duelo frente ao Leyton Orient (2º). Já o tradicionalíssimo Sheffield United (17º) recebeu o Tranmere Rovers (20º) no Bramall Lane. Mesmo em plena crise, 17.460 fãs foram ver os dois times que tentam se afastar da zona de rebaixamento para a quarta divisão. E foi por ela, a League Two, que no último compromisso de 2013 o Portsmouth atraiu 15.192 fanáticos ao Fratton Park no cotejo diante do Dagenham & Redbridge. A exemplo dos Blades na terceirona, o Pompey é apenas 17º e o pequeno londrino Dag & Red o 12º.
Football Awaydays
Wolves x Leyton: na terceira divisão inglesa, mesmo no fim do ano, público invejável
Wolves x Leyton: na terceira divisão inglesa, mesmo no fim do ano, público invejável
Portanto, os jogos em série estafante ao final do ano estão incorporados ao calendário inglês. E têm apelo, público. O negócio funciona e bem, mesmo em pleno inverno e na época de Papai Noel e Reveillon. Pode parecer falta de bom senso, talvez seja, mas ao contrário do que podem concluir os apressados ou tendenciosos, o maluco calendário da Inglaterra não rende pretextos para os absurdos que existem no Brasil. E são alvo das críticas que geram reivindicações justíssimas dos jogadores de futebol que atuam por aqui. Basta comparar os números para se chegar a uma óbvia conclusão: nada é pior do que o calendário do futebol brasileiro.
Na temporada 2012/2013, o Chelsea jogou pela Supercopa da Inglaterra (Community Shield), Premier League, Supercopa Européia, Copa da Liga (Capital One Cup), Copa da Inglaterra (FA Cup), Champions League, Europa League e Mundial da Fifa. Oito competições. Por elas se espalharam 69 jogos, num calendário absolutamente atípico. O Liverpool, por exemplo, somou 54 compromissos na mesma temporada, jogando as duas Copas nacionais, o campeonato e a Liga Europa. O Manchester United também fez 54 pelejas em 2012/2013, jogando os mesmos certames caseiros dos Reds e a Liga dos Campeões.
No ano que está se encerrando, o Grêmio participou de Campeonato Gaúcho (18 jogos), Libertadores (10), Copa do Brasil (6) e Campeonato Brasileiro (38). Foram 72 partidas. Em 2014, o Botafogo pode fazer 16 pela Libertadores, 19 no Estadual do Rio de Janeiro, oito pela Copa do Brasil e 38 pelo Brasileirão. Com isso, é possível que o alvinegro carioca some 81 compromissos entre janeiro e dezembro, 12 a mais do que os alcançados pelo Chelsea na atípica temporada passada. Um jogo a cada 3,7 dias se os atletas tivessem 30 de férias e mais um mês de pré-temporada.
Os ingleses têm mais do que isso. Líder da Premier League, o Arsenal jogou pela última rodada do campeonato inglês 2012/2013 em 19 de maio. Venceu o Newcastle no norte da Inglaterra, assegurou sua vaga na Liga dos Campeões e só voltou a fazer uma partida oficial em 17 de agosto, quando perdeu em casa para o Aston Villa na abertura da Premier League 2013/2014. Exatos 90 dias (isso mesmo, noventa dias) separaram o adeus dos Gunners a uma temporada e o início da seguinte. Nesses três meses, os atletas que não serviram às seleções de seus países na Copa das Confederações descansaram e depois fizeram toda a preparação.
Sim, os jogadores do Arsenal e dos demais times do Reino Unido tiveram tempo para férias, exames médicos, adequação ao peso ideal, treinamentos físicos, amistosos... Por essas e outras, as queixas de Wenger, que podem até fazer sentido, na prática soam como um "mi-mi-mi" infantil diante do realmente sem nexo calendário existente no Brasil. Atacar as reivindicações do bom senso utilizando como argumento o ritmo alucinante do final de ano na Inglaterra é o mesmo que zombar da nossa inteligência. Se vamos comparar, façamos de forma mais clara, por favor.