Thiago Arantes/ESPN.com.br
Conversa com garotos em Marrocos: três idiomas e uma paixão em comum
Conversa com garotos em Marrocos: três idiomas e uma paixão em comum
Era uma entrevista coletiva do goleiro Victor, no hotel Palais Selman, um castelo incrustrado em meio a uma zona pobre de Marrakech. O script era aquele de sempre: imprensa se aglomera do lado de fora; imprensa entra; alguns minutos de entrevista; portas fechadas; imprensa na porta do hotel procurando alguma coisa.
Na tarde desta sexta-feira, em Marrakech, não era apenas procurar alguma coisa. Era encontrar sonhos.
Um grupo de uns dez garotos marroquinos havia acabado de ganhar de um funcionário do Atlético uma foto - na verdade, uma espécie de cartão-postal - com o rosto de Ronaldinho Gaúcho.
Todos exibiam como se fosse um troféu. Era apenas um pedaço de papel com a foto de um jogador que já foi o melhor do mundo. Mentira. Era muito mais do que isso.
Eram sonhos meio iguais que se misturavam como um só em olhos brilhantes e sorrisos de dentes tortos. Eram faces semelhantes que mostravam alegrias distintas, cada um à sua maneira.
"Seu nome é Thiago?", perguntou um dos garotos, em inglês, olhando para minha credencial. "Sim, como Thiago Silva, do PSG", respondi. E então, os garotos começaram a gritar, apressadamente, os nomes de vários jogadores.
Thiago Arantes/ESPN.com.br
Garotos acenam com fotos de Ronaldinho para o ônibus do Atlético
Garotos acenam com fotos de Ronaldinho para o ônibus
Thiago Silva, Ronaldinho, Ronaldo, Daniel Alves, Kaká, Pato, Adriano... Não tenho nenhuma pesquisa sólida sobre isso, mas não abro mão de uma tese: entre os 6 e os 12 anos, seguramente, é a idade em que os garotos mais sabem tudo sobre futebol.
E os garotos do Marrocos sabiam muito. Um deles, o que me perguntou o nome, sabia falar inglês; os outros se esforçavam para entender e responder minhas perguntas no meu limitadíssimo francês. O pai de outro apareceu falando uma língua entre francês e espanhol (mas que não era catalão!), para me dizer que "Les personas ici de Marrocos les gusta mucho Brasil".
A conversa virou uma confusão espetacular, uma espécie de Torre de Babel, onde o grande idioma era o futebol. Foram 15 minutos de diversão, 15 minutos que pareceram passar rápido, até que passasse por ali o ônibus que levaria os jogadores do Atlético para um city tour por Marrakech.
Os garotos acenavam com suas fotos, gritando por Ronaldinho, gritando seu amor pelo futebol.
O camisa 10 não estava no ônibus, mas tomara que as crianças jamais saibam disso.
Não se pode estragar o sonho de uma criança que ama o futebol.