Era um evento para que Messi recebesse a Bota de Ouro - a popular chuteira de ouro, como ficou conhecida no Brasil.
Protocolos mil, 200 jornalistas encalacrados entre fitas de isolamento, jogadores do Barcelona passando pelo tapete vermelho com seus casacos de 3 mil euros e sem nenhuma palavra para a mídia. Messi com um terno estaile e aquela empolgação para falar inversamente proporcional à que tem para ser um artista com a bola nos pés.
Mais do mesmo.
Seria mais um evento desses que a gente vai algumas dezenas de vezes na carreira - para os menos afortunados, algumas centenas.
Mas não foi, porque ali havia um ser alheio a toda a assepsia de seus pares. Hristo Stoichkov.
Thiago Arantes/ESPN.com.br
Deem um microfone para Stoichkov, por favor
Deem um microfone para Stoichkov, por favor
O búlgaro chegou misturando-se aos jornalistas, sem entrar pelo protocolar tapete vermelho. Tanta simplicidade que, à primeira vista, pensei se tratar de algum figurão da imprensa, algum Galvón Bueño, mas daí pensei que isso não faria sentido algum, porque os figurões da imprensa não se misturam assim, ainda mais numa rara manhã de sol no outono-quase-inverno catalão.
De boca fechada, Stoichkov já era um evento por si só, a cara de um desses prefeitos de interior que gaba-se de amealhar coxinhas nos bolsos no encontro estadual do partido.
Mas foi quando o homem começou a falar uma série de coisas desconexas que, então, tudo passou a fazer sentido.
Stoichkov falou a todos os microfones que estavam ali, à espera de alguma declaração que fugisse do óbvio. Não decepcionou a ninguém.
Disse que a Bola de Ouro está armada para Ribéry, porque Platini é francês, o evento é francês, a França é p... com a Bulgária porque em 1994 perdeu a vaga na Copa, sempre tem um árbitro francês nos jogos importantes dos búlgaros, e só faltou relacionar isso ao eclipse lunar que causou uma tempestade magnética em Sofia, num obscuro episódio de 1732, conhecido como Platinev Cascatov.
Tenho minhas dúvidas se Stoichkov realmente acredita na conspiração que ele mesmo construiu ali, ao vivo, diante de jornalistas do mundo inteiro.
Mas não tenho nenhuma dúvida de que precisamos de mais Stoichkovs para animar a eterna (desnecessária, talvez?) espera pelas declarações oficiais.
O primeiro evento de Messi que vi em Barcelona não foi um evento de Messi. Foi uma performance de Stoichkov.
Melhor que Messi, melhor que Ronaldo, melhor que todos.