Todos nós - que desde o início fomos contra à realização da Copa do Mundo no Brasil e dos Jogos Olímpicos no Rio - devemos pôr a arrogância de lado e nos recolher aos limites impostos pela elegância. Nada de frases do tipo "Eu não disse?" ou de críticas aos retardatários que só agora, por casa das manifestações de rua, gastam tinta para lamentar que se tenha investido tanto dinheiro público nas "arenas" do Brasil.
O brasileiro é mesmo assim: ou otimista demais, achando que sempre se pode escrever certo por linhas mais do que tortas, ou é um enfossado a negar tudo, inclusive suas próprias virtudes. Acredito que, em relação aos dois importantes eventos esportivos que sediaremos, ano que vem e em 2016, a grande maioria da população se enquadrou no primeiro caso.
Lembro-me como se fosse anteontem. Almoçava com meu neto numa churrascaria da Tijuca quando, pela televisão, vimos o anúncio de que o Rio ganhara o direto de fazer as Olimpíadas. Antes que pudéssemos dizer "Que pena!", todo o restaurante explodiu de alegria aos gritos de "Brasil! Brasil! Brasil!". Restou-nos, como bons cabritos, o silêncio.
Por entender o orgulho daquela gente, da mesma forma que a satisfação de termos a Copa do Mundo novamente em terra brasileira, é que nos sentimos obrigados a respeitar os sonolentos retardatários que o clamor das ruas despertou.
O pior é que agora é tarde. O movimento popular que se espalha pelo Brasil, surpreendente e admirável, talvez nos leve a mudanças. Talvez resulte, como a presidenta promete, em maiores investimentos na saúde e na educação. Talvez conduza o país na direção de uma reforma política ansiada, mas sempre adiada. Talvez até entre para a História como o que fez do Brasil uma nação da qual podemos nos orgulhar. Mas os escandalosos gastos com os estádios (e a transformação destes em tribunas europeizadas e elitizadas), isso já são coisas feitas (ou malfeitas) para sempre.
Se é tarde em relação à Copa do Mundo, vale perguntar se ainda há tempo quanto aos Jogos Olímpicos. Ou será que é tarde também? Ainda se pode impedir que o insidioso COI cometa mais loucuras? Ou há esperança de que os retardatários comecem a gritar desde agora, façam coro com a voz das ruas e impeçam cartolas e ministros de repetirem tudo outra vez?