terça-feira, 30 de abril de 2013

O novo estádio aí está. Vivas para o velho estádio que se foi!

O Maracanã não é mais o Maracanã. Não me refiro às mágicas arquitetônicas, às firulas de engenharia, aos arroubos estéticos. Tudo isso é bom para os olhos. A presidenta aprova, o governador se orgulha, o prefeito diz amem. Os dirigentes esportivos se congratulam por terem cumprido, com distinção, todas as exigências da FIFA. Somos um povo bom, calado, obediente, cumpridor de seus deveres.

Refiro-me, sim, ao espírito, à alma que o antigo Maracanã teve por mais de 60 anos. Sou de um tempo em que mulher, velho e criança não iam ao futebol. À exceção de São Januário, o belo estádio do outrora portentoso Clube de Regatas Vasco da Gama, nenhuma praça de esportes do Rio oferecia conforto e segurança para tais torcedores. A partir de 1950, a torcida feminina passou a enfeitar o colorido das charangas, ao mesmo tempo em que levou para casa a observação, a opinião, o debate, que integrou, entre prós e contras, toda a família. Devemos isso ao Maracanã. O idoso, provecto mas sábio, tornou-se o único capaz de nos dizer que Neymar é tão bom de bola quanto o melhor craque de sua época. Também devemos isso ao Maracanã. O menino, com seus olhos vivos, indagadores, aqueceu a paixão que perpetua as emoções do jogo. Ainda uma vez devemos isso ao Maracanã, que abriu portas àqueles que não podiam entrar.

O antigo Maracanã, como os grandes estádios que lhe seguiram os passos, ajudou a fazer do futebol uma instituição brasileira. Democrática, aberta, única. Nele, as arquibancadas se ofereciam a todos, pobres e ricos, mulheres, idosos e crianças, todos. Nada mais afinado com o Brasil dos melhores tempos, livre, sem preconceitos. No novo Maracanã, o futebol virou festa para poucos, os ricos que têm carros para estacionar e aqueles que podem comprar caros ingressos pela internet. Já não pertence ao povo, mas a um empresário. Bonito, mas incolor, insípido, inodoro, Lindo, mas frio como uma geladeira, uma missa de mês, um match de xadrez. Não foi feito para a galera, à qual restará o consolo da TV do bar da esquina. Nele, o grito de gol talvez tenha o decibel deu um sussurro, e as vitórias serão comemoradas ao som de um minueto. Mulheres, idosos e crianças não serão impedidos de frequentá-lo. Claro, desde que possam pagar. Muito moderninho, mas pobre como um time de terceira.

Definitivamente, o Maracanã não é mais o Maracanã.