terça-feira, 30 de abril de 2013

O erro do clone


Marcação forte, adiantada, pressão sobre o condutor da bola e superioridade numérica nos lados do campo para filtrar a saída da defesa para o ataque. Parecia até a receita do Corinthians em suas mais recentes conquistas, mas não era o time de Tite. Até os 30 minutos do primeiro tempo, a Ponte Preta conseguiu trocar os papéis. E deixar a impressão de que a sonolência corintiana, demonstrada ao longo de 19 rodadas do Paulistão, teria pela frente um de seus clones.
Essa disposição para marcar é tão importante quanto o talento, que continua sendo o diferencial do futebol. E ele foi decisivo, aos 32 minutos, quando Danilo passou de calcanhar para Guerreiro chutar de longa distância, e Romarinho fazer 1 a 0 no rebote do goleiro Edson Bastos. Emerson ampliou seis minutos depois, e assim estava desmontada a mobilização campineira, que se perdeu na origem.
O erro foi confundir marcação com jogo brusco. Se o Corinthians hoje é fonte de inspiração, então que seja copiado integralmente, em sua essência. O mérito de Tite é fazer seus jogadores acreditarem que recuperar a bola sem violência produz futebol de qualidade superior.De um pênalti inexistente surgiu o terceiro gol, marcado por Guerreiro, aos 10 do segundo tempo. Quatro minutos depois, o volante Baraka foi expulso e ali terminou de vez o entusiasmo da Ponte. Alexandre Pato fez o quarto gol e provou ter sido mais fácil e simples do que se imaginava.
Exemplos. Os acontecimentos da semana podem produzir reflexos no jogo praticado por aqui, parado no tempo há décadas. Na terça-feira, os 4 a 0 aplicados pelo Bayern de Munique no Barcelona abriram o debate sobre o fim de uma era. No dia seguinte, os 4 a 1 do Borussia Dortmund desorientaram o Real Madrid de José Mourinho.
Discutir o fim desse time do Barcelona até faz sentido. No entanto, o mais importante, agora, não é tentar enxergar o ponto final de um estilo, mas o começo. Qual foi a lição aprendida nesses dois confrontos da Liga dos Campeões? A intensidade do jogo. Intensidade que a Ponte Preta tentou imprimir e se confundiu ao criar um modelo apenas de muita luta. Os exemplos estão por aí. Até mesmo uma equipe adestrada para manter a posse de bola, e funcionar em espaços reduzidos, pode ser dominada. Os problemas físicos de Messi e as falhas do sistema defensivo do Barça não explicam tudo.
Sustentados pelo jogo coletivo, os alemães atuaram com intensidade absurda, que pode ser traduzida em velocidade e capacidade técnica de buscar o gol. No Brasil, ainda acreditamos no futebol como obra individual e não uma associação de interesses comuns. Geralmente, conseguimos executar apenas frações de uma ideia, como a Ponte contra o Corinthians.
Em nenhum momento a qualidade dos times alemães pode ser questionada. Foi um show de bola de quem não se acomodou. O que eles fizeram? Construíram a Liga de futebol economicamente mais saudável do planeta, um calendário decente e passaram também a investir na formação de jogadores.
Hora de voltar à nossa realidade. Quando a seleção brasileira entrou em campo na quarta-feira, contra o Chile, assistimos ao contraponto técnico. Vimos um time acostumado a esperar a bola no pé, pouco competitivo.
Não existe opção. Essa intensidade pautará as partidas do Mundial de 2014. Se não aprendermos rapidamente, seremos atropelados solenemente pela realidade de um jogo da qual não fazemos parte, mesmo com a maioria dos selecionados jogando na Europa. Vale para a seleção e, principalmente, para os clubes brasileiros. Os campeonatos estaduais são demonstração disso. Tecnicamente muito pobres, não auxiliam em absolutamente nada no aprendizado desse futebol.