terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pra frente, Brasil!


Encontrei casualmente um treinador de um dos maiores clubes do País. Para iniciar a conversa, perguntei a ele como estavam as coisas, as perspectivas para 2013. Foi o suficiente para que ouvisse um desabafo. "Meu time não acerta um passe, é só correria". Correria, anote essa palavra.
Ele não tem culpa, fez o possível, só faltou entrar em campo para jogar. Mais importante, entretanto, foi um pedido de ajuda. "Precisamos nos unir, todos nós que trabalhamos no futebol brasileiro, para fazer alguma coisa", disse o comandante, sem pistas sobre 2013.
No momento em que as contratações para a próxima temporada deveriam estar mais ou menos alinhavadas, os cartolas de seu time ainda batem cabeça, pouco inspirados pela asfixia financeira produzida por eles mesmos. Gente sem noção de bom futebol. Sabem apenas distinguir vitórias de derrotas.
O ponto final da conversa foi uma frase que dificilmente surge nas entrevistas coletivas. "No meio de campo só tem carregador de bola no Brasil". Faz sentido, muita gente já se acostumou à correria. Não vale a pena discutir em público sobre um defeito que está próximo de ser definido como a virtude de um estilo. Boa palavra para anotar também, estilo.
Um dia antes, no Rio, Paul Breitner usou as palavras corretas para explicar como o nosso futebol parou no tempo. "Vocês estão jogando como há 20 anos. Hoje é preciso mais velocidade", disse o alemão, campeão mundial em 1974.
Não existe contradição entre o excesso de correria detectado por um e a falta de velocidade observada pelo outro. Só para quem ainda não aprendeu a ver as diferenças. Uma coisa é a correria do jogador, outra a velocidade do jogo inteligente.
Breitner falava justamente disso, de inteligência, de um País que "precisa de uma nova mentalidade, não de um novo treinador". Usou o Barcelona e a seleção espanhola como parâmetros desse modelo, que para muitos parece uma ode ao jogo lento. E avisou que é preciso olhar com mais carinho para as futuras gerações.
Para quem já assimilou os problemas, o passe bem feito, a transição defesa-ataque sem chutões e a posse de bola provavelmente constituam o conjunto de banalidades de um jogo que há tempos perdeu o sentido.
Não é por aí. Com o encerramento de mais um Campeonato Brasileiro, a décima temporada dos pontos corridos, talvez este seja o momento correto para tratarmos dessa questão, principalmente depois de 38 rodadas e muitos jogos emocionantes. Também não existe contradição aqui, emoção é diferente de qualidade técnica. O ideal é juntarmos esses dois valores.
Infelizmente não se trata de tarefa para Felipão ou Parreira. Por crença ou falta de tempo, a seleção brasileira dificilmente levantará essa bandeira. Ouviremos muito sobre um novo ciclo de vitórias e pouco sobre os meios para chegarmos a ele. Vai ser na base do "Pra frente, Brasil!"