terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Futebol jogado no Brasil não atrai interesse lá fora. Culpa dos brasileiros ou dos estrangeiros?

"A Liga dos Campeões é o objetivo máximo que tem um clube". A frase é de Vicente del Bosque, técnico da seleção da Espanha, campeã mundial e bi da Eurocopa. Declaração nada surpreendente partindo de um europeu. Mas o que há por trás dela? O recém-encerrado Mundial de Clubes da Fifa, conquistado merecidamente pelo Corinthians e mais uma vez repleto de times risíveis, proporciona uma boa reflexão.

O que motiva os europeus a se fecharem de tal forma ao redor de sua principal competição e das ligas nacionais? Auto-suficiência? Pode ser. Mas o que a explica? Creio que seja provocada pela força de suas competições, que movimentam torcidas, dinheiro, repercutindo em todo o planeta. Eles têm os mais valorizados jogadores do mundo e exploram isso ao máximo. 

Nesse cenário, fica difícil outro torneio competir em qualidade com a Champions, apesar de alguns timecos que participam da fase de grupos da competição europeia. E como a Fifa faz enorme uso do seu Mundial (distribui vagas por critérios políticos, não técnicos), o mesmo não consegue se aproximar do certame europeu no quesito técnico.

A Fifa arma seu Mundial com um representante de cada continente dando quase o mesmo peso para regiões do mundo onde se joga futebol em alto nível e outras nas quais o esporte é amador. O desafio imposto pela Liga dos Campeões é muito maior. Tivesse o torneio "fifeiro" mais equipes de nível técnico elevado (tradução: mais vagas para europeus e sul-americanos), certamente ele começaria a ficar mais atraente, desafiador.

O Corinthians tem torcida, tradição, títulos, patrocinador, um estádio sendo construído, muita mídia e um bom time de futebol. Como foi possível um clube de tal calibre ser praticamente ignorado por muitos torcedores e jornalistas europeus até a vitória na final? E que fique claro: fosse outro o representante brasileiro no Japão, não seria diferente. O futebol jogado aqui praticamente não é visto lá fora. E isso precisa ser encarado por nós, para que possamos encontrar problemas e pensar em soluções.

Quais os pontos fortes do Campeonato Brasileiro sob a ótica de um europeu que ligaria a TV de sua casa para acompanhá-lo? Times populares, jogadores jovens que podem surgir e alcançar fama internacional, bons times dentro de nossa atual realidade e, claro, jogos legais. Sim, temos muitos cotejos interessantes por aqui.

E os pontos fracos? Primeiro a pequena quantidade de partidas que realmente tenham grande apelo para quem busca um jogo atraente, sem ter vínculo afetivo com os times que estão em campo. São muitas as pelejas arrastadas, com 40 a 50 faltas, jogadores que reclamam de tudo e árbitros que marcam de tudo. Isso é somado a gramados ruins, estádios na maioria das vezes vazios e um cenário melancólico.

O produto não é bom. Se o sujeito não for um brasileiro morando no exterior ou alguém absolutamente fanático pelo futebol daqui, dificilmente irá parar para ver o Brasileirão. Até no empacotamento do produto, nas transmissões de TV, é preciso melhorar muito. Que tal colocar o dedo na ferida, enfrentar isso? Ainda mais agora, que os clubes daqui têm mais dinheiro?

Outra opção é ficarmos indignados com o jornalista inglês que desconhecia o Corinthians. E aqui volto a reforçar: seria o mesmo caso lá estivesse qualquer outro time brasileiro. Eles não conhecem porque não veem, não têm interesse no que é jogado aqui. O futebol brasileiro e sua seleção têm respeito e admiração lá fora, mas os times e o que proporcionam em campo não chamam a atenção.

Até concordo que um jornalista especializado em futebol, inglês, que acompanha o Chelsea, deveria saber o mínimo sobre o time corintiano às vésperas do torneio "fifista", isso faz parte do trabalho. Mas quantos de nós da imprensa brasileira têm amplo conhecimento sobre os demais times que disputaram o Mundial de Clubes, como o próprio Al Ahly? No geral, estamos no mesmo barco.

Alguém dirá algo como "mas o cara não acompanha o futebol jogado no Brasil, que absurdo!" E quantos da imprensa brasileira sabem algo sobre, digamos, os times que disputam o Campeonato Paraguaio? O Chileno? O Equatoriano? O Argentino? Poucos. E qual o motivo? Esses torneios não despertam grande interesse por aqui, as pessoas priorizam aquilo que lhes importa.

Sim, o Brasileirão está para um torcedor ou jornalista europeu como para nós estão o Campeonato Costarriquenho ou a Liga Postobón da Colômbia. Azar do repórter inglês que não conhece o Corinthians ou azar de quem tem tanta tradição no futebol e não consegue chamar a atenção do mundo? Pare, pense. O inimigo do progresso de nosso futebol mora em casa.

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Seedorf, astro internacional, pelo Botafogo, contra o campeão nacional Fluminense: estádio vazio
Seedorf, astro internacional, pelo Botafogo, contra o campeão nacional, o Fluminense: muitos jogos em estádio vazio