terça-feira, 13 de novembro de 2012

Campeão elegante


O gol de Fred, nos minutos finais do jogo com o Palmeiras, foi a síntese do Fluminense no Brasileiro que acaba de conquistar: sobriedade, eficiência e elegância. O centroavante entrou livre na área, vislumbrou o passe que vinha da direita, tocou de primeira, seco, sem firula, para marcar o 19.º gol dele na competição da qual é artilheiro e destaque maior. O 59.º da equipe que tem o melhor ataque. O gol da vitória por 3 a 2, o gol do título nos minutos finais, o gol que liquidou as pretensões dos demais concorrentes. O gol que deixou praticamente sem oxigênio o moribundo rival de ontem em Presidente Prudente.
O Flu de novo volta ao topo nacional, por méritos, e com larga antecedência. Depois da emoção do domingo, no atípico palco da festa, poderá conceder-se o prazer de desfilar nas três rodadas restantes, a exibir diante de Cruzeiro, Sport e Vasco a altivez, a galhardia dos que se sabem superiores - ou, vá lá, mais regulares e pacientes do que os outros.
Assim se comportou o Tricolor de Abel Braga na prova de resistência da Série A nacional. A campanha teve cadência quase marcial e só não ganhou realce, no começo, por causa do ritmo empolgante do Atlético-MG até a virada do turno. Ronaldinho Gaúcho e seus companheiros concentravam a atenção ao triturar desafiantes e abrir vantagem folgada. Mas, desde as rodadas iniciais, em maio, o observador atento notaria a harmonia do Flu. Fred e seus acólitos mantiveram a toada, deram o bote e nunca mais foram alcançados.
O Flu não vacilou - ou, no máximo, se permitiu correr riscos calculados. Não foi sempre, e monotonamente, esplêndido. Não é um superesquadrão - e é redundância dizer que não há, por aqui, um Barcelona como aquele de um ano e meio atrás. Como todo time normal, passou por apertos, levou sufoco, tomou sustos (como nos dois gols do Palmeiras, após abrir 2 a 0). Porém, tirou de letra as oscilações, ao contrário do Atlético-MG. Isso desequilibrou a balança.
Uma equipe não acumula por sorte, por acaso, por intervenção divina 22 vitórias, dez empates e apenas três derrotas. Não leva só 28 gols, o que o torna a defesa menos vulnerável. Há trabalho, método, jogadores, técnico a contribuir para retrospecto impecável. Diego Cavalieri é o goleiro do campeonato, vive momento excepcional, embora olimpicamente ignorado pelo técnico da seleção. A defesa é estável, assim como o meio de campo. O ataque tem Fred, o demolidor, o tormento dos zagueiros, também esnobado por Mano Menezes.
O Flu é campeão com legitimidade, ganhou a coroa no campo. Que se roam de inveja os que enxergam apenas complô ou que não conseguem ir além de surradas teorias conspiratórias para explicar o sucesso alheio! O Flu é campeão brasileiro porque jogou mais, não porque os árbitros roubaram, para usar o verbo popular.
No duelo com o Palmeiras teve gol mal anulado (Sóbis, ainda no 1 a 0) e pênalti sobre Marcos Júnior relevado pelo juiz. Que errou como tantos falharam, em ocasiões anteriores, a favor ou contra o Fluminense. O Flu volta para casa nos braços da torcida e, ao mesmo tempo em que comemora, já tem de espichar o olho para 2013. Com Abel, com Fred, com Cavalieri na campanha da Libertadores. Um campeão de verdade!
Ah, sim, teve um adversário pela frente... um time dedicado e esforçado, da mesma forma que é limitado e desnorteado. O Palmeiras sucumbiu a suas fraquezas esportivas, aliadas à insignificância, à autossuficiência e ao egoísmo de quem o comanda.