segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Apito maluco


Juiz é a segunda pior função no futebol. Só perde pra bandeirinha, que fica perto da torcida, ouve tudo quanto é nome feio e recebe líquidos estranhos e objetos nas costas, nos estádios menos seguros. Por definição, exercem atividade que os transforma em vilões, estejam certos ou não. E essa turma mais do que nunca anda na moda, por motivo clássico e permanente: erros em jogos tensos e decisivos.
Suas senhorias cometem lambanças e levam bordoadas a torto e a direito, independentemente do país onde se apresentem. Por exemplo: você sabe qual a diferença entre Francisco Carlos Nascimento e Mark Clattenburg? Ambos são apitadores, se envolveram em confusão no final de semana e ganharam espaço na mídia. Muda só a nacionalidade. Um é brasileiro, de Alagoas; o outro, inglês de Consett (soa pomposo, né?).
Francisco Nascimento já se destacou no Brasileiro deste ano por algumas decisões contestadas, e esteve perto de deslize fenomenal no sábado à tarde, em Porto Alegre, ao fazer menção de validar gol de Barcos marcado com a mão. Salvou-o um anjo da guarda mal identificado - uns dizem que o quarto árbitro; outros falam no delegado do jogo entre Internacional e Palmeiras.
Paira no ar a impressão de que a ajuda real veio das ondas do replay da televisão e alguém que soprou a gafe. Um bafafá que não vai dar em nada, a não ser a tímida ameaça palestrina de pedir a anulação da partida. (Quem sabe não consegue também reverter o placar de um punhado das outras 18 derrotas do time?)
A arbitragem nacional anda numa draga, é um fato. Daí, no domingo calorento, depois de exercer a obrigação democrática do voto, a gente liga a telinha para ver Chelsea x Manchester United, duelo de tubarões do campeonato mais badalado do mundo, aquele que prima pela excelência na organização, nos estádios, no trato com o público, no marketing. Os britânicos entendem do riscado. Só falta terem uma seleção forte.
O clássico estava empolgante, o Manchester abriu vantagem de dois gols, o Chelsea (e os corintianos estão de olho nele) foi pra cima, empatou na raça e teve um jogador expulso (Ivanovic). Então, entra em cena o bendito juiz e suas interpretações. Clattenburg, de renome internacional (apitou a final olímpica entre Brasil e México), achou que o espanhol Torres simulou falta que de fato sofreu e lhe lascou segundo cartão amarelo e, por extensão, o vermelho. Mais tarde, embarcou no golpe de vista - dele e do assessor - e deu como correto gol de Chicharito Hernandez, que voltava de impedimento. Placar final: 3 a 2 para o Manchester e uma chuva de reclamações dos azuis londrinos.
Dois continentes, dois dias, duas polêmicas idênticas - com a ressalva de que Nascimento teve auxílio extra. O que essas mancadas revelam? Que os juízes erram, como sempre, e que dificilmente deixarão de fazê-lo. Não tem como acabar com essa desgraça intrínseca do futebol. A não ser que apareça um professor Pardal para inventar um robô assoprador de apito que tenha olhos infalíveis. Se bem que essas máquinas maravilhosas também podem ficar malucas.
O que se pode fazer pelo menos para diminuir a margem de escorregões é submetê-los a reciclagem e treinamentos constantes, exercitá-los, como fazem os atletas nas jogadas ensaiadas, e caminhar para a profissionalização. Porque a alegação de amadorismo ainda pesa em favor deles, para aliviar a responsabilidade. E pensar seriamente em recursos tecnológicos para lances duvidosos. Ainda assim, creia, haverá muito bafafá.