O dia 5 de fevereiro de 2011 é conhecido no mundo do MMA por um motivo dos mais nobres: a "Luta do Século", entre Anderson Silva e Vitor Belfort. A luta do chute frontal, de Steven Seagal no octógono, a luta que colocou o esporte de vez no dia a dia do brasileiro médio. Ali, o UFC virou conversa de buteco - com todas as vantagens e desvantagens que isso costuma causa.

Mas o UFC 126, naquele 5 de fevereiro, no Mandalay Bay, em Las Vegas, é histórico por outro motivo. Duas lutas antes de Anderson acertar o golpe do ano em Belfort, uma disputa entre duas jovens promessas dos meio-pesados: Jon Jones e Ryan Bader. Quem vencesse subiria um degrau importante e seria o próximo na fila da disputa pelo cinturão, que aconteceria dali a seis semanas, entre Maurício Shogun e Rashad Evans.

Jones venceu o até então invicto Bader com uma guilhotina, ganhou o prêmio de finalização da noite e o direito de ser o primeiro da fila. Mas aquele dia reservava uma notícia ainda melhor: Evans havia se machucado, e Jon Jones seria o desafiante ao cinturão de Shogun, no dia 19 de março. Apesar do pouco tempo de preparação, ele aceitou a luta.
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Jon Jones encaixa Kimura que finalizou Vitor Belfort no UFC 152
Jon Jones encaixa Kimura que finalizou Vitor Belfort no UFC 152


Após aquele 5 de fevereiro, a carreira de Jones decolou. No UFC 128, ele ganhou o cinturão com facilidade, ao passar por cima de um irreconhecível Shogun. Em setembro, foi a vez de finalizar Quinton Rampage Jackson, outro ex-campeão da categoria. Em dezembro, a maratona continuou contra Lyoto Machida - vitória impressionante no segundo round, com direito a uma finalização por guilhotina de pé e ao prêmio de luta da noite.

Depois de vencer três ex-campeões da categoria, Jones teria pela frente o grande responsável - mesmo que indireto - por sua subida meteórica: Rashad Evans. Ex-companheiros de treino, eles viram a amizade se esfacelar quando Jones aceitou a luta com Shogun. No UFC 145, ambos eram rivais. Jones, mesmo sem o brilhantismo das outras lutas, venceu por pontos.

Jones havia vencido três dos quatro adversários com melhor ranking da categoria. Restava apenas Dan Henderson para que ele "limpasse" os meio-pesados do UFC. Mas veio a lesão de Henderson e, no UFC 152, um outro campeão caiu diante do incrível norte-americano: Vitor Belfort, possivelmente o segundo melhor peso médio do mundo.

O que Jon Jones fez em menos de dois anos é algo inédito na história recente do UFC. Nem mesmo Anderson Silva, o melhor lutador peso-por-peso da atualidade, teve uma sequência de oponentes tão dura. Chuck Liddell, Randy Couture, Mark Coleman... Todos eles perderam, foram surpreendidos, tinham pontos fracos.

Jon Jones parece não falhar. O campeão jamais foi derrubado e esteve em perigo pela primeira vez na chave de braço de Vitor Belfort, ainda no primeiro round. Depois de se livrar de uma finalização, mesmo com o braço lesionado, dominou por completo o brasileiro.

Pensar em uma derrota de Jon Jones em curto prazo é difícil. Bem difícil, na verdade. Uma derrota do campeão passaria por uma atuação de gala de Lyoto Machida, por um swing certeiro de Dan Henderson ou por um Shogun como nos tempos do Pride (será que ele ainda existe?). Talvez, num futuro não tão distante, Alexander Gustafsson, Phil Davis ou Glover Teixeira ganhem a oportunidade de tentar o cinturão - mas todos entrarão como azarões.

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Anderson Silva e Jon Jones: uma luta que talvez jamais aconteça
Anderson Silva e Jon Jones: uma luta que talvez jamais aconteça
O sonho de um combate entre Jones e Anderson Silva também parece distante. No UFC 148, em Las Vegas, Jones disse aoESPN.com.br que nada teria a ganhar com uma luta como esta. Disse, ainda, que gostaria de ter Anderson como um tutor, um mestre, quando o brasileiro se aposentar. Além disso, aos 37 anos, o campeão dos médios ainda ter um par de lutas pela frente na categoria - uma revanche com Belfort e combates com Chris Weidman, Michael Bisping ou Alan Belcher, por exemplo. A superluta mais provável em curto prazo é outra: contra Georges St-Pierre.

Em médio prazo, Jones pode subir para os pesos pesados, e aí o número de rivais que poderiam vencê-lo aumenta. Mas não muito: Junior Cigano, Cain Velasquez e quem mais? Alistair Overeem com os exames em dia? Fabricio Werdum, que conseguiu algo parecido ao vencer Fedor Emelianenko? Talvez. E a lista não aumenta muito mais.

Para quem acompanhou o auge de Mike Tyson, a comparação parece pertinente. Um a um, os principais adversários foram caindo. Até que o próprio Tyson resolveu se derrubar - passou a se preparar mal para os combates, envolveu-se em escândalos, foi preso e jamais voltou, de fato, à velha forma.

Jones, por mais que seja um sujeito de modos menos rudes e vida pregressa muito menos complicada do que Tyson, já teve problemas por dirigir embriagado e causou um mal-estar terrível com Dana White, presidente do UFC, por não aceitar uma luta com Chael Sonnen. Mas, até hoje, nem uma coisa nem outra afetaram o desempenho no octógono.

Nos próximos anos, o maior adversário de Jones dificilmente estará no outro córner. É contra os próprios deslizes que o campeão terá de lutar para se manter no topo. 

Que Tyson sirva de lição e possamos ver Jones no auge por muito tempo. É sempre um prazer ver os melhores em ação.