quinta-feira, 17 de maio de 2012

A dor do Chelsea em 2005, o gol do Vasco e os reféns do "tira-teima"

A discussão sobre no uso da tecnologia no futebol é grande e as opiniões se distribuem pelos radicalmente contra ou a favor e aqueles que fazem ressalvas, entre os quais me incluo. Há lances nos quais mesmo com o recurso da imagem, do replay, não existe certeza sobre o que de fato aconteceu. Há situações em que a TV aumenta a dúvida até.

O Chelsea, que sábado decidirá a Liga dos Campeões contra o Bayern Munique, reclama até hoje da desclassificação nas semifinais de 2005, diante do Liverpool. Após superar o próprio adversário alemão, a equipe londrina cruzou com os rivais ingleses de vermelho. Em Stamford Bridge, empate em 0 a 0, no Anfield Road, 1 a 0 para os Reds, gol (?) de Luís Garcia.



Até hoje não sabemos e provavelmente jamais saberemos se Gallas tirou a bola antes ou depois de a mesma ultrapassar completamente a chamada linha fatal. E aquele não foi o único lance polêmico da história do futebol que nem mesmo todas as câmeras de TV conseguiram decifrar.

Gallas tira a bola que ia entrando: ultrapassou a linha ou não?
Gallas tira a bola que ia entrando: ultrapassou a linha ou não? Não se sabe...
Mas no Brasil, mesmo que de maneira informal, vive-se há alguns anos em meio a uma espécie de "apito eletrônico virtual extra-oficial". Estamos nos referindo ao "tira-teima" da TV Globo. É evidente que trata-se de recurso que enriquece a transmissão, mas daí a elegê-lo como infalível, vai uma boa distância. Não concordo com os que o tratam como absoluto.

Não estou insinuando que o "tira-teima" é manipulado para este ou aquele lado, vale frisar aqui antes que alguns tirem equivocadas conclusões. Mas é algo operado por seres humanos, que podem errar, assim como uma máquina eventualmente falha. Apesar do nome até certo ponto pretencioso, o "tira-teima" pode, sim, ser questionado em determinadas situações.

Na importante partida da Libertadores noite de quinta-feira, Alecsandro empurrou a bola para as redes do Corinthians, mas a arbitragem anulou o gol. O atacante do Vasco estaria impedido. Mas havia um jogador do Corinthians, Emerson "Sheik" aparentemente dando condições ao vascaíno.

Acionado, o "tira-teima" cravou que o impedimento existiu. No canal Fox, que também transmitiu o cotejo, Carlos Eugênio Simon disse que não, ou seja, que a posição de Alecsandro era legal. Será que apenas o ex-árbitro pode estar equivocado? A máquina e seu operadores não falham?

O tira-teima: bola parece ter partido um pouco antes de congelarem a imagem
O tira-teima: bola parece ter partido um pouco antes de congelarem a imagem

Veja acima que na imagem do "tira-teima" a bola já partiu a uma fração de segundo no momento em que ela é congelada. Pelo menos é a minha sensação. Paramos o lance no instante do passe de cabeça do Diego Souza a partir da imagem da Fox (abaixo) e o centroavante parece na mesma linha.

As linhas posicionadas na imagem por torcedores: mais discussão
A Diego Souza toca com a cabeça: Alecandro e Sheik aparecem na mesma linha

Por falar em linha, rapidamente pipocaram nas redes sociais pela internet outras reproduções do lance. Torcedores também têm os seus "tira-teimas" hoje em dia, e alguns pegaram o momento do passe e puseram riscos sobre a imagem para provar que havia impedimento, ou não. Outros questionam a confiabilidade ou se as linhas estão mesmo no local certo.

Diego Souza toca com a cabeça: Alecandro e Sheik na mesma linha
As linhas posicionadas na imagem por torcedores: mais discussão sobre o lance

Mas poucos desconfiam do "tira-teima", como se o ser humano que o controla fosse dotado de um poder superior, um homem infalível. Basta que congele a imagem um pouco antes ou depois do momento certo para induzir muitos a acreditarem em algo pelo menos questionável.

A Globo deve continuar utilizando o "tira-teima", óbvio. Mas ninguém é obrigado a se curvar a ele sempre, ainda mais em lances como o do gol, a meu ver legal, feito por Alecsandro. Fiquemos, cada um de nós, com as respectivas opiniões, sem a ditadura do olho eletrônico, que eventualmente pode estar míope.