segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sobre a Liga que ressuscita, o Foo Fighters e eventos em São Paulo

Bola e música. Além de dar nome ao programa do amigo Rodrigo Rodrigues, as duas coisas estão muito presentes na minha vida. Mais a bola do que a música. Mas essa balança foi se equilibrando ao longo dos anos e hoje não saberia dizer se prefiro um bom jogo ou um bom show.

Uma diferença fundamental é que futebol tem toda semana, quase todo dia. E eu gosto de ver jogos daqui, da Inglaterra, Espanha, onde for. O jogo me encanta. Com música, é diferente. Por mais que haja um pequeno número de gêneros que eu abomine, são poucas as bandas que me fazem gastar dinheiro e tempo para ir a um show, baixar um CD completo, decorar as letras.

Nesse fim de semana, a música falou muito mais alto do que o futebol para mim.

Antes, a bola. Não vi o jogo do Barcelona, vi o empate do Real Madrid. Não vou me alongar muito sobre a discussão do futebol na Espanha. Eles são campeões da Europa e do mundo com times formados por jogadores que atuam na liga espanhola, têm os dois melhores times do planeta (disparado), outros tantos de grande qualidade, estão disseminando nas bases o futebol que todo mundo sonha em ver no Brasil... mas ainda se insiste que o campeonato é uma porcaria, etc, etc, etc. Não vou me alongar nesse post, falo mais disso durante a semana, porque acho que vale a pena.

Mas, enfim. Quem acompanha futebol, sabe que o Valencia tem um time bom. Bem montado por um ótimo técnico (injustiçado pelas bandas dos laranjais valencianos), com jogadores de qualidade e capazes de encarar o Real de frente. Foi o que aconteceu. Claro que o Real Madrid esteve mais perto do gol, mas não seria absurdo se tivesse perdido o duelo.

A volta de Di María é fundamental nessa reta final, é um jogador tático, com poder de finalização, de drible e de criar chances. Kaká, creio, ocupará mais o espaço de Ozil nos jogos grandes - deveria ter entrado antes contra o Valencia.

O fato é que, por mais normal que o resultado seja, o Real Madrid empata pela terceira vez. E a diferença, que era de 10, agora é de 4 pontos. Eu dava a liga como morta. Obviamente, ela não está. Estava e não está mais. Isso se chama ressurreição.

Há quem diga que ela nunca esteve morta. Eu discordo. O andar da carruagem mostrava um Barcelona instável, alternando grandes jogos com atuações médias e excesso de Messi-dependência. E o Real Madrid ganhando de todo mundo com sobras. Por jogo apresentado e chances de gol, era para ter ganhado do Málaga. Do Villarreal. E do Valencia. Não ganhou de nenhum dos três.

O Barcelona vem de 9 vitórias seguidas e vai ter que ganhar os últimos 7 jogos para ser campeão (não seria um milagre e, sim, um feito). Se não vencer o duelo direto com o Real Madrid, no Camp Nou, esquece. Se vencer o duelo direto, mas tropeçar alguma vez, terá de torcer por dois outros tropeços do Real. Ou seja, percebam que o Barcelona, caso não ganhe seus sete jogos, terá de contar com que o Real Madrid não ganhe três de sete. Muito difícil que isso aconteça.

A tabela do Real é mais complicada. Terá de ir ao Calderón no meio da semana e a Bilbao a três rodadas do fim. Mas o Barcelona tem um elenco mais curto, e a parte física pode fazer diferença na reta final. De todas as maneiras, a disputa está reaberta e todas as rodadas terão "finais" para os gigantes. A liga, como dizem lá, está "al rojo vivo".

Chega de bola, vamos à música.

Todos temos bandas preferidas, né? As minhas, são quatro, e não necessariamente nessa ordem. Beatles, ACDC, Metallica e Foo Fighters. Então foi um momento especial para mim ter uma dessas bandas tocando pela primeira vez em minha cidade nesse fim de semana.

Primeiro, a corneta soa. Precisamos aprender a fazer eventos. São Paulo cresce, o Brasil cresce, as coisas começam a acontecer por aqui, mas parece que não acompanhamos a necessidade de evoluir na organização de eventos.

Com todos os elogios que merece o Lollapalooza (toda uma instituição!), não dá para termos uma hora de fila para comprar as fichas no caixa. Depois uma hora de fila para pegar algo nos bares/lanchonetes. E mais uma hora de fila para ir ao banheiro. Não dá para ser montada uma estrutura com duas torres enormes e tendas na frente do palco principal. Visibilidade comprometida, terreno em declínio, ideal para qualquer coisa, menos shows. Telões que mais pareciam TVs de 29 polegadas e não permitiam o bom acompanhamento dos shows à distância. Tudo isso precisa melhorar.

Aí, fora do festival, aquele abandono de sempre com o qual temos de conviver os que moramos em São Paulo. A prefeitura de São Paulo é uma instituição nula. Não serve para nada. E deu mais um show de incompetência em um evento programado há mais de quatro meses. Não havia engenharia de trânsito, transporte público, bolsões de estacionamento, organização para táxis, iluminação, segurança. Nada. 70 mil pessoas saíram ao mesmo tempo do mesmo local e... nada. Uma vergonha total.

São Paulo adora se gabar por ser a "locomotiva do Brasil". Havia milhares de pessoas de outros Estados no Jockey sábado, era possível ouvir sotaques de gente de todos os lugares do país. Não devem ter ficado muito impressionados com São Paulo, não.

Bom, guardo a corneta no bolso para dedicar algumas palavras ao show do Foo Fighters.

Em 13 de janeiro de 2001, 11 anos atrás, eu fui ao Rock in Rio para assistir ao REM. No mesmo dia, tocaria o Foo Fighters. Eu conhecia as principais músicas, gostava delas, mas a ideia era ver a banda que fecharia aquele dia. Fui pra ver o REM. Vi Foo Fighters. No dia seguinte, comprei três CDs em algum shopping do Rio. Os três CDs que a banda tinha lançado até então.

Foram 13 músicas, êxtase total. Na época, o Napster era dos meus melhores amigos. E meu IPod toca até hoje três ou quatro músicas daquele show específico. Nada como a Internet para eternizar momentos eternos de nossas vidas.



Morei cinco anos na Europa, onde bandas tocam em todas as esquinas, e não fui a nenhum show do Foo Fighters. Passei o domingo "à la Mourinho" me perguntando: "por que? por que? por que?". Sei lá por quê. Mas não fui.

Muitas vezes na vida a gente se encanta com alguma coisa - um show, um restaurante, uma praia, um lugar - e, quando tenta repetir o momento, se decepciona. As coisas nunca são iguais. E são raras as coisas tão boas, mas tão boas, que ficam em nossas memórias e corações para sempre.

Eu estava com um certo medo, confesso. Receio talvez seja a melhor palavra. 11 anos depois, voltaria a ver o Foo Fighters. E se não fosse tão bom? E se, aos 32, meu pique e meu estado de espírito fossem muito distintos dos meus 21 anos de idade? E se eles não tocassem a música X ou a Y?

É. Não foi tão bom.

Foi melhor.

A mulher da minha vida, que eu tinha deixado alguns metros para trás no meio da multidão de 2001 (nunca me perdoei), ficou o tempo inteiro ao meu lado em 2012. Amigos do coração também estavam comigo. E putz, eles não me decepcionaram. Nada me decepcionou. 26 músicas. 26 músicas que eu gosto e conheço. O dobro de 2001 para um coração que pedia o dobro, mas ficaria igualmente feliz com o triplo, com o quádruplo. Na verdade, acho que eu poderia ver seis, sete horas de show sem reclamar. Talvez esse show pudesse tocar em loop constante em minha vida.

Alguém tuitou a seguinte frase, sei lá com qual intenção: "Quem disser que essa noite viu o show da sua vida vai estar contando mais sobre a sua vida do que sobre o show de hoje". Espero, ao corroborar tal frase, estar contando aos leitores coisas boas sobre mim.

Como não consigo parar de pensar e repassar os detalhes do evento de sábado, assisti a um DVD que comprei e não havia tirado da caixa. Back and Forth. A criação da banda e toda sua história. A história de uma banda que gira em torno de um cara que foi baterista de uma outra tal banda que simplesmente revolucionou o mundo 20 anos atrás. Para quem gosta, fica a recomendação.

Vida longa ao rock and roll. Vida longa a David Grohl. Vida longa aos Foo Fighters.




Clique aqui para ver o set list do show do Rock in Rio em 2001. Aqui para ver o set list do show de São Paulo, sábado. E aqui para assistir, no You Tube, o show completo.