segunda-feira, 9 de abril de 2012

Crônica de um 0 a 0 eletrizante

O Real Madrid x Valencia deste domingo poderá ser citado como exemplo de que um jogo de futebol não depende de muitos gols para ser emocionante. O duelo do Santiago Bernabéu, pela tensão que carregava dos dois lados, foi um dos melhores momentos da temporada que se aproxima do final.

O elenco de José Mourinho tinha a oportunidade de entrar para a história do clube como o primeiro a marcar pelo menos um gol em 42 partidas oficiais consecutivas. Então, como se fosse uma maldição, ficou outra vez nos 41. Como já havia acontecido entre 1951 e 1952 e entre 1988 e 1989 - este último com um time inesquecível que alcançaria o pentacampeonato espanhol em 1990.

Antes do Valencia, 15 times haviam visitado o Bernabéu na liga. Só dois haviam conseguido tirar pontos: o Barcelona, que venceu, e o Málaga, que empatou. Onze deles levaram pelo menos quatro gols.

O Valencia, por sua vez, tinha somado apenas um ponto nas últimas três rodadas, jogando fora a boa vantagem que havia construído na terceira colocação. No empate por 1 a 1 com o Levante, uma semana atrás, os torcedores protestaram contra o técnico Unai Emery. A goleada sobre o AZ, pela Liga Europa, devolveu um pouco da confiança.

Mourinho escalou o ataque dos 101 gols na temporada - Cristiano Ronaldo (49), Benzema (28) e Higuaín (24) - e se deparou com um Valencia que, no papel, parecia ultradefensivo. Jonas foi sacrificado para a escalação de mais um meio-campista, Tino Costa, enquanto Soldado, com problemas físicos, começou no banco. Na lateral-direita foi escalado o zagueiro Ricardo Costa.

Tinha tudo para se desenhar como um duelo de ataque contra defesa, daqueles em que a resistência do visitante acaba caindo diante da pressão. Havia sido assim em outubro, quando o Betis conseguiu levar o 0 a 0 até o intervalo, mas acabou caindo por 4 a 1.

Desta vez, no entanto, foi diferente. O Valencia não apenas se defendeu com competência, como foi constantemente perigoso nos contragolpes. A bola na trave de Cristiano Ronaldo foi respondida por uma de Ricardo Costa, em uma cabeçada que pegou toda a defesa batida, pedindo um impedimento que não existia.

No intervalo, Mourinho colocou Di María no lugar de Higuaín, sabendo que a velocidade do ex-benfiquista seria importante. Di María entrou bem, mas o segundo tempo se transformou em um recital do goleiro Guaita, que fez pelo menos três defesas brilhantes para mostrar como o Valencia está bem servido de goleiros. Emery se dá ao luxo de promover um revezamento, com Guaita jogando no campeonato e Diego Alves nas copas.

O Valencia também teve suas chances de arrancar a vitória. O travessão impediu o gol de Tino Costa, e Casillas impediu que o bom lateral Jordi Alba marcasse.

Foi um empate sem gols, mas as emoções sobraram em um jogo que não baixou de intensidade ao longo dos 90 minutos. Bom não apenas para o torcedor neutro, mas também para o do Barcelona, que viu sua desvantagem cair para 4 pontos, depois de chegar a ser de dez.

Restando sete rodadas, incluindo um confronto direto muito aguardado no Camp Nou dentro de duas semanas, a liga está muito aberta, e o lado psicológico terá muita influência no que vem pela frente. Na disputa por título, por Champions, por Europa League e por permanência na primeira divisão.