segunda-feira, 2 de abril de 2012

Chega de demagogia

A Polícia Militar recomendou ao Corinthians que não use mais a quadra da Gaviões da Fiel como ponto de venda de ingressos. O Corinthians informa que utilizava essa forma para vender os bilhetes, porque o estatuto do torcedor obriga a distribuir em cinco pontos diferentes da cidade. E porque era a melhor maneira de reunir os uniformizados num mesmo local do estádio - os ingressos são numerados - sem incomodar os torcedores comuns.

Nos anos 90, quando os bilhetes não tinham números, a Justiça proibiu o funcionamento das uniformizadas, mas elas se reuniam nos mesmos lugares de antes, nos estádios, só que sem uniformes. A justificativa: sem numeração dos ingressos, era impossível impedi-los de se sentar lado a lado. Hoje os integrantes das uniformizadas sentam-se lado a lado porque a polícia recomendava vender ingressos de modo a agrupá-los.
Os dirigentes do Corinthians julgam que agora a Gaviões terá mais dificuldade de se reunir no setor amarelo do Pacaembu, por não conseguir comprar ingressos com numerações próximas.
Mas a Mancha nunca comprou ingressos na sua quadra e sempre se reuniu nas arquibancadas. Entram no estádio, sentam-se em local diferente do numerado e... Tudo bem! A polícia não os separa. Uma semana após os dois homicídios da Inajar de Souza, a 13 km do Pacaembu, o assassino está solto e, provavelmente, rindo. Cinco envolvidos na rixa estão presos, os cinco da Mancha.
Mas os dois torcedores mortos eram palmeirenses, o que indica que o assassino estava do lado da Gaviões. Logo, não há nenhum suspeito dos homicídios encarcerado.
A Secretaria de Segurança Pública informa que o inquérito avança. Os gaviões suspeitos viajaram para o Rio, o que dificultou a prisão. A Delegada Margarette Barreto, do Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) diz que o resultado da investigação será positivo. Ela é candidata a vereadora, mas não assume.
"Então a senhora não é candidata?", questiono. "Eu não disse isso", a delegada responde.
Fernando Capez foi o promotor responsável pela extinção da Mancha e da Independente, nos anos 90. A medida não resolveu nada. Hoje, 17 anos depois, seguimos discutindo violência de torcidas. Capez é deputado estadual.
Quem deveria prender assassinos faz política. Terça-feira, pedi uma entrevista ao governador Geraldo Alckmin sobre violência no futebol, dois anos antes da Copa. Ele se recusou a falar.
A questão é de estado. Nos últimos 30 anos, proibiram torcidas, bandeiras, cervejas... Prender e manter presos os assassinos? Não, isso não se fez. Dizem que a situação dentro dos estádios melhorou. Meia verdade. Não há brigas entre as torcidas, mas entre torcedores e policiais, sim.
De 2009 para cá, quando começaram os clássicos com 10% de torcedores visitantes, a PM teve seis arranca-rabos com torcedores. Num deles, baleou dois torcedores em Presidente Prudente.
A violência não é um problema do futebol. É questão de polícia e de Justiça. A polícia deve prender, a Justiça manter o criminoso preso. Eu pago imposto, exijo segurança. Quero ir ao cinema, ao teatro, levar meu filho à escola. Quero ir ao estádio em paz!