terça-feira, 20 de março de 2012

No estádio ou no sambódromo, viva a cervejinha

Se o ministro disse, está dito: “Proibir cerveja em campo de futebol é o mesmo que proibir cerveja no carnaval”. Vá lá que, no íntimo, o ministro não pense assim. E que a frase seja apenas um modo de justificar o recuo do Governo da posição de não aceitar que as regras da Fifa valham mais que as leis do país. Vá lá, também, que o presidente que antecedeu a presidenta, na pressa de trazer a Copa para o Brasil, tenha assumido compromissos que deram à FIFA o direito de sobrepor suas regras às leis brasileiras. Entende-se tudo isso. Mas custava alguma coisa justificar o recuo de outra maneira? Por exemplo, dizendo que palavra de presidente não volta atrás, que compromisso é compromisso, que acima de tudo está a importância de realizarmos uma grande Copa.

Fato é que a história da cerveja, como o ministro a colocou, lembra a época Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País), série de achados que ajudou a imortalizar o grande Stanislaw Ponte Preta. Quando deputado, o ministro já havia se candidatado a um lugarzinho na ilustre galeria, propondo o “Dia do Saci Pererê” para substituir as comemorações de Halloween no Brasil; fazendo campanha para limitar os estrangeirismos que castigam o nosso idioma; ou criando o “Pró-Mandioca”, movimento para que se acrescentasse à farinha de trigo, a mesma do pão nosso de cada dia, grãos do velho e bom aipim. Bem que o deputado fez por onde.

Indo mais longe, é inevitável pensar em como se dão os processos sucessórios no esporte brasileiro. Competência e adequação raramente contam. Na CBF, o novo mandatário foi escolhido por uma preciosidade estatutária: que entrasse o mais velho e não o mais adequado e capaz. No Ministério, a indicação partiu do princípio de que a pasta “pertence” ao partido que a recebeu em troca do apoio político ao presidente e à presidenta. Mais uma vez, não se pensou no melhor.

É verdade que o atual ministro é homem de bem, correto, trabalhador, etc., etc. Demos vivas quando o anterior se foi, deixando atrás de si um rastro de irregularidades que incluía desvio de recursos públicos e gastos indevidos com cartão corporativo. Pode? Mas não seria melhor o cargo ter sido entregue a um homem (ou mulher, como talvez preferisse a presidenta) com fôlego, decisão, firmeza e presença para representar o Governo nesta complicadíssima parceria com a CBF? Um ministro que até dissesse amem à cerveja da Fifa, mas que o justificasse com um mínimo de seriedade.