segunda-feira, 26 de março de 2012

Até quando?


O clássico de ontem à tarde no Pacaembu foi emocionante, como só um Corinthians e Palmeiras costuma ser. Muito bom público, virada (desta vez alvinegra), catimba, fim de invencibilidade e mudança no topo da classificação. Mas ambas as torcidas perderam, a sociedade se machucou mais uma vez, pela violência, pelas pauladas, pelos tiros, pela morte como consequência da briga que houve antes do duelo esportivo.
Não há como festejar a alegria da bola na rede, se por causa disso jovens se agridem, armam tocaias, se preparam para um espetáculo como se fossem para a guerra. E eles encaram esses momentos como batalha de verdade, com barras de ferro, soco inglês, paus, pedras, rojões. Revólveres. Não são refregas juvenis à base de empurrões, tapas e xingamentos banais. Trata-se de emboscadas, de armadilhas preparadas com antecedência. A estratégia de luta é a de guerrilha urbana. Os choques não ocorrem entre turmas de amigos, mas com tropas paramilitares que querem terror, sangue, medo. E cadáveres.
O mais triste, revoltante, estarrecedor é constatar que as vendettas são marcadas na base do boca a boca, rádio peão, torpedos por celulares, redes sociais e o diabo a quatro! São tragédias anunciadas, previsíveis, até com lugar certo para acontecer. E ninguém faz coisa alguma! Há décadas se perde tempo com reuniões entre líderes de facções, se ameaça com pressão aqui e ali, e todos prometem paz. Para se baterem no dia seguinte, na semana seguinte, no mês seguinte, no ano seguinte! Sempre!
Os bandos zombam das autoridades, apostam na inércia e na impunidade. A todo momento morre um rapaz - e não acontece nada, nada. Nada! Ou melhor, acontece sim: um assassinato é compensado com outro, na pior tradição do crime organizado, da máfia. A cultura da violência não será extirpada enquanto os moleques não tiverem a consciência de que o Estado age, de que existe Lei. Na verdade, eles percebem que ocorre justamente o contrário. E se fortalecem.
É covardia ostentar indiferença ou desprezo por esses choques de moços desnorteados. Fingir que está tudo bem porque, afinal, "são bandidinhos que se matam", é referendar a incompetência de quem deveria atuar, com educação e com repressão quando necessário. Fazer de conta que não temos nada com isso é a melhor maneira de estimular a barbárie. Até que entre na casa de todos.
Emoção, erros e virada. Mas que foi bonito o dérbi, não há dúvida. O Palmeiras controlou o Corinthians no primeiro tempo, fez um gol com Marcos Assunção e desperdiçou duas chances, com Barcos e Valdivia. O goleiro Deola só teve trabalho em uma ou outra reposição de bola e ao tomar uma sapatada de Liedson no peito.
A invencibilidade de Felipão e sua turma tendia a permanecer intacta até desabar em seis minutos, apenas, na etapa final. E, por ironia, na bola parada, especialidade verde. Em duas faltas, a virada e uma tremenda falta de sorte de Márcio Araújo, que participou dos dois lances: no primeiro, ao "ajeitar" para Paulinho; no segundo, ao empurrar para o gol.
Pronto. Bastaram aquelas jogadas para tudo mudar. O Corinthians se encheu de brios, dominou, criou oportunidades, se impôs. O Palmeiras se empanturrou de medo e de erros (como Felipão trocar o veloz Maikon Leite pelo limitadíssimo Ricardo Bueno). O time seguro e ousado da primeira parte voltou a ser acanhado, inseguro e débil como no ano passado. "E o salário, ó"