segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

VÍDEO: Da falsa modéstia de Muricy à "derrota" da CBF no Pará

"Eu só vou dizer que Mourinho e Guardiola vão ganhar um 10 quando eles forem trabalhar no Brasil. O dia que eles forem trabalhar no Brasil e ganhar no Brasil, aí vão ser melhores do mundo". A frase é de Muricy Ramalho, que já havia dito algo nesse sentido e repetiu em sua primeira entrevista coletiva no Japão, onde o Santos disputará o Mundial de Clubes da Fifa.

Quanta modéstia, não? Imaginem se essa frase fosse, por exemplo, de Vanderlei Luxemburgo. Muricy pode ser um homem sem vaidade física, anda de agasalho, não está nem aí para ternos bem cortados, o boné sobre sua cabeça muitas vezes fica desgrenhado, tampouco ele se preocupa em frequentar lugares sofisticados ou parecer intelectualizado.

Mas isso não significa que ele seja um cidadão desprovido de qualquer ostentação. Muricy é vaidoso sim. E a vaidade do treinador santista é profissional. Sua necessidade de reconhecimento é evidente, e atingiu níveis inéditos quando ganhou a Copa Libertadores. A entrevista após o triunfo diante do Peñarol foi repleta de elogios a ele mesmo. Foi além de um desabafo.



Veja o vídeo com a análise sobre Muricy, feita no Bate-Bola de 6ª feira!
E Muricy tem todo o direito de ser assim, como cada um de nós tem todo o direito de gostar, ou não. O que não "cola" é a ideia de que o treinador quatro vezes campeão brasileiro é um cara "super humilde", quando desmerece o trabalho de dois dos melhores profissionais do mundo naquilo que ele também faz. Assim, de forma indireta, joga confetes sobre ele mesmo.

O próprio Luxemburgo, que possui mais títulos nacionais do que Muricy (são cinco), esteve no Real Madrid dos "galáticos" e não conseguiu mais do que uma passagem de razoável para boa. Se a tese do treinador santista fosse correta, Vanderlei dificilmente estaria, hoje, no Ninho do Urubu, mas à frente de algum gigante europeu.

Mourinho ganhou uma Liga dos Campeões com o Porto, algo bem mais complicado do que faturar um Brasileirão com São Paulo ou Fluminense, ou mesmo levantar uma Libertadores à frente do Santos de Neymar. Isso sem falar nos demais títulos com Chelsea e Internazionale, clube pelo qual alcançou o segundo título europeu, deixando no caminho o Barcelona.

Pep Guardiola aprimorou o Barça, tem revolucionado o futebol ao fazer com que os excelentes jogadores do elenco catalão apresentem um jogo cada vez mais envolvente, competitivo, espetacular e vencedor. Algo que vai muito além do que muitos rotularam como 'Muricybol", a vitoriosa mescla de marcação forte, defesa feroz e muitas jogadas de bola parada.

O valor do técnico do Santos é inquestionável. E não acho justo quando o identificam apenas como alguém que só monta times defensivos. O São Paulo de 2006 desmente tal tese — teve a melhor defesa e o ataque mais positivo. Mas é feio, muito feio, quando desmerece feitos de outros profissionais exibindo como argumento o seu próprio cartel.

Imaginem o que falariam no Brasil se Mourinho dissesse sobre o santista algo como "só provará que é bom se for campeão na Europa". Críticas cairiam sobre o português como uma avalanche. Não seria verdade. Muricy é ótimo. E não seria justo. A diferença é que o marrento técnico do Real Madrid é assumidamente vaidoso. Muricy, por sua vez, é o falso modesto.

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A população do Pará rejeitou a divisão do Estado em três. Com isso, a CBF perde a chance de ganhar apoio de mais duas federações estaduais. Ou alguém acha possível surgir um cartola revolucionário, contra o que está aí ha tanto tempo? Seja lá onde for.