segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Trapattoni, a Irlanda e o gato no saco

Dois anos atrás, Giovanni Trapattoni tinha razões para reclamar da sorte. O italiano, à frente da seleção irlandesa, viu a mãozinha malandra de Thierry Henry eliminar suas chances de classificação para a Copa do Mundo de 2010, que marcaria o retorno da equipe a uma grande competição após oito anos.

Desta vez, não haverá árbitro capaz de impedir o sucesso de Trapattoni na Irlanda. A goleada de 4 a 0 sobre a Estônia, fora de casa, transformou a partida desta terça-feira em mera formalidade. A ocasião ideal para festejar a vaga em uma Eurocopa pela primeira vez desde 1988. Na época, apenas oito seleções disputavam a fase final, e os irlandeses chegaram sob o comando do mítico Jack Charlton.

Àquela participação se sucederiam as classificações para duas Copas do Mundo, em 1990 e 1994, na era mais celebrada da história da seleção. Trapattoni espera dar início a uma era semelhante, e há gente importante, como o próprio Charlton, que defende sua renovação de contrato para trazer a Irlanda ao Brasil em 2014.

O italiano de 72 anos é uma das figuras mais respeitadas do futebol internacional, com retrospecto invejável em sua longa carreira. Coleciona dez títulos nacionais em quatro países diferentes. Em competições internacionais de clubes, levantou sete troféus em oito finais (seis deles com a Juventus).

Trapattoni é conhecido não apenas por sua competência em armar sistemas defensivos (sua Irlanda levou apenas um gol nos últimos dez jogos, entre eliminatórias e amistosos), mas também por seu lado folclórico.

Cabem parênteses: em 2002, o apito já havia sido cruel com o velho Trap, que tinha sua oportunidade há tempos aguardada com a seleção italiana. O equatoriano Byron Moreno, hoje preso nos Estados Unidos por tráfico de drogas, se encarregou de selar a derrota da Azzurra para os anfitriões sul-coreanos nas oitavas-de-final.

Naquela Copa, Trapattoni chamou a atenção por levar água benta para o banco de reservas. Dois anos depois, na Eurocopa, a Itália decepcionou e acabou eliminada na primeira fase, por causa de um empate por 2 a 2 entre Suécia e Dinamarca - curiosamente, o placar que servia para classificar as duas seleções. Vários jogadores daquela equipe seriam campeões mundiais com Lippi dois anos depois.

Voltando ao lado folclórico. Após a goleada de Tallinn, a maior da Irlanda com Trapattoni em um jogo de competição, o técnico tentou explicar em inglês um provérbio que gosta de citar: "Non dire gatto se non ce l'hai nel sacco". Não diga gato se você não o tem no saco. Ou seja, não comemore antes do tempo.

"No say the cat is in the sac when you have not the cat in the sac", mandou Trapattoni, para risadas gerais na sala de imprensa.

Uma cena que vai para o rol liderado pelo desabafo contra jogadores "preguiçosos" do Bayern de Munique, em um alemão macarrônico. O vídeo virou ainda mais popular porque Strunz, atleta criticado pelo treinador, tem pronúncia semelhante a um palavrão em italiano.

Nos vídeos abaixo, você ainda pode ver Trapattoni se enrolando entre vários idiomas para se expressar em português durante a passagem pelo Benfica, e como ele deixou uma tradutora em maus lençóis para explicar que, na Itália, "querem o ovo, o c... quente e a galinha".