quarta-feira, 4 de maio de 2011

Reflexões de Abbottabad

Real Madrid x Barcelona, Santos em sufoco de matar um do coração, Messi em campo, mas...Convenhamos, o centro do mundo por esses dias é Abbottabad...Não dá pra dormir sem algumas reflexões...Algumas indignadas, outras simples curiosidades ou interrogações.

- Algo me chama mais atenção, se é possível, do que a morte de Bin Laden: pois então chegamos ao ponto de barbárie em que o chefe da CIA, Leon Panetta, vem a público e confessa que o caminho utilizado nas investigações para chegarem ao terrorista foi a tortura em Guantánamo e isso não causa uma indignação mundial? Em que mundo estamos vivendo? Onde estão aqueles que adoram chamar os outros de ditadores, bradar sobre direitos humanos e que não dão uma palavra sobre o assunto? Qual é o critério de nossos meios de comunicação para chamar fulano ou sicrano de ditadores e nada falam sobre torturadores confessos? O requinte foi além: tal e qual um Capitão Nascimento, Panetta dá detalhes: sacos plástico e asfixia eram o método científico de interrogatório em Guantánamo.

- O que houve com a CIA? O que explica tanta mudança? Quando mataram Che Guevara, o corpo ficou exposto durante dias. A foto rodou o mundo. Com Saddam Hussein não foi diferente. Ninguém pensou em consequências ou recrudescimento do terrorismo, argumento usado agora para não termos fotos ou imagens de Bin Laden, ao exibirem o carniceiro em situações vexatórias. Da mesma forma, os facínoras que aprendiam técnicas de tortura nos campos de treinamento americanos e traziam para seus países na América Latina sempre adoraram exibir o produto do trabalho sujo. São apenas interrogações, mas que ao menos reflexões são necessárias, isso são...

- Meu amigo e um dos meus gurus Frei Betto tem lá suas suposições...Fala, Betto: “Suponho que a CIA mantém Bin Laden vivo, sob tortura, para denunciar toda a sua rede terrorista. Ele vivo vale mais que morto. Depois que Bin Laden falar ou se calar sob tortura, aí sim, virá a "solução argentina": o corpo no mar”.

- Temos coisas engraçadas nessas coberturas realmente! Alguém chuta algo, e o mundo inteiro repete. Não é de achar no mínimo estranho e curioso que uma casa tosca, sem janelas quase, cimento sobre cimento, no meio do nada de Abbottabad, a despeito dos muros e tamanho, de repente seja apontada como uma “mansão de um milhão de dólares? Um corretor que entenda do mercado de Abbottabad urgente, por favor...Por que diabos uma casa nos confins do Paquistão, quase já no Afeganistão, tem um valor de mercado de uma bela casa em Búzios? O que anda rolando em Abbottabad que não sabíamos, e nem o Amaury Jr, pra que uma casa tosca valha um milhão de dólares? Não tem importância, mas confesso que nas milhares de vezes que vejo repetida a informação, fico achando que é a tal preguiça na apuração ou o velho hábito de repetir o que um chutou. De qualquer forma, tou tentando garantir um quinhão de terra em Abbottabad antes que eles virem sede olímpica. Se assim já vale isso, imagina quando virarem sede olímpica?

- Por falar em coisas de imprensa, que saudade dos tempos em que Marcos Uchoa era o homem a chegar no front. Não víamos a permanente tentativa de transformar qualquer viagem em ato heróico e tínhamos certeza da qualidade da informação, da verdade e de que não existia a possibilidade de estarmos ouvindo exageros ou inexatidões.

- Por tudo o que representa, simpatizo com Obama. Chegava mesmo a torcer pelo negão, e sempre achei que iria cair pelos seus méritos em um país que é capaz de chamar de comunista um cara que pretende apenas reformar o sistema de saúde. Isso não me impede de estar um pouco perplexo com tudo isso. Mais ainda por não ver ninguém perguntar se é razoável o Prêmio Nobel da Paz estar por trás da execução de um homem, segundo ele mesmo, desarmado. Seja lá quem for.