sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tiros em Realengo

Durante muitos anos trabalhei na editoria geral. Lembro que estava jantando com a minha família quando soube que um avião da Gol estava desaparecido. Tive que largar o jantar e fui correndo para o aeroporto do Galeão. Quando cheguei descobri que o avião tinha caído e só encontrei parentes das vítimas desesperados por notícias. Tiroteios em favela já perdi a conta de quantas coberturas. Enchentes, tragédias e todo o tipo de desgraça. O repórter nessa hora fica um pouco frio. Naquela hora precisamos apurar os fatos, a emoção fica de lado.

O dia 07 de abril de 2011 nunca mais vou esquecer. Estava ali bem pertinho, em Deodoro. Uma matéria sobre os jogos mundiais militares, os jogos da paz, triste coincidência. Fui para Realengo vi aquele povo em estado de choque, mães procuravam pelos filhos, pais desesperados. Vizinhos não entendiam o que estava acontecendo. Só ouviram os gritos e os tiros. Entrei na escola e jornalistas estavam na quadra. Amigas da época da editoria geral já me ajudavam com personagens e comentavam: "nunca vi nada igual".

Correspondentes choravam, médicos e policiais estavam abalados com tanto terror. A presidenta Dilma também chorou!

Não consegui colocar um pingo de lágrima. Vi padres entrando no colégio, o corpo do assassino sendo carregado.

Sou mãe e sinceramente acho que não chorei porque não quero acreditar nessa história. Só pode ser um filme de terror, um grande pesadelo. Escola é para ser um lugar seguro.

Quando cheguei em casa aí sim eu poderia liberar qualquer emoção. Não consegui. Continuo chocada com a situação, ainda sinto que estou em um pesadelo. Dei um abraço apertado na minha filha, coloquei ela no colo e dei um beijo antes de dormir.

12 mães hoje estão chorando e não podem mais fazer isso e várias famílias estão destruídas. Cidade de luto.