quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Das críticas de Maradona ao melhor futebol da Itália: como um 'operário' transformou o Napoli

'Presidente, o senhor sumiu por duas semanas'.
Era o segundo encontro de Sinisa Mihajlovic com Aurelio De Laurentiis, presidente do Napoli, sobre a possibilidade de assumir o comando da equipe. A frase foi dita educadamente, mas desagradou o máximo dirigente do clube.
Mais que a demanda salarial de Mihajlovic, foi a postura de cobrança que deixou De Laurentiis em dúvida. Como se tivesse de dar satisfações ao sérvio sobre seus compromissos pessoais e profissionais.
Com os sonhos Klopp e Emery distantes, o presidente olhou para o mercado interno. Decidiu, então, apostar em Maurizio Sarri, que chamou a atenção com o bom futebol do Empoli na última temporada.
Sarri é um operário da bola, que 'roeu o osso' nas divisões inferiores, desde as amadoras, e no início da carreira dividia o cargo de técnico com o emprego em um banco. Estreou na Serie A com o Empoli em 2014, aos 55 anos.
Quis o destino que Mihajlovic estivesse do lado oposto quando o Napoli goleou o Milan por 4 a 0 no último domingo, em San Siro. A afirmação de um momento excelente, com 18 gols marcados e apenas um sofrido nas últimas seis partidas oficiais, entre Serie A e Liga Europa.
Antes desta sequência, porém, Sarri teve de lidar com a desconfiança geral, aquela que normalmente cabe aos que não têm grife. Quando o Napoli completou a terceira rodada com dois pontos ganhos, foi criticado por alguém que em Nápoles é bem mais que um ídolo: Diego Maradona.
Maradona deu a entender que Sarri não era uma boa escolha para o Napoli, que não teria tamanho para o clube, especialmente depois da saída de um nome como Rafa Benítez. Afirmou que o clube não seria vitorioso com ele, e que teria dificuldades até para ficar no meio da tabela.
Questionado sobre as palavras do argentino, Sarri não foi para o confronto. Disse que, a exemplo de todos no clube, tem Maradona como um ídolo, e que faria o possível para que ele mudasse de opinião.
Começou com alterações na maneira de jogar da equipe. Seu esquema favorito, o 4-3-1-2 que já usava no Empoli, foi abandonado em nome de um 4-3-3 que tirava mais de jogadores como Insigne, Callejón e Mertens.
Sarri ainda sacou do time Valdifiori - dono do meio-campo no Empoli, mas com dificuldades nas primeiras partidas - para dar lugar a Jorginho, que tomou conta da posição no centro do trio de meio-campistas. Ao lado dele, a dinâmica de Allan, já com três gols na Serie A, e o talento de Hamsik.
Se Valdifiori não convenceu logo de cara, o outro ex-Empoli da equipe, Hysaj, resolveu um problema defensivo ao trocar a lateral-esquerda pela direita, que sofria com os avanços de Maggio. Com mais segurança pelos lados (Ghoulam na esquerda), cresceu também o desempenho da zaga formada por Albiol e Koulibaly.
Um dos maiores méritos do técnico, no entanto, foi a rápida relação de confiança que se estabeleceu com o principal jogador do elenco.
Gonzalo Higuaín viveu meses difíceis por dois pênaltis perdidos: um na última rodada da temporada 2014/15, no confronto direto com a Lazio que podia ter levado o Napoli à Champions League, e outro na final da Copa América contra o Chile, pela seleção argentina.
Sarri tratou de estabelecer desde o início uma relação franca e honesta com o atacante, deixando clara sua importância para o time, sem deixar de apontar virtudes e defeitos. Feliz com o posto de protagonista, Higuaín tem respondido com grandes atuações e números: cinco gols e duas assistências na Serie A.
Impressionante também tem sido Insigne, o filho da terra que deixou as lesões para trás e saiu aplaudido até pelos milanistas no último domingo. Ele participou de oito gols no campeonato, marcando cinco e dando passe para três. Boa notícia para Antonio Conte, que deve usá-lo como titular na seleção italiana nos próximos jogos.
Não é exagero dizer que neste momento o Napoli apresenta o melhor futebol da Serie A, sem tirar os méritos da líder Fiorentina. Aliás, os dois times estarão frente a frente na próxima rodada, após a data Fifa, no estádio San Paolo. Um ótimo tira-teima.
GABRIELE MALTINTI / GETTY IMAGES
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