quinta-feira, 27 de agosto de 2015

De melhor jogador e herói nacional a dirigente e salvador da pátria: a trajetória de Andrei Kirilenko no basquete

REUTERS
Andrei Kirilenko é o novo presidente da Federação Russa de Basquete
Andrei Kirilenko é o novo presidente da Federação Russa de Basquete
"Há alguns anos era o terceiro ou quarto esporte. Agora acho que é o sétimo, algo assim".
Essa é a análise de Andrei Kirilenko sobre o atual momento do basquete na Rússia. Desde 1992 são uma medalha de bronze olímpica (2012), duas pratas em Mundiais (94 e 98) e um ouro (2007) e dois bronzes (1997 e 2011) no Eurobasket. Isso sem falar no glorioso passado soviético.
No entanto, o presente não é dos melhores. Ficou de fora da última Copa do Mundo, teve participação fraquíssima no último Eurobasket e a seleção sub-19 também não conquistou vaga para o Mundial da categoria. Nos últimos dois anos, imbróglios burocráticos levaram a Federação Russa de Basquete a um caos administrativo, que resultou em suspensão da Fiba. Muito pela pressão política e o peso dos russos no esporte, a punição da entidade máxima do basquete terminou neste mês.
Yulia Anikeeva venceu as eleições de 2013, após a renúncia de Andrei Krasnenkov, que estava em rota de colisão com o Comitê Executivo da entidade. Svetlana Abrosimova, ex-jogadora da WNBA e derrotada no pleito, alegou uma série de irregularidades e abuso de poder. Conseguiu a anulação da votação neste ano.
Nos últimos anos, não houve nome maior no basquete do que Andrei Kirilenko. Foram 13 temporadas na NBA, defendendo Utah Jazz, Minessota Timberwolves e Brooklyn Nets, além de duas boas passagens pelo CSKA Moscou. Virou All Star, foi eleito para o time de defesa da temporada, liderou a liga em tocos e ganhou o apelido AK47. Foi um grande jogador e fundamental na conquista do bronze olímpico.
Agora Kirilenko é a esperança do basquete russo.
Após se aposentar em junho deste ano aos 34 anos, o ala decidiu entrar na política do esporte. Nesta terça-feira, após a desistência de Dmitri Domani, ex-jogador, atual gerente da seleção e único adversário, Kirilenko foi eleito o novo presidente da Federação Russa de Basquete. Ele assume com discurso de privilegiar o trabalho com os jovens.
"Atualmente selecionamos de uma lista com 20, 30 jogadores para formar a seleção, mas eu que um número maior, quero que seja 300, para termos o privilégio da escolha", garantiu em entrevista à Associated Press, antes de ser eleito. Completou, ainda, se referindo ao basquete profissional russo que "não adianta arrumar o telhado, quando a fundação e as paredes não estão lá", se referindo à base.
Kirilenko chega ao posto máximo do basquete em seu país superando a desconfiança de parte da população. Por possuir passaporte norte-americano, obtido no período em que viveu em Salt Lake City, AK47 gera certa antipatia entre os nacionalistas. E o nacionalismo russo ganhou muita força na última década com Vladimir Putin.
O primeiro passo do novo presidente já será bem complicado. Terá que lidar com a tensão entre atletas e dirigentes na preparação para o Eurobasket, que acotnece entre os dias 5 e 20 de setembro, - com transmissão da ESPN - classifica duas seleções para as Olimpíadas e manda mais quatro para a repescagem mundial. A Rússia está no Grupo A, ao lado de Bósnia, França, Finlândia, Polônia e Israel. Não deve ter problemas para avançar até o mata-mata, onde o equilíbrio predominará.
Kirilenko não está mais em quadra para ajudar com sua forte marcação, movimentos rápidos para alguém de 2m06 e arremessos precisos. O enorme dragão tatuado nas costas ainda ruge. No entanto, a bola não está mais em suas mãos. Ao menos na prática.