sábado, 4 de julho de 2015

Alexandre Mattos, o homem do futebol do Palmeiras: "Tomei uma atitude corajosa".

"Tomei uma atitude que poucos tomariam na vida, larguei o Cruzeiro onde estava tudo bem e vim para um clube difícil que é o Palmeiras, com muita pressão interna e externa". Assim Alexandre Mattos resume sua mudança de clube na virada de 2014 para 2015. E 24 contratações depois, ele conversou com o blog.
REPRODUÇÃO
Alexandre Mattos quando estrelou no novo comercial do programa sócio-torcedor
Alexandre Mattos quando estrelou no novo comercial do programa sócio-torcedor

Como tomaram a decisão de mudar quase que totalmente o elenco do Palmeiras?
Sou avesso a mudanças radicais, mas o elenco do Palmeiras precisava ser modificado. Tínhamos que criar uma autoestima. No começo ninguém queria vir, era difícil e por isso um elenco todo novo. E tinha dinheiro para isso, não do presidente, e com a alavancada que demos no elenco vieram patrocinadores, saindo de 55 mil sócios para 130 mil. É óbvio que se você contrata muito vai errar e acertar. A Parmalat chegou ao Palmeiras em 1992 e só ganhou os títulos em 1993 e 1994. E a Libertadores apenas em 1999. O Atlético e o Cruzeiro brigaram para não cair antes dos títulos recentes. Estamos tentando acelerar esse processo. E o que nos dá muito trabalho é o extracampo. Faltava um fisiologista em tempo integral, um departamento voltado à análise de desempenho, vários pontos que melhoramos e que oferecerão uma base sólida. Por que agora um centroavante? Por que após cinco meses percebemos que era preciso. No início do ano o Palmeiras não tinha uma base. Sonho em fazer coisas interessantes dentro da realidade que o clube pode fazer. Aqui no Palmeiras além do Presidente temos o COF (Conselho de Orientação Fiscal). A folha subiu, a receita também. Claro que podemos fazer ajustes, saídas e chegadas de novos jogadores.
Quanto custa mensalmente o elenco do Palmeiras?
Não posso falar em números porque é uma questão interna do clube, embora saibamos que vai aparecer lá na frente em balanço. Posso dizer que teve um acréscimo na folha em torno de 20% se compararmos com 2014, mas a receita também aumentou consideravelmente. E é importante dizer que tudo é feito dentro de um orçamento aprovado. Quando pensamos em brigar na parte de cima da tabela, claro que precisamos investir e no caso do Palmeiras era preciso montar um elenco todo.
João Paulo, Amaral, Andrei Girotto, Felype Gabriel, Kelvin, Aranha, Ryder ... Tem gente que mal jogou ou nem atuou. Você se arrependeu de alguma contratação?
Não, porque todas têm sua importância. Muitas vezes você contrata um jogador e ele não está atuando porque o titular não dá brechas. E é preciso ter um planejamento que justifique o porquê da contratação. Alguns podem jogar num primeiro momento e render depois. Há até os que chegam para tirar outros da zona de conforto. Aranha na atua porque o titular, Fernando Prass, não dá brecha e sabemos que os dois têm condições de jogar. Para o Amaral jogar tem que sair alguém, mas os titulares não estão dando espaço. Há outros casos, como o do Andrei (Girotto), que é uma promessa. Todos têm sua importância e elenco precisava ser forte.
CESAR GRECO/AG PALMEIRAS/DIVULGAÇÃO
Marcelo Oliveira Paulo Nobre Alexandre Mattos durante um treino do Palmeiras
Marcelo Oliveira Paulo Nobre Alexandre Mattos durante um treino do Palmeiras
Allan Patrick mal jogou e já saiu...
Poderia estar conosco, mas foi um negócio que surgiu, uma oportunidade.
Você tem enorme poder no futebol do clube, isso não é perigoso, um homem com tamanho poder de decisão, especialmente quando passa a ser idolatrado pela torcida e vira até garoto-propaganda? As estrelas são os jogadores e a comissão técnica, meu trabalho é fazer com que tenham condições de trabalho, meu papel é o da gestão de tudo o que acontece dentro do clube. Quando saí de um Cruzeiro bicampeão e vim para um clube que passou dois anos em dificuldade, é natural que se crie a expectativa de que as coisas deem certo novamente. Mas não existe um todo-poderoso, mágico ou pop-star. Na realidade é uma gestão profissional e o clube determina tudo. E não trabalho sozinho, não foi assim no América, Cruzeiro e agora no Palmeiras.
Levando em conta relação custo-benefício, qual sua melhor contratação quando esteve no Cruzeiro?
O Cruzeiro começou o planejamento em 2012, a grande maioria dos que chegaram para 2013 estavam lá no segundo semestre do ano anterior. Para o público foi uma surpresa a quantidade, mas já estávamos monitorando. A maior contratação foi o equilíbrio e o coletivo. Podemos citar Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart por terem chegado à seleção brasileira, mas o coletivo funcionou bem para que eles se destacassem. Dagoberto, William, Dedé, Bruno Rodrigo, Ceará, Tinga, Egídio, Henrique, todos tiveram importância.
E a pior, a que não correspondeu?
Citar um jogador ou outro seria uma indelicadeza. Todo jogador do elenco tem sua importância, jogando ou incomodando quem está jogando, se preparando para substituir quem está no time titular. Mas obviamente existem ajustes, como os que estão sendo feitos no Palmeiras. A saída de Tóbio para o Boca Juniors, por exemplo, faz parte desses ajustes.
Nem o Júlio Baptista?
No futebol sempre se vai acertar e errar. Mas a chegada dele foi importante para o Cruzeiro. Diego Souza havia saído e não tínhamos jogadores de costas mais largas para suportar aquele momento e ele ajudou. Mas é óbvio que depois de certo tempo se avalia, se ajusta. Mas a chegada dele motivou os cruzeirenses, mostrou quais eram os objetivos do Cruzeiro e passamos o bicampeonato sem atrasar um dia de salário.
Ainda há espaço ainda para não clube de futebol que não paga em dia?
Houve momento em que isso acontecia mais. Depois de algum tempo os gestores perceberam isso e começaram a aparecer os profissionais de gestão do futebol. E é fundamental fazer o que é correto, o que é direito. O futebol tem cobrança o tempo todo e para você ter isso a casa tem que estar em ordem. E aí tem o mérito do nosso presidente que montou um planejamento administrativo-financeiro.
REPRODUÇÃO ESPN
O torcedor Guilherme recebe a camisa número 100 das mãos de Alexandre Mattos
O torcedor Guilherme recebe a camisa número 100 das mãos de Alexandre Mattos
Os garotos da base têm pouco espaço num clube que adota a política de muitas contratações, como você vê essa situação hoje no Palmeiras?
Pode ter clube igual, mas não existe outro mais voltado à base como o Palmeiras. Temos um trabalho sério, os jogadores são observados pelo técnico do time de cima, o Marcelo Oliveira e antes eram pelo Oswaldo (de Oliveira). Os atletas profissionais fazem palestras para categorias de base, o clube tem muitos jogadores na base, mas a oportunidade de atuar vai acontecer dentro de uma transição o menos drástica possível. Alguns jovens são emprestados para ganhar experiência e no ano passado a dificuldade técnica existia e foi preciso apressar o aproveitamento deles de maneira até perigosa. O Cruzeiro subiu vários jogadores nos últimos anos, mesmo com muitas contratações. Na base temos os três pilares: captação, formação e transição.
Profissionais como você e Rodrigo Caetano, por exemplo, se valorizaram muito nos últimos anos. Qual a importância de um diretor remunerado, profissional?
Eu diria que é preciso primeiro entender o papel desse gestor do departamento de futebol. Não é só uma pessoa que faz contratações. Eles faz gestão diária de pessoas e processos. Envolve todo um departamento e você tem que gerir aproximadamente 70 pessoas, um elenco profissional e 100 a 150 meninos das divisões de base. A importância é grande, o gestor precisa ser capaz de dar tranquilidade aos profissionais da melhor maneira possível, fazendo uma ligação, um elo com o presidente e os demais diretores. É um cargo de extrema relevância num clube. Paulo Angioni, Eduardo Maluf, Rodrigo Caetano, entre outros grandes profissionais precisam demonstrar a importância de uma gestão profissional e interação entre todos os departamentos, jogadores, etc. São vários departamentos envolvidos. O futebol exige 24 horas de dedicação, não tem feriado, não paramos um minuto e não é mais possível alguém que não seja profissional fazendo esse trabalho.