sábado, 28 de março de 2015

Evolução da seleção brasileira vale mais que a virada sobre França - o perigo é a ilusão!

Uma virada sobre a França no estádio da derrota na final da Copa do Mundo em 1998 não pode ser desprezada. Mesmo em amistoso, é resultado que vai para a história. Não contraria, porém, a lógica de que em partidas que não valem três pontos, o desempenho é mais importante que o placar.
A boa notícia é que a seleção brasileira de Dunga mostrou evolução no Stade de France, principalmente no segundo tempo. Quando a organização e a posse de bola ganharam mobilidade e rapidez.
Na primeira etapa, controle com bola rolando. 58% de posse e seis finalizações a três - três a dois no alvo. Mas cometeu cinco faltas e cedeu o mesmo número de escanteios. O suficiente para Varane abrir o placar e a defesa brasileira sofrer nas jogadas aéreas em bolas paradas.
Porque a França, no mesmo 4-1-4-1 da Copa, penou sem Pogba no meio-campo e perdeu fluência nas ações ofensivas. Variação só quando Valbuena e Griezmann trocavam de lado ou o atacante do Atlético de Madri se juntava a Benzema. Pouco.
O Brasil, porém, não se impôs como poderia. Também pela imobilidade nas duas linhas de quatro, que deixavam espaços entre as linhas para os franceses. Willian e Oscar abertos, Neymar mais avançado e partindo do lado esquerdo.
REPRODUÇÃO TV GLOBO
Flagrante do 4-4-2 brasileiro bem postado, mas deixando espaços entre os setores para os jogadores franceses.
Flagrante do 4-4-2 brasileiro bem postado, mas deixando espaços entre os setores para os jogadores franceses.
Só Firmino se movimentava e atacava os espaços entre as linhas que o volante Schneiderlin tentava fechar. Quando Oscar infiltrou em diagonal, Firmino acertou o passe e o meia do Chelsea empatou.
No segundo tempo, mais movimentação e participação coletiva. Elias e Luiz Gustavo avançaram como meio-campistas, Willian e Oscar saíram dos flancos para o centro, procurando Firmino e Neymar. Elias para Willian, deste para o camisa dez e craque. 43º em 61 jogos. Quinto maior artilheiro da seleção brasileira, aos 23 anos. Fenômeno.
A senha para a seleção francesa colocar intensidade e voltar a  aproveitar as brechas entre as linhas que o Brasil de Dunga continuou cedendo e fez Jefferson trabalhar um pouco mais. A compactação dos setores é algo a ser aprimorado. Já a marcação adiantada surtiu efeito, com várias bolas roubadas no campo de ataque.
ANDRÉ ROCHA
Seleção brasileira com duas linhas de quatro e posse de bola que ganhou mobilidade e rapidez no segundo tempo para superar o 4-1-4-1 francês.
Seleção brasileira com duas linhas de quatro e posse de bola que ganhou mobilidade e rapidez no segundo tempo para superar o 4-1-4-1 francês.
Tudo se resolveu com o gol de Luiz Gustavo em cobrança de escanteio de Willian. O troco no jogo aéreo que consagrou Zidane há quase 17 anos. Dunga só mudou peças a partir dos 37 minutos, depois que Didier Deschamps já havia feito três substituições. Interessante para melhorar o entrosamento, mas também uma chance perdida de testar e observar, em tese o objetivo dos amistosos.
Para Dunga é como se valessem três pontos. Nitidamente a proposta das mudanças foi fechar o time e ganhar tempo para administrar os 3 a 1. Foco total no resultado para melhorar os números e "calar os críticos", obsessão do treinador que beneficia também o discurso oportunista de dirigentes e formadores de opinião que capitalizam com o ufanismo.
Eis o perigo: a ilusão das sete vitórias consecutivas no país em que se costuma olhar apenas o resultado. A seleção ainda tem muito a progredir. Natural pelo pouco tempo de trabalho. Na Copa América, vale mais seguir aprimorando o novo estilo. Mas a seleção de Dunga, Marin e Del Nero vai atrás do título, custe o que custar.
A meta: com a taça, varrer os 7 a 1 para debaixo do tapete o mais rápido possível, reforçar o discurso do "apagão" e recuperar a imagem de vencedor. Cômodo e conveniente para muitos, mas será positivo para o futebol brasileiro?
Por ora, vale bem mais a boa atuação em Saint-Denis.