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Em ano de eleição, o Flamengo ganhou nesta sexta-feira mais uma crise política. Um confronto de ideias sobre a votação de uma emenda ao estatuto do clube chamada "Lei de Responsabilidade Fiscal Rubro-Negra" causou a renúncia do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Delair Dumbrosck.
Há alguns meses, os presidentes dos outros poderes do clube (diretor, administração, fiscal, assembleia geral e de grandes beneméritos) protocolaram um pedido para que fosse votada a "Lei de Responsabilidade Fiscal Rubro-Negra", um pacote de medidas elaborado na proposta de novo estatuto do grupo "Conte Comigo, Flamengo", ligado à situação, para adequar o clube à medida provisória de responsabilidade fiscal assinada pela presidente Dilma Rousseff na última semana.
Delair retardou o processo e perdeu o prazo para incluir a medida em votação. Em contrapartida, os outros presidentes, incluído Bandeira de Mello, se utilizaram do artigo 79 do estatuto do clube e convocaram a votação da emenda também para o dia 7 de abril, à revelia de Delair. Irritado, ele renunciou em carta entregue aos conselheiros nesta sexta-feira. Na primeira convocação, Delair indicara apenas a votação do Substitutivo para o estatuto do clube, alegando que o texto novo era de consenso geral, o que não ocorreu.
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"Os motivos são vários. Sou cardiopata, tenho três safenas, já infartei duas vezes e não posso me aborrecer. Os caras vão e atravessam uma emenda, tiraram não se de onde que eu seria candidato (a presidente) e entenderam que essa aprovação da emenda estatutária seria benéfica. Não sou candidato a mais nada, fiz tudo pelo Flamengo. Convoco a reunião e eles vão, se juntam e me mandam umas convocação para votar a mesma coisa. Está errado. Bandeira deveria deixar a questão do Deliberativo e cuidar para que o Flamengo tenha um bom time no Brasileiro e não fique abaixo do décimo lugar", disparou Delair Dumbrosck.
Presidente do Flamengo em 2009, em substituição ao licenciado Márcio Braga, Delair apoiou a Chapa Azul, de Eduardo Bandeira de Mello, na última eleição do clube, em 2012. Em seguida foi eleito à presidência do Conselho Deliberativo e, por diversos desentendimentos, tornou-se oposição. Seu substituto na presidência do Conselho Deliberativo será Rodrigo Dunshee de Abranches.
Tentativa de salvar Capitão Léo é negada
Outro ponto polêmico no relacionamento entre Delair Dumbrosck e os diversos presidentes de poderes do Flamengo recentemente se deveu a uma possível tentativa de salvação de Leonardo Ribeiro, o Capitão Léo, de uma exclusão do quadro social rubro-negro.
Nos termos atuais, Capitão Léo seria expulso em caso de confirmação de mais uma punição, a segunda em menos de um ano. Ele foi condenado por agressão a um sócio e depois por ofensas ao vice-presidente de marketing, Luiz Eduardo Baptista, o Bap. As penas foram suspensas até novo julgamento. No primeiro caso, em meados de março, Capitão Léo teve a pena confirmada. Caso a suspensão por ofensas a Bap também seja corroborada, ele estaria fora do clube.
No entanto, por convocação de Delair Dumbrosck, o Conselho Deliberativo votaria o Substitutivo do estatuto dois dias antes do novo julgamento de Capitão Léo. Caso o o texto fosse aprovado, Leonardo Ribeiro não mais seria expulso, mas, sim, considerado inelegível para qualquer cargo no Flamengo por quatro anos. Delair nega a tentativa de favorecimento a Capitão Léo.
"Não muda nada. Só iria votar um item de responsabilidade fiscal. Não tem nada a ver com o Capitão Léo", completou Dumbrosck.
Durante a gestão de Bandeira, um dos pontos mais discutidos foi a mudança de estatuto do clube, de 1992, para moldá-lo à administração profissional, com respeito ao orçamento e sanções a quem comprometesse o patrimônio rubro-negro.
Foram quatro propostas apresentadas. A Pedra Rubi, de Capitão Léo e do grupo Fla-Tradição; a Fênix, também com apoio da Fla-Tradição, de oposição à gestão atual; a Conte Comigo, Flamengo, que tem apoio da atual diretoria; e a Acima de Tudo Rubro-Negro, dos conselheiros Lysias Itapicurú e Haroldo Couto. Em vez de votação no Conselho Deliberativo, Delair Dumbrosck propôs a formação de uma Comissão Especial, com representantes de cada projeto.
Contrariados, os integrantes do grupo "Conte Comigo, Flamengo" se retiraram da Comissão Especial. A redação do texto do Substitutivo, no entanto, não se tornou pública para análise antes da votação, inicialmente para o fim de dezembro de 2014. Em fevereiro, nova reunião foi marcada no clube para análise do Substitutivo. Em clima tenso, com bate-boca, nada foi definido. Diante da pressão, um texto foi apresentado e, de acordo com integrantes da situação, vários trechos do Pedra Rubi, de Capitão Léo, foram colocados no Substitutivo