quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O San Lorenzo do Mundial, e que pode encarar Corinthians e São Paulo na Libertadores

Após conquistar o inédito titulo da Copa Libertadores de América, o San Lorenzo tem um duplo desafio dos mais difíceis. Primeiro será o possível viral do Real Madrid, no Marrocos, pela final do Mundial de Clubes da Fifa. Depois, vai defender o caneco continental no pior grupo possível, o da morte, que será composto por grandes equipes da América do Sul, e possivelmente dois brasileiros. Que San Lorenzo se prepara para esses desafios? Quais são seus pontos fortes e que estratégias são pensadas pelo seu treinador, Edgardo Bauza?
Libertadores de América 2015
Aquela história que já conhecemos. Alguns favoritos vão parar no mesmo grupo, como prova irrefutável da inteligência suprema dos cartolas. No caso do Grupo 2 da Libertadores não foi diferente. Danúbio representa, junto com Defensor e Wederers, o futebol uruguaio, com cara de renovação total, eficiente e planejada nos mínimos detalhes. São Paulo dispensa credenciais. Corinthians também. Contudo, se o "Timão" não passar pela fase prévia, o Grupo II terá uma pedreira do futebol cafeteiro. Santa Fe ou Once Caldas.
REPRODUÇÃO
O técnico Edgardo Bauza, campeão da Libertadores com a LDU e Leandro Romagnoli
O técnico Edgardo Bauza, campeão da Libertadores com a LDU e com o Cuervo
Santa Fe é a equipe mais regular da temporada colombiana. Melhor pontuador, maior vencedor, melhor ataque e melhor defesa. Afora isso, perfila-se como equipe que supera os momentos trágicos com muito sofrimento, mas de regra superando-os implacavelmente. Once Caldas não fica muito atrás. Além disso, conta com a altitude de Manizales e com a mística de eliminar clubes de ponta da América do Sul, em seus gloriosos momentos futebolísticos. Boca Juniors, Santos e Cruzeiro que o digam. E o São Paulo também.
Não era o grupo dos sonhos de Bauza, por certo. Porém, tanto o técnico quanto a direção do San Lorenzo estão atentos às dificuldades. Dois ótimos atacantes se somarão ao elenco em 2015, Alejandro Melo, da base do Nueva Chicago, e Tomás Conechny, que atuava pelo CAI de Comodoro Rivadávia. Este jogador, em especial, poderá ser uma das sensações do futebol argentino, na próxima temporada. No mínimo, quatro reforços também chegarão para fortalecer o elenco. Mas este assunto, assim como o próprio torneio continental, só ganhará atenção em Boedo a partir do inicio do ano.
GETTY
San Lorenzo foi o grande campeão da Copa Libertadores pela primeira vez na história
San Lorenzo foi o grande campeão da Copa Libertadores pela primeira vez na história
Para os rivais do Ciclón, como São Paulo, e possivelmente o Corinthians, convém prestar atenção ao Mundial de Clubes por uma questão muito simples: se o conjunto azulgraná superar o desafio do Marrocos, e sair campeão, de cara entrará no grupo como favorito para ficar no primeiro posto, o que obrigará os seus três rivais a uma briga encarniçada pela segunda vaga. E a prova de que a afirmação tem relevância está no possível rival da final, no Marrocos: o Real Madrid. Trata-se de uma luta de Davi e Golias. Para muitos, uma luta inglória da qual o Ciclón sairá completamente esmagado.
Baixas no elenco e perda de competividade
Após conquistar a América, o San Lorenzo ficou irreconhecível como time. Ninguém sabia onde fora parar a pegada dentro de campo, a marcação na primeira linha e as soluções do meio-campo para frente. Ao fim do campeonato, a equipe terminou na oitava posição, ostentando oito vitórias, dois empates e nove derrotas. Às más línguas dizem que até o Papa Francisco foi consultado, mas o fato é que um psicólogo foi chamado para investigar as cabeças dos jogadores. Tudo em vão. E o símbolo disso estava, entre outras coisas, na situação inversa à que marcara o Ciclón nas disputas da Libertadores: a reação necessária nos momentos difíceis.
REUTERS
Papa Francisco segura a Taça Libertadores conquistada pelo seu San Lorenzo
Papa Francisco segura a Taça Libertadores conquistada pelo seu San Lorenzo
Paralelamente, a equipe perdeu jogadores decisivos, como Gentiletti, Valdéz, Correa e Ignacio Piatti. Mas enquanto os dois primeiros encontraram substitutos à altura no próprio elenco, para os dois últimos não foram encontrados nem mesmo na Argentina. Uma crise de confiança assolou o ambiente e foi fator desestabilizador dentro de campo. Bauza fez de tudo, mas também ele não conseguiu reverter a atmosfera de maus resultados. Sintomático, no caso, foi que enquanto vários atletas davam declarações pessimistas, o Patón dizia que sua equipe chegaria à melhor de sua forma, física e técnica, em dezembro. 
Edgardo "Patón" Bauza, o condutor
Patón Bauza é mais um daqueles treinadores argentinos que estudam futebol como poucos. O cara é maluco. E por isso estuda outras coisas também. Ler de tudo. Entende de quase tudo. Costuma ter informações as mais distantes e imprevisíveis acerca de vários acontecimentos. Estuda também aos rivais. E à pergunta sobre o que ele prefere estudar a resposta é simples: "como se faz para resolver problemas?".
Após acertos e erros, alimentados por uma base teórica, concluiu que cada problema há de ser resolvido por vez. Se a equipe disputava o campeonato argentino, que deixasse de lado o Mundial de Clubes. Agora que ela está no Marrocos, que se esqueça da Libertadores. E não existe o sentimento contábil de que o caneco do Nacional valha menos do que o da Libertadores e que este importa menos ou mais do que o caneco do Mundial.
Para Bauza, um time mediano focado é preferível a um time brilhante, mas disperso e entregue ao ego exacerbado de parte de seus jogadores. A questão é como chegar neste foco; o que para ele é uma arte. E o que, para nós, não é para qualquer um. Ele acredita em algo mais: independentemente da qualidade do elenco, o treinador pode configurá-lo para que fique à altura do clube que representa.
A função primária de um treinador, ao chegar ao clube, é entender o que são os jogadores à sua disposição. Entendê-los plenamente é uma obrigação imediata. Para impor quaisquer sugestões ou modificações, na forma da equipe atuar, há de se levar em consideração a compreensão anterior de como é, como está e como pode estar cada atleta do elenco.
Dificilmente um técnico terá sucesso, se deixar de se impor ao grupo, a partir da premissa de que, por dispor de um conhecimento de futebol superior ao da maioria dos jogadores, o melhor é esconder-se ou se intimidar frente à força bruta e natural de um grupo de atletas. Tarefa árdua e que obriga um técnico recém-chegado dispor de um mínimo conhecimento prévio do elenco.
Quando chegou ao San Lorenzo, surpreendeu por conhecer detalhes da condição de física de alguns. Em geral, quando algo lhe escapava bastava vê-los se movimentando para determinar a condição física e até prevê possíveis lesões imediatas de vários jogadores. O objetivo traçado era o da conquista da América e este foi o tema da primeira palestra. Deixou claro que todos precisavam criar uma casca mais grossa para entrar nas disputas do torneio continental.
Porém, sua fala surpreendeu porque ele não falava em Deus e não apelava àquela conversa-fiada de vários técnicos, para os quais não convém aprofundar o assunto, pois o atleta não entende muitas coisas. O mérito, no caso, é o de saber conduzir a fala de acordo com a condição de cada um. A conversa, portanto, era outra e versava sobre fidelidade atrelada ao sucesso como jogador profissional. Além disso, utilizava-se de exemplos dentro do próprio mundo do futebol, já que ele é capaz de escalar de cor vários times históricos pelo mundo a fora.
Numa biblioteca universitária Edgardo Bauza mostraria suas leituras e debateria sobre filósofos gregos e romancistas modernos, que o mundo do futebol sequer desconfia que possam existir. Porém, diante dos jogadores, os exemplos versam sobre o próprio esporte. E foi assim no San Lorenzo. Quando alguém não entendia, o técnico procurava simular uma situação de jogo que materializasse o seu pensamento. No fim, a conversa que na origem falava do sucesso individual no esporte abraçou a ideia da equipe, sem a qual nenhum jogador poderá se dar bem.
Meticuloso, Bauza coloca todas as principais características dos jogadores rivais no seu computador. Após estuda-las exaustivamente, seu desafio é o de passar essas características para os seus defensores. Para ele, a capacidade de fazer essa transmissão é também o que define o caráter de um técnico.
Mas há um detalhe: a apresentação dos pontos fortes e fracos dos outros ocorre ao mesmo tempo em que vídeos também são utilizados para que seus atletas conheçam a sua real condição e aquilo que de fato podem doar para a marcação e anulação do que há de positivo ou negativo nos rivais. Um dos membros de sua comissão que mais trabalha é o filho Maxi Bauza, que já cogitou deixar o pai, pelo excesso de trabalho que o Patón lhe oferece.
Mostrar os vídeos é uma estratégia para falar apenas o mínimo necessário ao elenco. Ele defende a tese de que se falar demais o efeito pode ser contraproducente. Se for o caso, deve-se repetir a mesma fala por várias vezes. Só que sempre com palavras diferentes, pois seu objetivo é fixar a ideia; não as palavras. Além disso, sabe que a ideia é algo que o jogador pode conquistar aos poucos. Apenas um pequeno entendimento dela se faz suficiente a depender do momento e do rival que se irá enfrentar. Contudo, se o atleta ouvir sempre as mesmas palavras, é possível que ele as descarte, assim como a ideia que elas vinculam.
A conquista do elenco não se faz pela imagem de um treinador amigo, generoso e gentil. Tudo é pautado na objetividade. O único sentimento que o Patón pleiteia construir é o da fidelidade e amor irrestritos dos jogadores à equipe que eles representam. E o exemplo para o elenco ele mesmo oferece com sua entrega total à equipe e as conquistas que ela vislumbra em seu horizonte.
Esquema
Até momentos antes do jogo de estreia o técnico do San Lorenzo afirmava que ainda não tinha os seus titulares. Era verdade. A preocupação com o encaixe de cada peça no esquema é uma preocupação constante de Bauza. Finalmente, a formação para o primeiro jogo apresenta um desenho 4-3-2-1, que permite variações e adequações durante a partida. Buffarini, Kennemann, Yerpes e Emmanuel Más formam a defesa. Na segunda linha, uma trinca de volantes com Kalinski pela direita, Mercier centralizado e Ortigoza pela esquerda. À frente, Gonzalo Verón aberto pela direita e Barrientos, pela esquerda. Isolado na frente, Martín Cauteruccio.
GETTY
Yepes, durante treino do San Lorenzo no Marrocos: linha defensiva
Yepes, durante treino do San Lorenzo no Marrocos: linha defensiva
Romagnolli ainda em recuperação, volta à titularidade na segunda partida. Ainda assim, o esquema não deverá se modificar. Desta forma, vão a campo: Torrico; Buffarini, Kannemann, Yepes e Más; Ortigoza, Mercier, Kalinski; Verón, Barrientos; Cauteruccio. A formação pode variar para um "doble 5", empurrando Kalinski para jogar centralizado entre Verón e Barrientos.
O segredo desta formação é o lado direito, setor da velocidade, do improviso e de uma articulação certa entre Buffarini e Verón. Kalinsnki é peça-chave no esquema. Ele chega com potencia à área rival, arrematando bem e com perigo. Só que pode também recuar e formar a trinca de volantes. Recuado, oferece saída de jogo não somente para Buffarini, mas também para o ótimo zagueiro Kannemann. Na maior parte do tempo, Kalinsnki ficará na posição de volante para que a defensiva local o perca de vista e facilite os seus avanços ofensivos de surpresa. Sua função, portanto, é uma das mais dinâmicas na equipe.
O lado esquerdo é menos dinâmico, porém mais cerebral. Por ali vai correr Pablo Barrientos, jogador criativo, inteligente e mais uma cabeça muito bem trabalhada por Bauza. Dificilmente terá a companhia de Emmanuel Más, principalmente no segundo jogo. Sua principal função é fazer a pelota chegar bem a Cauteruccio ou para quem se fazer de atacante próximo à área. Preocupado com a dependência do lado direito, Bauza treinou exaustivamente a equipe para virar o jogo para o outro setor, do que resulta que Barrientos terá, em alguns momentos, a companhia do pessoal do outro flanco. Daí a importância do ex-jogador do Catania, na estreia, e de Romagnoli, numa possível final.
Jogadores em destaque
Os convocados ao Marrocos foram: Arqueros: Torrico, Franco e José Devecchi. Defensores: Buffarini, Cetto, Yepes, Kannemann, Fontanini, Mas, Arias e Catalán. Meio-campo: Ortigoza, Mercier, Barrientos, Villalba, Romagnoli, Kalinski, Cavallaro Quignón. Atacantes: Cauteruccio, Matos, Blandi e Verón.
Oritigoza e Juan Mercier são os xerifes da equipe. Jogavam juntos no Argentinos Juniors, antes de chegarem a Boedo. Mercier foi um dos volantes que mais evoluiu no futebol argentino. Desde os tempos do técnico Juan Antonio Pizzi, o time vem praticando a saída de bola perfeita e a troca do chute "assustado" pelo primeiro passe perfeito. É o protetor típico da zaga e um dos atletas que mais tem noção sobre sua posição dentro de campo. Ortigoza é o homem da bronca. Afora Mercier, com quem joga de olhos fechados, paga geral para todos, mas sem aquelas demonstrações exacerbadas que em regra são mais para quem está na arquibancada do que para seus companheiros. Quando sobe ao ataque, é Mercier quem o salva.
Gonzalo Verón compõe com Buffarini e Kalinski o perigoso setor direito do Ciclón. Tempos atrás era tido na mesma importância de Ángel Correa. Mas enquanto o meia do Atlético de Madrid evolui, Verón estagnou em decorrência de graves contusões. Ficou sete meses fora de combate por uma lesão nos ligamentos do joelho esquerdo. É o homem da velocidade, mas ainda corre atrás do melhor de sua forma técnica. Ganhou confiança ao mandar Tito Villalba para o banco de reservas.
Pablo Barrientos e Romagnoli. Barrientos é um dos responsáveis pela criatividade da equipe. Após idas e voltas ao futebol europeu, parece atingir finalmente o melhor de sua forma. Antes de desembarcar no Ciclon, já respondia por uma boa performance no Catania. Mas isto não foi suficiente para chamar a atenção de outros clubes europeus. Pela maneira como a equipe está formada ou joga ele ou Romagnoli. A cabeça está melhor que nunca e a autoestima também. Pode aparecer até no segundo tempo de uma possível final. Deve evoluir muito na Libertadores, sob as orientações de Bauza. Romagnoli deixou de ser aquela promessa de sempre para se tornar o grande maestro azulgraná. Mas não foi nada fácil.
DIVULGAÇÃO
San Lorenzo chegando para o Mundial Interclubes no Marrocos: desembarque
San Lorenzo chegando para o Mundial Interclubes no Marrocos: desembarque
O "Pipi" sofreu um profundo choque de dimensionamento com Bauza. Primeiro o treinador lhe mostrou o que de fato ele era no clube, alvo de gozação não só dos rivais, mas até de alguns torcedores. O técnico o fez perceber isso de forma dolorosa, antes de trabalhar sua cabeça para que ele soubesse reagir. O primeiro contato entre ambos foi em Los Cardales, no primeiro treino da equipe. Bauza dizia que o elenco não estava preparado para a Libertadores e determinou uma pré-temporada emergencial, marcada por treinos físicos exaustivos e reposicionamento tático de cada jogador.
Romagnoli não gostou e capitaneou uma rebelião ao novo técnico. Assim que foi dar o primeiro treino, Bauza teria chegado ao balão do meio-campo, onde todos estavam sentados, prontos para a rebelião. Então o técnico teria dito ao capitão do San lorenzo: "deseja ir embora? Tudo bem, está vendo aquele ônibus estacionado ali? Pois bem ele está te esperando, veio para cá apenas para levá-lo de volta a Buenos Aires". O técnico havia previsto a rebelião e se preparado para ela.
Assim que caiu na real, o jogador foi orientado a deixar de ser o ídolo de uma geração de derrotas para entrar à história do clube com sua imagem associada às alegrias e conquistas. Para tanto, esquentou o banco de reservas várias vezes e sem reclamar. Em parte, para recuperar a forma física e sair do precipício das lesões que beirava a sua condição; em parte para que percebesse melhor como a equipe jogaria com Bauza e como ele poderia fazer a diferença. Hoje, Romagnoli é outro jogador no San Lorenzo.
Walter Kannemann
Kanerman será o responsável para correr atrás de Cristiano Ronaldo. Segundo Vampeta, quando o Palmeiras foi enfrentar o United, no Japão. Felipão dissera a Junior que ele deveria marcar a Beckham e impedir os passes e cruzamentos fatais para a área de Marcos. A pressão foi tão grande na cabeça do lateral que ele acordou no meio da noite, aos prantos e dizendo a Zinho que o Beckham teria feito o tal cruzamento. Contudo, no jogo, foi Giggs quem fez a jogada magistral e cruzou para o gol de Roy Keane.
Esta situação não deve ocorrer para Kannemann em relação a Cristiano Ronaldo. Ele foi treinado para bloquear o atacante madrilenho, mas sabe que é sobretudo uma peça de uma marcação coletiva. Porém, se foi escalado para se atentar especialmente ao craque português é porque dispõe de qualidades como a boa antecipação, leitura prévia das jogadas e o passe preciso num setor congestionado por outros grandes craques da esquadra espanhola. 
Villalba, Quignón e Cavallaro são reservas de luxo que podem aparecer no Mundial e com certeza na Libertadores. Villalba saiu da equipe por perder rendimento e ter uma recaída na sua postura tática. A reserva é uma espécie de provocação para o "Tito". Contudo, deve entrar em todos os jogos e fazer a diferença no ataque. Quignón é opção para o "impossível" cansaço de Ortigoza. Pode atuar como meia mais avançado e, se não tem a mesma pegada do jogador paraguaio, dispõe de uma habilidade superior a ele. Juan Ignácio Cavallaro é veloz e hábil e pode ser uma opção para Romagnoli e Barrientos ou gerar criatividade no setor direito da equipe.
Aqui é Cuervo, amigo. Com Huervos!
Ainda sobre a decisão de 1999, entre Manchester e Palmeiras, o goleiro Marcos reconheceu, após o jogo, que a equipe fora treinada exaustivamente para os cruzamentos de bola rasteira ou à meia altura de Giggs. No lance do gol, o craque galês encobriu o porteiro alviverde, que saiu para fechar o primeiro pau e facilitar as coisas para Keane, no seu costado. Uma desatenção fatal que custou ao Verdão o título do Mundial. Erros assim é o que mais chama a atenção do técnico Bauza.
Desde o fim da Libertadores que o técnico tem trabalhado a cabeça de seus atletas no sentido de que podem vencer no Marrocos. Ele sabe que para tanto, sua equipe precisa zerar os erros e não desperdiçar as oportunidades no ataque. Contudo, a primeira coisa que fez foi novamente mostrar a dimensão do rival para os seus jogadores. "É este o monstro que vamos enfrentar, como podemos golpeá-lo?". Mostrou com precisão cada ponto forte do rival antes de apontar os possíveis defeitos que seus olhos atentos já descobriram. Esqueçam que ele só se preocupou com o Real. Estudou também o time africano e a "baba" neozelandesa. Porém, o Real é a sua preocupação. E do elenco também.
E a fórmula mágica que ele encontrou para motivar os atletas foi resgatar para eles o significado de defenderem as cores e a essência do San Lorenzo: "Vocês representam a Argentina e o futebol da América do Sul, mas o que importa mais é que estão no San Lorenzo". Ele não tematiza o favoritismo do Real ou o caráter de franco-atirador de sua equipe. Isto é perda de tempo e algo a se deixar a quem aprecia as obviedades. A questão passa pelo como se pode vencer quem de fato é melhor.
Ao exigir concentração máxima de seu elenco, o técnico sabe que nisto pode superar o rival. Na garra também, no foco irrestrito ao jogo e na construção de um respeito bem particular: primeiro é preciso considerar a grandeza do outro para fragmentá-la, depois. "Eis o potencial do gigante, qual é o nosso?"
A lembrança de todos passa pelo partidaço que o Estudiantes fez diante do Barcelona, em 2009. Mas mesmo esta partida serve de lição. "Primeiro, que não somos o Estudiantes, mas o San Lorenzo; segundo que o que entrou para a história foi a vitória dos espanhóis, não a dos argentinos". E serve de lição por mais um detalhe: "do que importou o desempenho do Pincha, se a equipe perdeu o título, quando faltavam dois minutos para o fim?". Bauza fala do erro fatal, que levou o jogo para a prorrogação e na qual Lionel Messi acabou com a felicidade da equipe de Verón.
Discurso de que a equipe se comportou bem ficou para Sabella, assim como ficaria para Bauza, após o término da partida e assim como ficará, caso a história se repita com o San Lorenzo. Porém, é bom deixar claro que o momento de passar a mão na cabeça e aliviar para seus comandados só pode ocorrer após o enfrentamento com o "monstro". Nunca antes ou durante.
Efeito do trabalho de Bauza é que de uma hora a outra todos deixaram o pessimismo de lado e as declarações passaram a dar conta da possibilidade da vitória. O presidente Lammens disse que "Davi pode vencer a Golías". Barrientos, de que "o futebol é o único esporte onde o pobre poder ganhar do rico". E Romagnoli disse que "não vimos ao Marrocos a passeio". Enquanto isso, Bauza diz apenas que o grande rival que ele vê é o conjunto da Nova Zelândia, que surpreendeu aos africanos.
O Real Madrid vem depois. Trata-se mesmo de um confronto quase impossível para o San Lorenzo. Porém, uma suposta vitória dos argentinos será a prova de que a inteligência de técnico de futebol pode fazer a diferença diante de confrontos tão pouco parelhos.