quarta-feira, 6 de agosto de 2014

G-4 do Brasileirão: quem joga e cria espaços leva vantagem - melhor para Cruzeiro e Flu, pior para o Corinthians

O Cruzeiro empatou com o Botafogo afundado na crise no Maracanã. Resultado aceitável fora de casa que mantém a liderança do Brasileiro. Nem tanto pelo domínio de 59% de posse de bola e 20 finalizações que fizeram de Jefferson o destaque adversário. Era a chance de alcançar a quinta vitória consecutiva e ampliar vantagem no topo.
Mas o time de Marcelo Oliveira fez o que se esperava do melhor do campeonato: propôs o jogo durante toda a partida, buscou soluções para dominar e envolver.
Inicialmente aproveitando a velocidade de Egidio pela esquerda. Quando o Botafogo fechou os flancos com Edílson e Rogério abertos acompanhando os laterais, passou a atacar pelo centro, com os volantes Henrique e Lucas Silva saindo, Everton Ribeiro cortando da direita para dentro e procurando Ricardo Goulart e Marcelo Moreno. Também roubou mais bolas no campo de ataque e criou oportunidades ainda no primeiro tempo que o Botafogo saiu vencendo com gol de Edílson.
OLHO TÁTICO
Quando o Botafogo fechou os lados com Edilson e Rogério voltando, o Cruzeiro adiantou a marcação e passou a atacar pelo centro.
Quando o Botafogo fechou os lados com Edilson e Rogério voltando, o Cruzeiro adiantou a marcação e passou a atacar pelo centro.
Na segunda etapa, avançou ainda mais com Willian e Dagoberto nas vagas de Henrique e Marquinhos. Ocupou o campo de ataque, rodou a bola, movimentou as peças com Everton Ribeiro e Ricardo Goulart articulando. E empatou na bola parada com os zagueiros na área do Bota: toque de Dedé, gol de Leo.
REPRODUÇÃO PFC
Flagrante do Cruzeiro no início do segundo tempo, com formação ofensiva e 8 jogadores no campo de ataque - uma das muitas soluções de Marcelo Oliveira
Flagrante do Cruzeiro no início do segundo tempo, com formação ofensiva e 8 jogadores no campo de ataque - uma das muitas soluções de Marcelo Oliveira
Marcelo Oliveira fez substituição, em tese, mais defensiva: Nilton no lugar de Moreno. O domínio, porém, aumentou com Ricardo Goulart avançado no ataque, Everton Ribeiro no centro e cabeçada de Nilton na trave de Jefferson.
O Cruzeiro não venceu. Mas continua sendo o que mais finaliza no campeonato. Teve boa atuação. E jogar bem é o melhor sinal de que a vitória pode voltar em breve. Eis o ponto. No país em que vigora o discurso "Se quer espetáculo vá ao teatro" ou que valoriza o "time de guerreiros", tentar jogar bom futebol ainda compensa.
Porque o vice-líder também tenta se impor, dentro ou fora de casa. Cristóvão Borges fez ajustes no Fluminense após os 3 a 0 do Criciúma na volta da Copa do Mundo. A formação com Jean e Cícero como volantes e Walter na frente não funcionou. Faltaram mobilidade na frente e solidez atrás.
Sem Diguinho, lesionado, o técnico trouxe Valencia de volta. Não como o terceiro zagueiro dos tempos de Renato Gaúcho, mas um volante que aumenta a combatividade, libera Jean para iniciar a construção das jogadas e protege a última linha defensiva. Que segue jogando avançada, acompanhando os outros setores na compactação.
O Flu continua com a mesma proposta. Sem a bola, jogadores próximos, coordenação no trabalho defensivo, participação de todos na recomposição e na pressão no campo de ataque. Bola roubada na frente, transição rápida e objetividade. Como no segundo gol sobre o Goiás que decidiu o jogo aos 19 minutos do primeiro tempo no mesmo Maracanã: pressão no zagueiro Pedro Henrique, linhas de passe para a saída de bola fechadas. Desarme de Rafael Sóbis, passe de Wagner e toque do volante David contra a própria meta antes da conclusão de Conca.
REPRODUÇÃO PFC
Flagrante do desarme de Sóbis que terminou no segundo gol: pressão no homem da bola e linhas de passe fechadas complicaram zagueiro do Goiás.
Flagrante do desarme de Sóbis que terminou no segundo gol: pressão no homem da bola e linhas de passe fechadas complicaram zagueiro do Goiás.
Argentino que joga como meia central na manutenção do 4-2-3-1 tricolor. Cícero retorna pela direita sem a bola. Mas no ataque a liberdade é total para o quarteto ofensivo. Sóbis fica na frente, mas circula e abre espaços. O Fred nada móvel e dinâmico da Copa do Mundo não tem vaga neste time, a menos que desande a fazer gols. Os meias se procuram para tabelas e triangulações. Ainda abrem os corredores para os laterais Bruno e Carlinhos, responsáveis pela profundidade das ações ofensivas.
Organização defensiva, saída de bola bem planejada. Mas da intermediária adversária para a frente apostando em "caos". Movimentação para bagunçar a retaguarda do rival. Toques rápidos, inversões. Passes certos - índice impressionante de 91,7% de acertos, o maior da competição. Criação de espaços. Assim Conca apareceu na direita para driblar e achar Cícero na área para abrir o placar. Futebol atual. Ou a essência de sempre no esporte.
OLHO TÁTICO
Flu de Cristóvão Borges com linhas compactas, defesa avançada e protegida por Valencia, muita movimentação do quarteto ofensivo.
Flu de Cristóvão Borges com linhas compactas, defesa avançada e protegida por Valencia, muita movimentação do quarteto ofensivo.
Problema para o Corinthians de Mano Menezes. Que espera o adversário ceder as brechas. Se este joga recuado até em casa, como o Coritiba no Couto Pereira, só resta reclamar após o empate sem gols. E mais dois pontos perdidos. Pouco ou quase nada vale a invencibilidade fora de São Paulo.
Se o time pós-Copa é montado para Elias articular e concluir como meia, Petros marcar e atacar e até Ralf aparecer na frente para surpreender a marcação, mas os volantes descem menos nos jogos fora, o que sobra? Time previsível, engessado. Em qualquer desenho tático. O elenco é forte, oferece opções. Falta criatividade em momentos importantes. Em Curitiba também faltou Guerrero como referência na frente.
TRUMEDIA
No clássico contra o Palmeiras na Arena Corinthians, Elias estave mais presente no campo de ataque e foi decisivo.
No clássico contra o Palmeiras na Arena Corinthians, Elias estave mais presente no campo de ataque e foi decisivo. 

TRUMEDIA
Contra o Coritiba no Couto Pereira, o volante corintiano saiu menos e o ataque ficou engessado e previsível.
Contra o Coritiba no Couto Pereira, o volante corintiano saiu pouco, tocou menos na bola e o ataque ficou engessado e previsível.
O pragmatismo de vencer em casa e empatar fora pode dar em título. Mas só se os concorrentes errarem mais. Por enquanto, não basta para superar Flu e Cruzeiro.
Até o inconstante Internacional. Que se ressente da ausência de Aránguiz, volante que é o quarto meia do 4-1-4-1 montado por Abel e, se não for negociado, deve voltar no Gre-nal. O substituto Wellington pode se apresentar no ataque com o chileno, porém não tem a qualidade para concluir ou servir os companheiros. Contra o Santos, apareceu na frente de Aranha, mas acertou a trave.
REPRODUÇÃO PFC
Momento do belo passe de D'Alessandro e a infiltração de Wellington, que não teve a qualidade de Aránguiz para concluir.
Momento do belo passe de D'Alessandro e a infiltração de Wellington, que não teve a qualidade de Aránguiz para concluir.
Apesar do dinamismo de Alex e Alan Patrick e das descidas pela esquerda de Fabrício, o time segue dependendo do talento de D'Alessandro. Partindo da direita para criar espaços. Não tão bem como Cruzeiro e Flu. Melhor que o Corinthians, por enquanto. Mas ainda uma equipe no meio do caminho.
O São Paulo de Muricy Ramalho é outro que tenta jogar. Bola no chão, valorização do talento. Segunda maior posse de bola, time que mais passa. No entanto, falta consistência. Assim como é difícil combinar as características dos principais jogadores - como encaixar Ganso, Kaká e Pato e aproveitar o melhor de cada um? Equação complicada para o treinador, que vê sua equipe se afastar das primeiras colocações.
O Atlético-MG, sem Ronaldinho e com Levir Culpi, é o candidato a "emergente". Com um jogo a menos, ainda buscando afirmação. Mas que aposta na intensidade dos tempos de Cuca com menos ligações diretas e mais organização defensiva. Se Guilherme se adaptar como o meia central do 4-2-3-1 as chances de ascensão aumentam. Com ou sem Jô.
As posições no G-4 do Brasileiro são temporárias. É bem provável que mudem já na próxima rodada. Mas indicam uma tendência; quem tem qualidade e se propõe a jogar leva vantagem. Não por acaso, os dois ataques mais eficientes estão na frente na tabela. Em um campeonato recheado de jogos fraquíssimos e ainda na "ressaca" da surra alemã na Copa do Mundo, não deixa de ser um alento.